EPÍLOGO DO DRAMA ESPANHOL
Após a mais heróica resistência a antiga capital espanhola foi entregue às tropas nacionalistas pelo Conselho de Defesa – Os membros deste deixaram Madrid pouco antes da entrada dos comandados do general Franco – As vanguardas franquistas tendo à frente soldados italianos, marcharam pelas ruas da cidade sob aclamações da população
Desde novembro de 1936, as tropas nacionalistas bateram em vagas contra as barricadas, as trincheiras, as fortificações que defendiam Madrid. Bateram inutilmente. A capital resistiu bravamente enquanto houve um governo republicano na Espanha. O golpe do coronel Casado contra os restos desse governo republicano haveria fatalmente que redundar na entrega de Madrid. Entrega, aliás, esperada, desde que caíra Barcelona, desde que a Catalunha estava toda nas mãos do general Franco. A queda de Madrid, a rendição da capital, não é, pois, uma vitória militar contra as milícias populares. Ela é, antes, a conseqüência de outras derrotas, do rompimento da frente catalã diante da ofensiva franquista iniciada no Natal. Isto não diminui, absolutamente, o fato de que seja hoje o general Franco, hoje, o governo incontrastável da Espanha. Com a queda de Madri, a fuga dos membros da Junta de Defesa, desaparecem as veleidades da resistência, as contemporizações durante as quais a própria Junta procurou reduzir os seus baluartes à insignificância absoluta. Este fim tão cheio de dramáticas contradições, de trágicas hesitações e desistências, coroa dois anos e cinco meses de luta em defesa da capital. Não houve a “paz honrosa” com que o coronel Casado acenou aos republicanos. As bandeiras que entraram ontem em Madrid foram desfraldadas ao vento da rendição incondicional, depois que a força política do governo foi solapada por um movimento militar interno que desagregou toda a possibilidade de uma resistência mais demorada. Como poderia, nessas condições de impossibilidade de qualquer resistência ser obtida uma “paz honrosa”?
Madrid caiu diante dos imponderáveis de uma situação geral. Não foi vencida.
TÉRMINO DE UM CERCO DE 872 DIAS
Pela primeira vez, em quase três anos, as ruas de Madrid apareceram ontem, à noite, brilhantemente iluminadas
Madrid, 28 (U.F-F.) – A “pequena guerra mundial”, que se prolongou por quase três anos e que ameaçou propagar-se por toda a Europa, terminou, hoje, ao que parece, com a entrada das forças nacionalistas em Madrid, cunhada por cerca de um milhão de sobreviventes do mais terrível assédio dos tempos modernos.
Para completar a conquista territorial somente falta ao general Franco “limpar” a zona em forma de cunha, que se estende para o leste e para o sul, rumo ao Mediterrâneo.
Valência, Jean, Almeria e outras cidades republicanas não se renderam formal e incondicionalmente, mas a resistência, tal como em Madrid, sofreu um colapso e a guerra está próxima do fim que o povo tão ansiosamente desejava.
Os soldados republicanos retiraram-se aos milhares e os respectivos chefes fugiram, indo procurar asilo em portos estrangeiros. O general Miala festejado como o salvador de Madrid, quando os mouros do general Franco fizeram alto às portas da grande capital, em novembro de 1936, que proclamou que aquela cidade seria o túmulo do fascismo, fugiu de Madrid para Valência, de onde ao que se diz, embarcaria em um navio de guerra inglês.
Os primeiros dos 200 mil soldados dos nacionalistas que penetraram na capital, cujas ruas se acham grandemente arruinadas por granadas, o fizeram levando à frente legionários italianos.
A ocupação começou às 11 horas.
Os conquistadores encontraram a cidade coberta de bandeiras brancas, enquanto nas ruas ressoavam os gritos “Viva Franco” e “Arriba Espanha”.
Grupos de habitantes que faziam a saudação fascista aproximaram-se dos nacionalistas pedindo comida.
