quarta-feira, 25 de março de 2009

REFORMAS

por Albano Fonseca

Há apenas uma certeza, para os cidadãos brasileiros, quanto ao Congresso e aos congressistas: que não há certeza nenhuma.

A cada dia, uma surpresa, uma novidade. Uma indecência.

Não há, praticamente, noticias sobre o Congresso ou seus membros que não se refiram a ilegalidades, a impropriedades, a malfeitorias de qualquer ordem ou em qualquer âmbito. São notícias que suplantam de muito, em volume, e em espécie àquelas inerentes à (suposta) raison d’être da instituição.

Nesse quadro abissal, dispara na frente, quer na quantidade, quer na “qualidade” dos despautérios, o Senado da República, filho espúrio, pródigo e supérfluo do Senado monárquico, constituído à feição do inglês, neste exato dia 25 de março, em 1824, quando da outorga da primeira Constituição brasileira.

Não é preciso que os “de fora” falem mal do Senado, não são necessárias investigações de órgãos independentes, o Senado é como um furúnculo que, afinal, incha, fura e a imundície aflora, vem de dentro...

E há, acima de tudo, uma questão de custo/benefício. Quanto mais se assiste, quanto mais se pensa sobre o Senado, quanto mais se toma conhecimento, sobre suas funções, seus atos e práticas, seu custo para o país e o que resulta de seu “trabalho”, mais se conclui que é uma instituição onerosa, improdutiva, negativa e, por conseqüência, DESNECESSÁRIA.

Nem se diga que não é bem assim, que há pontos positivos, que há funções inerentes e exclusivas que devem ser preservadas. Que há parlamentares de qualidade que não participam nem concordam com as mazelas.

Não.

Funções inerentes e exclusivas podem ser atribuídas ao outro órgão, a Câmara dos Deputados, igualmente legislativa, mas com maior representatividade e legitimidade. Com a vantagem, de se estabelecerem apenas quando exigidas - no formato de comissões especiais, por exemplo - e não malbaratando recursos permanente e inutilmente, como ocorre no indigitado Senado.

Mesmo que se venha a exigir uma reforma constitucional.

Quanto aos senadores, de qualquer partido, procedência e antecedentes políticos, profissionais, culturais, sociais, entendo que são “farinha do mesmo saco”, cúmplices e acobertadores solidários, portanto igualmente responsáveis.

A nenhum se poderá atribuir desconhecimento, ignorância, ingenuidade. Ninguém lá é “bonzinho”, ninguém lá é um anjo.

Pode-se dizer o mesmo do funcionalismo de alto nível da “casa”, o que significa dizer da quase totalidade de seus membros, dados os níveis salariais e outras vantagens lá vigentes. As “excelências quase nobiliárquicas” da republica brasileira – que paradoxo! - generosamente lhes outorgaram essas vantagens, sponte propria ou docemente constrangidas por ligações de família e/ou interesses regionais, políticos, econômicos. Há um entranhamento muito forte e auto-identificado, no conceito druckeriano, entre o funcionalismo e os mandatos que é praticamente impossível desvincular um dos outros.

Há muita coisa a justificar juízos depreciativos sobre o Senado e os senadores. Mesmo um desavisado ou pouco informado faria, em um minuto, uma lista extensa das anormalidades conhecidas ou veiculadas pelos meios de comunicação, à quase todos os dias.

Bradam aos céus, também, a desfaçatez, o cinismo, a impudência com que as lideranças e os demais ungidos da República – que desrespeitam dia a dia – explicam, justificam e, até mesmo, alardeiam seus malfeitos, suas irregularidades, seus crimes.

Os senadores, acumpliciados com grande parte do funcionalismo, se constituem atualmente em uma societas sceleris. Associados para delinqüir, praticam crime continuado, razão bastante a justificar uma completa reforma ou, melhor ainda, sua extinção.

(Cabe notar que a medicina e os médicos não curam à doença, curam ao doente. O doente é a República, o Senado é a doença)

Mas sempre há algo a aproveitar, quando se busca bem. É a lição que vem da TV Senado.

A TV Senado é a duplicação desnecessária, perdulário, arrogante e provinciana de um meio que poderia perfeitamente ser compartilhado por todas as esferas da administração pública, como se faz com a Voz do Brasil. A cada qual seria atribuído um canal e a locação de tempo necessária (também seria redundante, é claro, o Senado não tem relevância e devemos acabar com ele o quanto antes seja possível).

A lição é a que a TV Senado permite um vislumbre da indigência moral e intelectual, do desprezo pela coisa pública, do aproveitamento partidário e pessoal, da autopromoção presunçosa, histriônica, grosseira, patética ou mesquinha à custa do Tesouro, sem contrapartida que a justifique.

O que dizer dos tartufos que se sucedem na fogueira de vaidades do palanque eletrônico – mesmo que de parca audiência, como é o caso, afetados e super-maquiados, untuosos, melífluos, pretensiosos, palavrosos, ora metidos a intelectuais, ora grosseiros, agressivos, prepotentes, como o Álvaro Dias, o Mozarildo, o Mão Santa, o Suplicy, o Tião, o Mario Couto e o Arthur Virgílio, o Heráclito, o Demóstenes, o Agripino... e sem adjetivar (precisa?) o Renan, o Sarney, o Wellington, o Papaléo, o Almeida Lima etc.?

