segunda-feira, 2 de março de 2009

África: Independência de Angola: o início de uma guerra civil - Primeira Parte

Manifestações em Lisboa, com a participação de ex-combatentes nas colônias africanas
Fonte: Jornal A Tribuna

ANGOLA JÁ NÃO É MAIS COLÔNIA DE PORTUGAL
Portugal concedeu ontem independência a Angola e deixou que os três movimentos nacionalistas negros que disputam o poder, continuem na sua sangrenta guerra civil no rico território petrolífero, que foi governada por Lisboa durante cinco séculos.

Uma organização guerrilheira apoiada pela União Soviética, o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), anunciou que estava assumindo o poder e declarou o seu líder revolucionário, o poeta Agostinho Neto, de 52 anos de idade, como primeiro presidente da nova nação africana ocidental.

O alto comissário português, o almirante Leonel Cardoso, declarou numa entrevista a imprensa antes de retornar a Lisboa numa fragata, que as tropas portuguesas que ainda se encontravam no território partiram ao anoitecer e que havia transferido o poder para o “povo angolano”.

Duas organizações nacionalistas rivais anunciaram planos para “arrasar” a capital litorânea de Angola e expulsar marxistas que a controlam. Entretanto, a medida que se aproximava o momento da conclusão formal do domínio português, que terminou à meia-noite (20 horas de ontem em Brasília), não se percebia qualquer sinal do tão temido e esperado ataque contra a cidade.

CABINDA
Em troca, informou-se sobre choques entre os dois mil soldados em defesa da MPLA e contingentes do Zaire no enclave de Cabinda, um território rico em petróleo e do qual provém a maior parte da riqueza de Angola, com exportações anuais de 500 milhões de dólares (4,33 bilhões de cruzeiros) de petróleo não refinado.

O presidente do Zaire, Mobuto Sese Seko, apóia politicamente e com armas a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) cujas tropas já se encontram às portas de Luanda. Acredita-se que a FNLA declarará a independência do território unilateralmente e montará sua sede na capital regional de Carmona.

Um terceiro movimento, a União Nacional para a Libertação de Angola (UNITA), anunciou que assumiria o controle do sul do país, produzindo portanto uma fragmentação do território que é 14 vezes maior do que Portugal. Sua população foi estimada em quase seis milhões de habitantes e a maioria do meio milhão de brancos residentes fugiu do país durante as sangrentas lutas dos últimos meses.

ABANDONO?
A posição oficial portuguesa é a de que o que ocorreu após a meia-noite de ontem em Angola, será uma questão estritamente ligada á nova nação. Entretanto, o almirante Cardoso faz um apelo, pedindo a assistência internacional para resolver os problemas políticos e econômicos do território.

Cardoso e as tropas portuguesas que ainda restavam anunciaram que baixaram a bandeira portuguesa pela última vez ao anoitecer, tomando imediatamente após os navios da Marinha que o esperavam no porto e iniciando a travessia de retorno a Lisboa. Cardoso confirmou que não convidou nenhum dos três movimentos rebeldes para a cerimônia de despedida.

O alto chefe naval português e seus assessores pretendem reunir-se já fora das águas territoriais angolanas. O MPLA hasteou sua bandeira no Forte de São Miguel, do qual se descortina quase toda a cidade e parte do Oceano Atlântico que banha a região.

Delegações de Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor e Romênia chegaram para as cerimônias da independência, que são mantidas em segredo pela MPLA por “razões de segurança”.

AMEAÇA
Na semana passada as autoridades ordenaram que se aumentasse o estoque de sangue nos hospitais, colocaram médicos e enfermeiras em alerta e pediram às padarias que elevassem a produção de pão, preparando-se para um ataque da FNLA.

A FNLA e UNITAS tiveram espetaculares vitórias militares com a ajuda de mercenários brancos nos últimos dez dias, conquistando o importante porto meridional de Lobito e localidades vizinhas. Uma unidade blindada dos dois grupos procedentes do sul avança sobre Luanda.

Embora a capital esteja calma, à medida que se aproxima o momento de independência, pelotões de soldados do MPLA mantinham-se em alerta nos estratégicos cruzamentos das avenidas principais e soldados em caminhões patrulhavam o centro e a periferia da cidade.
Fonte: Jornal A Tribuna - 11 de novembro, 1975.

Postado por Paulo Renato Alves
02 de março, 2009.

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