Na verdade, Madrid já estava cansada da guerra; milhares de pessoas ansiavam por ver-se livre dos bombardeios aéreos e dos canhoneios e pela oportunidade de ganhar o pão de cada dia. Por isso, a rendição incondicional verificou-se sem que tivesse sido disparado um só tiro. Desse modo, terminou-se um cerco rigoroso de 872 dias, estabelecidos pelos nacionalistas em torno da capital republicana.
Dias e noites foram dominados pelo terror, enquanto os aviões de bombardeio e os canhões de exercício sitiante passavam seus mortíferos projéteis sobre mais de um terço daquela cidade.
Os boulevards tão belos foram muitas vezes molhadas pelo sangue de homens, mulheres e crianças.
A fome deixou seu rastro trágico, não admirando, por isso, que grandes grupos de famintos descessem as ruas desejando o fim da guerra e do terror, destruindo barricadas construídas por arame farpado.
Os aviões de guerra do general Franco sobrevoaram a cidade em vôo baixo, fazendo acrobacias.
Por toda a parte se viram abraçados soldados que ficaram fiéis ao governo republicano, a outros que integraram as fileiras franquistas.
A União Rádio transmitia, constantemente, os boletins nacionalistas, anunciando aos madrilenhos que a sua cidade foi libertada.
O locutor da estação disse repetidas vezes:
“A Espanha entrou hoje em Madrid, onde foi recebida de braços abertos. Lembrai-vos da frase segundo a qual Madrid seria convertida no túmulo do fascismo. Pois bem, aqui estamos em Madrid que se converteu no túmulo do comunismo”.
Pela primeira vez, em quase três anos, as ruas de Madrid apareceram esta noite brilhantemente iluminadas e não há mais a recear os vôos de aviões de bombardeio que vinha atacá-la.
Os generais franquistas ora em Madrid, preparam-se para a entrada triunfal do generalíssimo à frente do grosso do seu exército, declararam pelo rádio que será concedido perdão absoluto a todas as pessoas que não tenham cometido crime.
Essa declaração fez com que aumentasse à afluência as ruas da rica cidade.
Todos os chefes políticos, na sua maior parte, que não puderam fugir a tempo, acham-se ocultos na cidade. – Edward de Pury, correspondente
Postado por Paulo Renato Alves
17/03/2009
Após a mais heróica resistência a antiga capital espanhola foi entregue às tropas nacionalistas pelo Conselho de Defesa – Os membros deste deixaram Madrid pouco antes da entrada dos comandados do general Franco – As vanguardas franquistas tendo à frente soldados italianos, marcharam pelas ruas da cidade sob aclamações da população
Desde novembro de 1936, as tropas nacionalistas bateram em vagas contra as barricadas, as trincheiras, as fortificações que defendiam Madrid. Bateram inutilmente. A capital resistiu bravamente enquanto houve um governo republicano na Espanha. O golpe do coronel Casado contra os restos desse governo republicano haveria fatalmente que redundar na entrega de Madrid. Entrega, aliás, esperada, desde que caíra Barcelona, desde que a Catalunha estava toda nas mãos do general Franco. A queda de Madrid, a rendição da capital, não é, pois, uma vitória militar contra as milícias populares. Ela é, antes, a conseqüência de outras derrotas, do rompimento da frente catalã diante da ofensiva franquista iniciada no Natal. Isto não diminui, absolutamente, o fato de que seja hoje o general Franco, hoje, o governo incontrastável da Espanha. Com a queda de Madri, a fuga dos membros da Junta de Defesa, desaparecem as veleidades da resistência, as contemporizações durante as quais a própria Junta procurou reduzir os seus baluartes à insignificância absoluta. Este fim tão cheio de dramáticas contradições, de trágicas hesitações e desistências, coroa dois anos e cinco meses de luta em defesa da capital. Não houve a “paz honrosa” com que o coronel Casado acenou aos republicanos. As bandeiras que entraram ontem em Madrid foram desfraldadas ao vento da rendição incondicional, depois que a força política do governo foi solapada por um movimento militar interno que desagregou toda a possibilidade de uma resistência mais demorada. Como poderia, nessas condições de impossibilidade de qualquer resistência ser obtida uma “paz honrosa”?
Madrid caiu diante dos imponderáveis de uma situação geral. Não foi vencida.