Como o buraco é mais em baixo e não se espera que políticos eleitos desconstruam suas próprias mamatas e os seus privilégios, não há mais nada a fazer que não seja a própria cidadania tomar as rédeas às mãos e partir para o corpo a corpo, para o “jogo bruto”, para a ação que, certamente, não será apoiado nem pelo Legislativo, nem pelo Executivo e, menos ainda, pelo Judiciário.

Para isso mesmo veio e se presta a Internet. É por este meio que teremos que nos articular para o debate e a posterior coleta de assinaturas para a proposta de ação de iniciativa popular convocando a uma nova Constituinte dedicada (com os constituintes sendo eleitos exclusivamente para isso), que reformará as instituições da República. Precisamos de um novo Congresso sem o Senado, precisamos de uma nova forma de elegê-lo, precisamos regulamentar os mandatos e as eleições, as reeleições e a quarentena obrigatória depois da reeleição permitida, para os cargos eletivos, a “não comunicação” entre os eleitos para o executivo e o legislativo, precisamos introduzir a impressão do voto na urna eletrônica para constitucionalizá-la devidamente, precisamos, enfim, de tantas coisas que teremos que começar a discutir desde já.

Em novas mensagens, irei detalhando meus pontos de vista sobre os diversos temas levantados. Espero divergência, contradição, argumentos, indicações, até mesmo a contraposição mais veemente e agressiva, espero de coração e mente abertos. Só não espero indiferença.

É o que proponho, que pelo menos tentemos utilizar a força e os meios que temos para evoluir e dar mais qualidade às nossas vidas e às vidas dos demais, especialmente às daqueles a quem amamos.

Postado em 25 de março, 2009

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quarta-feira, 18 de março de 2009

América Latina: La muerte de Che Guevara - Segunda Parte

Foto: Jornal A Tribuna - 11 de outubro, 1967

CONFIMAÇÃO OFICIAL DA MORTE DE GUEVARA
La Paz, 10 – (U.P.I.) – As Forças Armadas anunciaram, hoje, formalmente, a morte de Ernesto “Che” Guevara, revolucionário profissional e antigo homem de confiança de Fidel Castro, durante batalha com patrulhas bolivianas treinadas por especialistas norte-americanos.
Guevara, de 39 anos de idade, foi um dos sete guerrilheiros mortos num choque verificado domingo último.
Guevara morreu comandando um bando guerrilheiro de uns 20 a 25 homens, isolados de grupo similar, em mãos de uma força de 184 “batedores”.

IDENTIFICAÇÃO
A identificação positiva do corpo foi realizada por meios científicos no Valle Grande para onde foram conduzidos para exame os restos dos guerrilheiros mortos – segundo informaram os funcionários.

Jornalistas que viram o corpo no necrotério de Valle Grande disseram que Guevara foi baleado na garganta e na virilha e que suas pernas estavam quase decepadas pelo fogo de metralhadora.

QUATRO CUBANOS
O anúncio diz que quatro dos sete guerrilheiros mortos domingo último eram cubanos, acrescentando que os “batedores” se apossaram do diário de guerra de Guevara, além de armas e equipamento em curso do choque.

O Exército informou que quatro “batedores” morreram e quatro ficaram feridos na luta, descrita como encarniçada e cuja duração foi de várias horas.

ANÚNCIO OFICIAL
O comandante-chefe das Forças Armadas, general Alfredo Ovando, fez em Valle Grande o anúncio oficial da morte de Guevara, que usava o nome entre os guerrilheiros de comandante “Ramon”.

O corpo de Guevara trajava uniforme verde oliva roto e sujo. O rosto estava parcialmente queimado pelo sol e os pés protegidos por mocassinos em mau estado e meias verdes.

Os jornalistas observaram que Guevara perdeu peso.

Houve versões diferentes de como morreu Guevara; uma versão expressou que a morte ocorreu depois do tiroteio de domingo, ao passo que outra indica que ocorreu ontem, depois do interrogatório.

A declaração oficial não esclareceu imediatamente as discrepâncias.

Os jornalistas informaram em Valle Grande que o helicóptero no qual foi transportado o corpo de Guevara esteve a ponto de ser destroçado por populares que queriam arrebatá-lo dos militares. Então o general Ovando interveio pessoalmente.

FIM DA GUERRILHA
Ovando declarou que a morte de Guevara significa que o “aniquilamento” do movimento guerrilheiro na Bolívia, que ao que foi dito, vinha sendo desde março dirigido pelo cubano nascido na Argentina.

Não obstante, Ovando admitiu que outro pequeno grupo de uns “seis comandos” – segundo disse, estava sendo procurado ainda.

O diário de guerra de Guevara, segundo notícias de Valle Grande, foi encontrado em sua mochila, onde também conduzia rações.

Um parágrafo do diário, segundo foi dito, contem este trecho: “Francamente não esperava que o Exército boliviano reagisse como o fez”.

PRIMEIRA IDENTIFICAÇÃO
A primeira identificação positiva de Guevara foi efetuada pelo coronel Joaquim Zenteno Anaya, ex-ministro do Exterior, que comandava a unidade de “batedores” que estabeleceu o contato fatal com Guevara.

Zenteno disse que estava certo de que se tratava de Guevara, devido a que as duas unidades sob seu comando estiveram seguindo muito de perto o cubano, durante muito tempo.

O governo enviou imediatamente por via aérea uma equipe de 22 médicos, seis jornalistas e mais gente, a fim de confirmar a identificação levada a efeito no Valle Grande.

JORNALISTAS CONFIRMARAM
La Paz, 10 – (U.P.I.) – Dois jornalistas bolivianos que tiveram acesso ontem à noite ao corpo do guerrilheiro que pode ser Ernesto “Che” Guevara afirmaram hoje que não têm dúvidas de que se trata do ex-ministro das Indústrias de Cuba.

SILES ZUAZO LAMENTA
Montevidéo, 10 – (U.P.I.) – O ex-presidente boliviano Hernan Siles Zuazo, atualmente exilado no Uruguai, lamentou, hoje, a morte de Ernesto “Che” Guevara, afirmando que lastimava “o desaparecimento da figura mais imaculada da juventude revolucionária do mundo”.

“Caramba” exclamou Siles Zuazo, quando a U.P.I. lhe deu a conhecer as últimas notícias, após o que pediu que lhe fossem lidas por várias vezes notícias recentes.

O ex-presidente boliviano parecia abatido e murmurava repetidamente “caramba”.

“A morte vem estremecendo a minha pátria há tempos”, declarou a seguir. Este não é o momento de analisar os fatores que afetam o dramático processo boliviano. O desaparecimento de Guevara é a desaparição da figura mais imaculada da juventude revolucionária do mundo”.

Siles Zuazo vive no Uruguai desde a queda do ex-presidente do seu país, Victor Paz Estensoro.

PAI NÃO ACREDITA
Buenos Aires, 10 – (U.I.P.) – O pai de Ernesto Guevara declarou hoje não crer ainda que seu filho morreu e que talvez vá a Bolívia para provar o que diz.

Falando com patente agitação, o arquiteto Ernesto Guevara, pai, disse:
“Tudo é uma patranha do governo da Bolívia para evitar que os membros desse país se unam a revolução”.

No que tange ao corpo apontado oficialmente como o de “Che” pelas autoridades bolivianas, seu pai exclamou:
“Não creio que esse homem seja meu filho”.

Guevara pai disse a U.P.I.:
“Meu filho Ernesto está vivo embora não conte para ninguém que se encontra na Bolívia”.
Disse também que à noite falaria com os seus demais filhos em Buenos Aires para estudar as notícias da Bolívia e acrescentou: “Se o governo boliviano insistir em sua versão, veremos a possibilidade de viajar á Bolívia para estarmos seguros.

A notícia da morte de Guevara foi motivo para manchetes tanto dos matutinos quanto dos vespertinos, “La Razon”, jornal de grande circulação, saiu depois do anúncio oficial, com manchete dizendo: “Comoção na América....anunciado oficialmente na Bolívia que “Che” Guevara morreu em combate”.

ÚLTIMAS PALAVRAS
Valle Grande, Bolívia, 10 – (U.P.I.) – “Sou o “Che” Guevara e fracassei”.

Estas foram as últimas palavras pronunciadas pelo famoso guerrilheiro argentino-cubano, ao tomar mortalmente ferido, domingo à tarde, segundo declarações feitas pelo próprio chefe das Forças Armadas bolivianas, general Alfredo Ovando Candia.

O general Ovando fez o relato da forma como morreu Guevara, quase defronte ao seu cadáver, estendido sobre um tanque, na lavanderia do Hospital do Senhor de Malta, nesta pequena localidade do oriente boliviano.

Com um sorriso tenuemente insinuado em seus pálidos lábios, num rito que não podia dizer que se era de ironia ou de cinismo, o cadáver semidesnudo estava coberto apenas por uma túnica verde oliva, uma calça remendada e sem meias.

As autoridades disseram que ontem se injetou formol no cadáver para preservá-lo, mas o inclemente clima tropical não respeitou esta medida e o corpo começava a exalar um forte cheiro odor que tornara ainda mais macabra a cena.

Outros dois cadáveres colocados em mesas improvisadas da mesma sala, pertenciam aos guerrilheiros apelidados de “El Moro” e “El Chino”, mas ninguém lhes dava atenção.

Todos os olhos estavam fixos em Guevara e até mesmo os raios de luz pareciam persegui-lo.
Era visível uma bala no tórax e outra na região inguinal.

SEPULTAMENTO
La Paz, 10 – (U.P.I.) – Informações de fontes chegadas ao Palácio Presidencial indicaram que o primeiro-mandatário, general Renê Barrientos, ordenou que o corpo do guerrilheiro cubano-argentino Ernesto “Che” Guevara seja enterrado em Valle Grande, e não trazido à La Paz, como se havia informado inicialmente.

Segundo os informantes, Barrientos considera que Guevara deve ter funeral como o de qualquer dos outros guerrilheiros que caíram na luta contra as Forças Armadas da Bolívia.

Informantes autorizados chegados ao Palácio Presidencial indicaram que a tarefa de identificação do corpo de Guevara foi realizada da maneira mais minuciosa e seguindo as mais modernas técnicas científicas.