TÉRMINO DE UM CERCO DE 872 DIAS
Pela primeira vez, em quase três anos, as ruas de Madrid apareceram ontem, à noite, brilhantemente iluminadas
Madrid, 28 (U.F-F.) – A “pequena guerra mundial”, que se prolongou por quase três anos e que ameaçou propagar-se por toda a Europa, terminou, hoje, ao que parece, com a entrada das forças nacionalistas em Madrid, cunhada por cerca de um milhão de sobreviventes do mais terrível assédio dos tempos modernos.
Para completar a conquista territorial somente falta ao general Franco “limpar” a zona em forma de cunha, que se estende para o leste e para o sul, rumo ao Mediterrâneo.
Valência, Jean, Almeria e outras cidades republicanas não se renderam formal e incondicionalmente, mas a resistência, tal como em Madrid, sofreu um colapso e a guerra está próxima do fim que o povo tão ansiosamente desejava.
Os soldados republicanos retiraram-se aos milhares e os respectivos chefes fugiram, indo procurar asilo em portos estrangeiros. O general Miala festejado como o salvador de Madrid, quando os mouros do general Franco fizeram alto às portas da grande capital, em novembro de 1936, que proclamou que aquela cidade seria o túmulo do fascismo, fugiu de Madrid para Valência, de onde ao que se diz, embarcaria em um navio de guerra inglês.
Os primeiros dos 200 mil soldados dos nacionalistas que penetraram na capital, cujas ruas se acham grandemente arruinadas por granadas, o fizeram levando à frente legionários italianos.
A ocupação começou às 11 horas.
Os conquistadores encontraram a cidade coberta de bandeiras brancas, enquanto nas ruas ressoavam os gritos “Viva Franco” e “Arriba Espanha”.
Grupos de habitantes que faziam a saudação fascista aproximaram-se dos nacionalistas pedindo comida.
Na verdade, Madrid já estava cansada da guerra; milhares de pessoas ansiavam por ver-se livre dos bombardeios aéreos e dos canhoneios e pela oportunidade de ganhar o pão de cada dia. Por isso, a rendição incondicional verificou-se sem que tivesse sido disparado um só tiro. Desse modo, terminou-se um cerco rigoroso de 872 dias, estabelecidos pelos nacionalistas em torno da capital republicana.
Dias e noites foram dominados pelo terror, enquanto os aviões de bombardeio e os canhões de exercício sitiante passavam seus mortíferos projéteis sobre mais de um terço daquela cidade.
Os boulevards tão belos foram muitas vezes molhadas pelo sangue de homens, mulheres e crianças.
A fome deixou seu rastro trágico, não admirando, por isso, que grandes grupos de famintos descessem as ruas desejando o fim da guerra e do terror, destruindo barricadas construídas por arame farpado.
Os aviões de guerra do general Franco sobrevoaram a cidade em vôo baixo, fazendo acrobacias.
Por toda a parte se viram abraçados soldados que ficaram fiéis ao governo republicano, a outros que integraram as fileiras franquistas.
A União Rádio transmitia, constantemente, os boletins nacionalistas, anunciando aos madrilenhos que a sua cidade foi libertada.
O locutor da estação disse repetidas vezes:
“A Espanha entrou hoje em Madrid, onde foi recebida de braços abertos. Lembrai-vos da frase segundo a qual Madrid seria convertida no túmulo do fascismo. Pois bem, aqui estamos em Madrid que se converteu no túmulo do comunismo”.
Pela primeira vez, em quase três anos, as ruas de Madrid apareceram esta noite brilhantemente iluminadas e não há mais a recear os vôos de aviões de bombardeio que vinha atacá-la.
Os generais franquistas ora em Madrid, preparam-se para a entrada triunfal do generalíssimo à frente do grosso do seu exército, declararam pelo rádio que será concedido perdão absoluto a todas as pessoas que não tenham cometido crime.
Essa declaração fez com que aumentasse à afluência as ruas da rica cidade.
Todos os chefes políticos, na sua maior parte, que não puderam fugir a tempo, acham-se ocultos na cidade. – Edward de Pury, correspondente
Postado por Paulo Renato Alves
17/03/2009
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