Os mesmos informantes disseram ser possível que as autoridades e o Exército boliviano houvessem contado nesta tarefa com a ajuda de técnicos do Serviço Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA).

Informações anteriores indicavam que um grupo da CIA viajara ontem rumo a Valle Grande.

UMA CICATRIZ
Uma cicatriz na mão esquerda, produzida por um ferimento sofrido em Sierra Maestra, em Cuba, era outro dos pormenores característicos da figura de “Che” Guevara.

SILÊNCIO EM HAVANA
Havana, 10 – (A.F.P.) – A imprensa cubana não fez menção hoje á morte de Ernesto “Che” Guevara. Também em seus boletins locais as rádios nada noticiaram. Uma emissora referiu-se a morte do guerrilheiro num programa para a América Latina, ouvido em Miami.

A Rádio de Havana em suas emissões locais só mencionou uma batalha de seis horas na Bolívia, ao norte de Higueras e insistiu no fato de que o Exército boliviano reconheceu ter tido nove baixas.

DEBRAY NO DIÁRIO DE “CHE”
Valle Grande, 10 – (U.P.I.) – Um dos trechos do diário de “Che” Guevara, lido esta tarde aos jornalistas faz referência ao intelectual francês Regis Debray, que está sendo processado em Camiri, acusado de participação em atividades de guerrilheiras.

“Debray demonstra grande capacidade intelectual, mas é deficiente para a luta”, diz o parágrafo em referência.

Fonte Jornal A Tribuna - 11 de outubro, 1967.

Postado por Paulo Renato Alves
18 de outubro, 2009

terça-feira, 17 de março de 2009

África: Independência do Marrocos

http://www.rabat-maroc.net

PROCLAMADA ONTEM A INDEPENDÊNCIA DE MARROCOS
Foram assinados uma declaração conjunta franco-marroquina e um protocolo anexo que dá a autonomia àquele país em relação de interdependência com a França – O poder legislativo será exercido soberanamente pelo Sultão Mohamed V – O novo Estado terá uma diplomacia e um exército.
Paris, 2 – (A.F.P.) – Foi assinada hoje, às 15,50 horas (GMT), no Quai D’Orsay, pelos senhores Christian Pineau, ministro do Exterior da França e Si Bekkai, primeiro ministro marroquino, a declaração conjunta franco-marroquina proclamando a independência do Marrocos e estabelecendo os laços de interdependência entre os dois países.

DEZ HORAS DE TRABALHO ININTERRUPTO
Paris, 2 – (A.F.P.) – Depois de 10 horas de trabalho ininterrupto, as delegações francesas e marroquinas chegaram a um acordo sobre uma declaração conjunta relativa à independência do Marrocos num sistema de interdependência com a França e sobre um Protocolo anexo definindo a situação do governo marroquino durante o período transitório das negociações. Esses dois documentos foram assinados solenemente hoje no Ministério do Exterior da França.

Essa declaração conjunta fora pedida pela delegação marroquina desde o início das negociações, a 22 de fevereiro último, Si Bekkai, chefe do governo marroquino e presidente da delegação, havia salientado que a independência do Marrocos devia ser solenemente declarada antes das negociações, de maneira que o Marrocos pudesse negociar como Estado soberano e em pé de igualdade com a França – os laços de interdependência a serem estabelecidos entre os dois países.

A delegação marroquina afirmara que a declaração da “Celle St. Cloud” nãe era bastante precisa e que, para que o Marrocos pudesse negociar, necessitaria ter capacidade jurídica para fazê-lo.

Foram necessárias oito sessões de trabalho para que as duas delegações chegassem a um acordo completo. Com efeito, era preciso encontrar uma fórmula que levasse plenamente em conta a posição da França: o governo francês não podia proclamar a ab-rogação do Tratado de Protetorado de 1912. Tal ab-rogação é da competência do Parlamento. Ora, o Parlamento não poderia se pronunciar sobre a ab-rogação do Tratado de Protetorado, senão no dia em que as negociações franco-marroquinas tivessem chegado aos laços de independência.

Finalmente, a redação do Protocolo anexo relativo à situação do governo marroquino durante o governo transitório que se prolongará até a conclusão das negociações, provocou discussões que retardaram a conclusão do acordo.

Esta assinala, pois o fim da primeira fase das negociações franco-marroquinas. A partir da semana próxima, as duas delegações iniciaram a discussão dos laços permanentes de uma interdependência livremente consentida e definida entre a França e o Marrocos.

Os círculos autorizados congratularam-se hoje com a conclusão desse primeiro acordo que permitiu augurar um feliz prosseguimento nas negociações.

O TEXTO DA DECLARAÇÃO CONJUNTA
Paris, 2 – (A.F.P.) – É o seguinte o texto da declaração conjunta franco-marroquina:
“O governo da República Francesa e Sua Majestade, Mohamed V, Sultão do Marrocos, afirmam sua vontade de dar pleno efeito a declaração da “Celle St. Cloud”, de 6 de novembro de 1955.

Verificam que, em virtude da evolução por que passou o Marrocos em seu progresso, o Tratado de Fez, de 30 de março de 1812, já não corresponde às necessidades da vida moderna e já não pode reger as relações franco-marroquinas.

Em conseqüência: o governo da República Francesa confirma solenemente o reconhecimento da independência do Marrocos, o que implica, em particular, numa diplomacia e num exército, assim como na vontade de fazer e de fazer respeitar a integridade do território marroquino, assegurada pelo tratados internacionais.

O governo da República Francesa e Sua Majestade, Mohamed V, Sultão do Marrocos, declararam que as negociações que acabam de ser abertas, em Paris, entre o Marrocos e a França, Estados soberanos e iguais tem por objetivo a conclusão de novos acordos que definirão a interdependência dos dois países, nos terrenos em que possuam interesses comuns, que organizarão assim sua cooperação sobre uma base de liberdade e igualdade, sobretudo em matéria de defesa, de relações exteriores, de economia, e de cultura, e que garantirão os direitos e as liberdades dos franceses estabelecidos no Marrocos e dos marroquinos estabelecidos na França, dentro do respeito à soberania dos dois Estados.

O governo da República Francesa e Sua Majestade, Mohamed V, Sultão do Marrocos convêm em que – conclui a declaração conjunta – enquanto se aguarda a entrada em vigor desses acordos, as novas relações entre França e o Marrocos serão baseadas nos dispositivos do Protocolo anexo à presente declaração.

Publicado no jornal A Tribuna em 3 de março, 1956

Postado por Paulo Renato Alves

18 de março, 2009

La Muerte de "Che" Guevara - Primeira Parte

Foto http://library.thinkquest.org

General boliviano confirma a morte de Guevara

La Paz, 9 – (U.P.) – O comandante da Oitava Divisão, general Juaquim Zenteno, anunciou oficialmente a morte do revolucionário cubano-argentino Ernesto “Che” Guevara.

Zenteno declarou, em Valle Grande, que Guevara tombou no choque ocorrido ontem nas imediações de Higueras. Acrescentou que o corpo foi embalsamado e será conduzido para La Paz.

RUMO A HIGUERAS
O comandante-chefe das Forças Armadas bolivianas, general Alfredo Ovando Candia e o comandante do Exército, general David La Fuente, viajaram esta manhã para a região de Higueras, nos contrafortes orientais dos Andes, onde ocorreu ontem o sério combate de quatro horas, que deixou um saldo de nove mortos e seis feridos.

Embora as fontes oficiais as mantivessem reservadas quanto aos detalhes, tudo indica que Ovando e La Fuente obtiveram informações que lhes permitiram, pelo menos, robustecer a suspeita que “Che” Guevara tinha sido um dos tombados na ação.

O presidente da República, general Renê Barrientos, permaneceu todo o dia em sua residência oficial em continuo contato com a região guerrilheira. Cerca do meio-dia se informou que o avião presidencial estava pronto para uma viagem do primeiro mandatário ao local se este o quisesse.

ESPERADA CONFIRMAÇÃO
Às 16 horas o alto comando das Forças Armadas disse que perturbações atmosféricas dificultavam as comunicações com a região de Valle Grande e que ainda não tinha notícia oficial, a qual era esperada a qualquer momento. A suposição de que o quase legendário “Che” Guevara, médico argentino feito dirigente da revolução cubana e posteriormente transformado em teórico de guerrilhas foi uma das vítimas da batalha travada ontem, esta manhã parece baseada em indícios muito frágeis.

Nenhuma autoridade quis explicar porque razão o comunicado oficial das Forças Armadas dizia que entre as baixas “presumivelmente” estaria Guevara.

GUEVARA ERA "RAMON"
Segundo o despacho de correspondentes da imprensa em Valle Grande, teria declarado que já se havia conseguido estabelecer que um dos cadáveres corresponde a “Ramon”, o nome de guerra sob o qual se supõe atuava “Che”.

Outras informações diziam que “Ramon” era um dos feridos e que estava sendo removido a Valle Grande, enquanto se faziam esforços para comprovar se tratava efetivamente de Guevara.

O coronel Zenteno Anaya, aparentemente, parte da base de que já estava perfeitamente comprovada a identidade entre “Ramon” e Guevara, assim como da certeza de sua morte.

O governo anunciou que amanhã viajará a Valle Grande uma comissão de peritos e técnicos, entre os quais especialistas em datiloscopia, com o objetivo de identificar cabalmente os mortos.

Fonte: Jornal A Tribuna - 10 de outubro, 1967

Postado por Paulo Renato Alves

17 de março, 2009

Espanha - Fim da Guerra Espanhola - Franco no poder

EPÍLOGO DO DRAMA ESPANHOL
Após a mais heróica resistência a antiga capital espanhola foi entregue às tropas nacionalistas pelo Conselho de Defesa – Os membros deste deixaram Madrid pouco antes da entrada dos comandados do general Franco – As vanguardas franquistas tendo à frente soldados italianos, marcharam pelas ruas da cidade sob aclamações da população

Desde novembro de 1936, as tropas nacionalistas bateram em vagas contra as barricadas, as trincheiras, as fortificações que defendiam Madrid. Bateram inutilmente. A capital resistiu bravamente enquanto houve um governo republicano na Espanha. O golpe do coronel Casado contra os restos desse governo republicano haveria fatalmente que redundar na entrega de Madrid. Entrega, aliás, esperada, desde que caíra Barcelona, desde que a Catalunha estava toda nas mãos do general Franco. A queda de Madrid, a rendição da capital, não é, pois, uma vitória militar contra as milícias populares. Ela é, antes, a conseqüência de outras derrotas, do rompimento da frente catalã diante da ofensiva franquista iniciada no Natal. Isto não diminui, absolutamente, o fato de que seja hoje o general Franco, hoje, o governo incontrastável da Espanha. Com a queda de Madri, a fuga dos membros da Junta de Defesa, desaparecem as veleidades da resistência, as contemporizações durante as quais a própria Junta procurou reduzir os seus baluartes à insignificância absoluta. Este fim tão cheio de dramáticas contradições, de trágicas hesitações e desistências, coroa dois anos e cinco meses de luta em defesa da capital. Não houve a “paz honrosa” com que o coronel Casado acenou aos republicanos. As bandeiras que entraram ontem em Madrid foram desfraldadas ao vento da rendição incondicional, depois que a força política do governo foi solapada por um movimento militar interno que desagregou toda a possibilidade de uma resistência mais demorada. Como poderia, nessas condições de impossibilidade de qualquer resistência ser obtida uma “paz honrosa”?

Madrid caiu diante dos imponderáveis de uma situação geral. Não foi vencida.

TÉRMINO DE UM CERCO DE 872 DIAS
Pela primeira vez, em quase três anos, as ruas de Madrid apareceram ontem, à noite, brilhantemente iluminadas

Madrid, 28 (U.F-F.) – A “pequena guerra mundial”, que se prolongou por quase três anos e que ameaçou propagar-se por toda a Europa, terminou, hoje, ao que parece, com a entrada das forças nacionalistas em Madrid, cunhada por cerca de um milhão de sobreviventes do mais terrível assédio dos tempos modernos.

Para completar a conquista territorial somente falta ao general Franco “limpar” a zona em forma de cunha, que se estende para o leste e para o sul, rumo ao Mediterrâneo.

Valência, Jean, Almeria e outras cidades republicanas não se renderam formal e incondicionalmente, mas a resistência, tal como em Madrid, sofreu um colapso e a guerra está próxima do fim que o povo tão ansiosamente desejava.

Os soldados republicanos retiraram-se aos milhares e os respectivos chefes fugiram, indo procurar asilo em portos estrangeiros. O general Miala festejado como o salvador de Madrid, quando os mouros do general Franco fizeram alto às portas da grande capital, em novembro de 1936, que proclamou que aquela cidade seria o túmulo do fascismo, fugiu de Madrid para Valência, de onde ao que se diz, embarcaria em um navio de guerra inglês.

Os primeiros dos 200 mil soldados dos nacionalistas que penetraram na capital, cujas ruas se acham grandemente arruinadas por granadas, o fizeram levando à frente legionários italianos.

A ocupação começou às 11 horas.

Os conquistadores encontraram a cidade coberta de bandeiras brancas, enquanto nas ruas ressoavam os gritos “Viva Franco” e “Arriba Espanha”.

Grupos de habitantes que faziam a saudação fascista aproximaram-se dos nacionalistas pedindo comida.

Na verdade, Madrid já estava cansada da guerra; milhares de pessoas ansiavam por ver-se livre dos bombardeios aéreos e dos canhoneios e pela oportunidade de ganhar o pão de cada dia. Por isso, a rendição incondicional verificou-se sem que tivesse sido disparado um só tiro. Desse modo, terminou-se um cerco rigoroso de 872 dias, estabelecidos pelos nacionalistas em torno da capital republicana.

Dias e noites foram dominados pelo terror, enquanto os aviões de bombardeio e os canhões de exercício sitiante passavam seus mortíferos projéteis sobre mais de um terço daquela cidade.
Os boulevards tão belos foram muitas vezes molhadas pelo sangue de homens, mulheres e crianças.

A fome deixou seu rastro trágico, não admirando, por isso, que grandes grupos de famintos descessem as ruas desejando o fim da guerra e do terror, destruindo barricadas construídas por arame farpado.

Os aviões de guerra do general Franco sobrevoaram a cidade em vôo baixo, fazendo acrobacias.
Por toda a parte se viram abraçados soldados que ficaram fiéis ao governo republicano, a outros que integraram as fileiras franquistas.

A União Rádio transmitia, constantemente, os boletins nacionalistas, anunciando aos madrilenhos que a sua cidade foi libertada.

O locutor da estação disse repetidas vezes:
“A Espanha entrou hoje em Madrid, onde foi recebida de braços abertos. Lembrai-vos da frase segundo a qual Madrid seria convertida no túmulo do fascismo. Pois bem, aqui estamos em Madrid que se converteu no túmulo do comunismo”.

Pela primeira vez, em quase três anos, as ruas de Madrid apareceram esta noite brilhantemente iluminadas e não há mais a recear os vôos de aviões de bombardeio que vinha atacá-la.

Os generais franquistas ora em Madrid, preparam-se para a entrada triunfal do generalíssimo à frente do grosso do seu exército, declararam pelo rádio que será concedido perdão absoluto a todas as pessoas que não tenham cometido crime.

Essa declaração fez com que aumentasse à afluência as ruas da rica cidade.

Todos os chefes políticos, na sua maior parte, que não puderam fugir a tempo, acham-se ocultos na cidade. – Edward de Pury, correspondente


Postado por Paulo Renato Alves
17/03/2009

sexta-feira, 13 de março de 2009

O início da ditadura Somoza

Somoza

POSSE DO NOVO PRESIDENTE DA NICARÁGUA
Após empossado, o Sr. Somoza assinou decretos nomeando vários ministros

Manágua, 1 (U.P.) – Com a promessa de cooperar na manutenção da paz americana, tomou posse hoje posse da presidência da República, o Sr. Somoza, realizando-se a cerimônia em pavilhão especialmente construído para esse fim.

Após a cerimônia de posse, realizou-se uma parada militar ao pé do monte Loma.

O novo presidente da República da Nicarágua prestou juramento ao presidente do Supremo Tribunal Federal na presença dos membros do Congresso, diplomatas, entre eles alguns enviados especiais e uma grande multidão.

Depois de empossado no mais alto cargo da administração do País, o Sr. Somoza assinou diversos decretos nomeando para primeiro ministro o sr. Jeronymo Ramirez; para ministro das Relações Exteriores, o dr. Cordeiro Reis; para ministro da Fazenda, o sr. José Benito Ramirez; para ministro de Obras Públicas, o sr. Ramon Gonzalez; para ministro da Educação, o sr. Lorenzo Guerrero; para ministro da Saúde Pública, o dr. Roberto Gonzalez.

Fonte: Jornal A Tribuna - 02 de janeiro, 1937.

Postado por Paulo Renato Alves

14 de março, 2009

terça-feira, 10 de março de 2009

O Estado e a organização da Cultura ou: a organização e o estado da Cultura*

Um rápido olhar sobre a história recente das políticas públicas de Cultura no Brasil nos levaria, sem muito esforço, as seguintes indagações: 1) Quais as ações que se fazem necessárias para articular e desenvolver nossa produção cultural dentro de um contexto municipal, estadual, nacional? Que papel caberia ao Poder Público em cada uma dessas esferas e no seu conjunto? Quais os modelos de financiamento existentes, seus níveis de eficiência e suas distorções? Considerando a ampla diversidade cultural do País, o que se pretende incentivar e quais os desdobramentos sociais, econômicos, políticos e ideológicos de tais opções?

Essas perguntas parecem ainda sem resposta para os gestores públicos de Cultura no Brasil, extremamente críticos às políticas públicas existentes, porém em boa parte relutantes frente a qualquer mudança significativa de seu curso. É o que podemos observar quando o assunto em pauta é a tão prometida reforma da lei Rouanet, assunto capaz fazer nossos educados gestores perderem a compostura. Afinal, não podemos esquecer que variados interesses e muito dinheiro está em jogo, um jogo até então de resultado previsível onde salvo raras exceções só sobrevivem os produtores públicos e privados mais fortes e influentes.

Desde 2003 o Ministério da Cultura aponta para a realização de mudanças da Rouanet, algo que somente em 2009 parece que vai acontecer. E, se acontecer, terá o Ministério capacidade técnica e organizacional para gerir tais mudanças? Esperamos que a reforma da Rouanet transforme-se em realidade, já que outros importantes projetos do Ministério nos deixam a impressão que ficarão apenas no discurso. Refiro-me ao programa "Mais Cultura" com orçamento anunciado em 4,7 bilhões, mas que em dois anos de atividades e antes do prenúncio de qualquer crise econômica havia recebido apenas pouco mais de 200 milhões.

Outra notícia preocupante é o bloqueio de 78% do orçamento do Ministério até o mês de março. Se será desbloqueado ou haverá cortes, pouco sabemos.Se já não bastassem as desventuras do MinC, o Ministério da Fazenda resolveu também dar sua substancial “contribuição” para o setor cultural. Em manobra ardilosa, o ministro Guido Mantega encaminhou para o Congresso no apagar das luzes de 2008, o projeto de Lei Complementar nº 128, aumentando o percentual de imposto das empresas culturais. Com a conivência e o voto de nossos nobres congressistas, milhares de pequenas empresas culturais correm o risco de se verem obrigadas a passar para a informalidade, de demitirem seus funcionários ou sonegarem seus impostos. O MinC comprometeu-se em reverter essa situação. O setor artístico aguarda atentamente.

E na esfera estadual, como estaria a gestão cultural? Bom, vamos lá: redução de R$ 6 milhões no orçamento da Secretaria; a não previsão de recursos e datas para a realização do já tradicional Prêmio Estímulo de Curta-Metragem, bem como dos editais de Fomento à Dança; diversas Oficinas Culturais Regionais que pouco ou nada interagem com as secretarias municipais de Cultura; o autoritarismo sem subterfúgios na demissão do maestro John Neschling, da OSESP, como também o caráter dissimulado na demissão do jornalista Luiz Nassif, da Fundação Padre Anchieta, são apenas algumas das críticas que incidem publicamente sobre as políticas públicas estaduais da Secretaria.

E o pequeno produtor cultural, como fica nisso tudo? E a reforma da Lei Rouanet, acontecerá de fato? Serão feitas os ajustes necessários para que seja efetivamente democrática? É certo também, que o Minc precisa ter maior poder de gestão e articulação sobre as políticas públicas, e isso inclui além da própria reforma da Rouanet, o aumento de seus recursos orçamentários. Nossos congressistas tão hábeis em nos taxar de impostos teriam a mesma habilidade para melhorar o orçamento do Ministério da Cultura?

Com a aproximação de 2010 e o palanque eleitoral sendo montado, não faltarão críticas de caráter putativo, motivadas por interesses políticos e econômicos. Enquanto produtores culturais gostariamos apenas de um pouco mais de respeito e coerência de nossos gestores públicos e parlamentares federais.

Postado por Paulo Renato Alves e Maria Helena Carvalhaes
Título: Marcos Carvalho e Paulo Renato Alves
10 de março, 2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

África: Independência de Angola: o início de uma guerra civil - Primeira Parte

Manifestações em Lisboa, com a participação de ex-combatentes nas colônias africanas
Fonte: Jornal A Tribuna

ANGOLA JÁ NÃO É MAIS COLÔNIA DE PORTUGAL
Portugal concedeu ontem independência a Angola e deixou que os três movimentos nacionalistas negros que disputam o poder, continuem na sua sangrenta guerra civil no rico território petrolífero, que foi governada por Lisboa durante cinco séculos.

Uma organização guerrilheira apoiada pela União Soviética, o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), anunciou que estava assumindo o poder e declarou o seu líder revolucionário, o poeta Agostinho Neto, de 52 anos de idade, como primeiro presidente da nova nação africana ocidental.

O alto comissário português, o almirante Leonel Cardoso, declarou numa entrevista a imprensa antes de retornar a Lisboa numa fragata, que as tropas portuguesas que ainda se encontravam no território partiram ao anoitecer e que havia transferido o poder para o “povo angolano”.

Duas organizações nacionalistas rivais anunciaram planos para “arrasar” a capital litorânea de Angola e expulsar marxistas que a controlam. Entretanto, a medida que se aproximava o momento da conclusão formal do domínio português, que terminou à meia-noite (20 horas de ontem em Brasília), não se percebia qualquer sinal do tão temido e esperado ataque contra a cidade.

CABINDA
Em troca, informou-se sobre choques entre os dois mil soldados em defesa da MPLA e contingentes do Zaire no enclave de Cabinda, um território rico em petróleo e do qual provém a maior parte da riqueza de Angola, com exportações anuais de 500 milhões de dólares (4,33 bilhões de cruzeiros) de petróleo não refinado.

O presidente do Zaire, Mobuto Sese Seko, apóia politicamente e com armas a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) cujas tropas já se encontram às portas de Luanda. Acredita-se que a FNLA declarará a independência do território unilateralmente e montará sua sede na capital regional de Carmona.

Um terceiro movimento, a União Nacional para a Libertação de Angola (UNITA), anunciou que assumiria o controle do sul do país, produzindo portanto uma fragmentação do território que é 14 vezes maior do que Portugal. Sua população foi estimada em quase seis milhões de habitantes e a maioria do meio milhão de brancos residentes fugiu do país durante as sangrentas lutas dos últimos meses.

ABANDONO?
A posição oficial portuguesa é a de que o que ocorreu após a meia-noite de ontem em Angola, será uma questão estritamente ligada á nova nação. Entretanto, o almirante Cardoso faz um apelo, pedindo a assistência internacional para resolver os problemas políticos e econômicos do território.

Cardoso e as tropas portuguesas que ainda restavam anunciaram que baixaram a bandeira portuguesa pela última vez ao anoitecer, tomando imediatamente após os navios da Marinha que o esperavam no porto e iniciando a travessia de retorno a Lisboa. Cardoso confirmou que não convidou nenhum dos três movimentos rebeldes para a cerimônia de despedida.

O alto chefe naval português e seus assessores pretendem reunir-se já fora das águas territoriais angolanas. O MPLA hasteou sua bandeira no Forte de São Miguel, do qual se descortina quase toda a cidade e parte do Oceano Atlântico que banha a região.

Delegações de Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor e Romênia chegaram para as cerimônias da independência, que são mantidas em segredo pela MPLA por “razões de segurança”.

AMEAÇA
Na semana passada as autoridades ordenaram que se aumentasse o estoque de sangue nos hospitais, colocaram médicos e enfermeiras em alerta e pediram às padarias que elevassem a produção de pão, preparando-se para um ataque da FNLA.

A FNLA e UNITAS tiveram espetaculares vitórias militares com a ajuda de mercenários brancos nos últimos dez dias, conquistando o importante porto meridional de Lobito e localidades vizinhas. Uma unidade blindada dos dois grupos procedentes do sul avança sobre Luanda.

Embora a capital esteja calma, à medida que se aproxima o momento de independência, pelotões de soldados do MPLA mantinham-se em alerta nos estratégicos cruzamentos das avenidas principais e soldados em caminhões patrulhavam o centro e a periferia da cidade.
Fonte: Jornal A Tribuna - 11 de novembro, 1975.

Postado por Paulo Renato Alves
02 de março, 2009.