quarta-feira, 18 de março de 2009

América Latina: La muerte de Che Guevara - Segunda Parte

Foto: Jornal A Tribuna - 11 de outubro, 1967

CONFIMAÇÃO OFICIAL DA MORTE DE GUEVARA
La Paz, 10 – (U.P.I.) – As Forças Armadas anunciaram, hoje, formalmente, a morte de Ernesto “Che” Guevara, revolucionário profissional e antigo homem de confiança de Fidel Castro, durante batalha com patrulhas bolivianas treinadas por especialistas norte-americanos.
Guevara, de 39 anos de idade, foi um dos sete guerrilheiros mortos num choque verificado domingo último.
Guevara morreu comandando um bando guerrilheiro de uns 20 a 25 homens, isolados de grupo similar, em mãos de uma força de 184 “batedores”.

IDENTIFICAÇÃO
A identificação positiva do corpo foi realizada por meios científicos no Valle Grande para onde foram conduzidos para exame os restos dos guerrilheiros mortos – segundo informaram os funcionários.

Jornalistas que viram o corpo no necrotério de Valle Grande disseram que Guevara foi baleado na garganta e na virilha e que suas pernas estavam quase decepadas pelo fogo de metralhadora.

QUATRO CUBANOS
O anúncio diz que quatro dos sete guerrilheiros mortos domingo último eram cubanos, acrescentando que os “batedores” se apossaram do diário de guerra de Guevara, além de armas e equipamento em curso do choque.

O Exército informou que quatro “batedores” morreram e quatro ficaram feridos na luta, descrita como encarniçada e cuja duração foi de várias horas.

ANÚNCIO OFICIAL
O comandante-chefe das Forças Armadas, general Alfredo Ovando, fez em Valle Grande o anúncio oficial da morte de Guevara, que usava o nome entre os guerrilheiros de comandante “Ramon”.

O corpo de Guevara trajava uniforme verde oliva roto e sujo. O rosto estava parcialmente queimado pelo sol e os pés protegidos por mocassinos em mau estado e meias verdes.

Os jornalistas observaram que Guevara perdeu peso.

Houve versões diferentes de como morreu Guevara; uma versão expressou que a morte ocorreu depois do tiroteio de domingo, ao passo que outra indica que ocorreu ontem, depois do interrogatório.

A declaração oficial não esclareceu imediatamente as discrepâncias.

Os jornalistas informaram em Valle Grande que o helicóptero no qual foi transportado o corpo de Guevara esteve a ponto de ser destroçado por populares que queriam arrebatá-lo dos militares. Então o general Ovando interveio pessoalmente.

FIM DA GUERRILHA
Ovando declarou que a morte de Guevara significa que o “aniquilamento” do movimento guerrilheiro na Bolívia, que ao que foi dito, vinha sendo desde março dirigido pelo cubano nascido na Argentina.

Não obstante, Ovando admitiu que outro pequeno grupo de uns “seis comandos” – segundo disse, estava sendo procurado ainda.

O diário de guerra de Guevara, segundo notícias de Valle Grande, foi encontrado em sua mochila, onde também conduzia rações.

Um parágrafo do diário, segundo foi dito, contem este trecho: “Francamente não esperava que o Exército boliviano reagisse como o fez”.

PRIMEIRA IDENTIFICAÇÃO
A primeira identificação positiva de Guevara foi efetuada pelo coronel Joaquim Zenteno Anaya, ex-ministro do Exterior, que comandava a unidade de “batedores” que estabeleceu o contato fatal com Guevara.

Zenteno disse que estava certo de que se tratava de Guevara, devido a que as duas unidades sob seu comando estiveram seguindo muito de perto o cubano, durante muito tempo.

O governo enviou imediatamente por via aérea uma equipe de 22 médicos, seis jornalistas e mais gente, a fim de confirmar a identificação levada a efeito no Valle Grande.

JORNALISTAS CONFIRMARAM
La Paz, 10 – (U.P.I.) – Dois jornalistas bolivianos que tiveram acesso ontem à noite ao corpo do guerrilheiro que pode ser Ernesto “Che” Guevara afirmaram hoje que não têm dúvidas de que se trata do ex-ministro das Indústrias de Cuba.

SILES ZUAZO LAMENTA
Montevidéo, 10 – (U.P.I.) – O ex-presidente boliviano Hernan Siles Zuazo, atualmente exilado no Uruguai, lamentou, hoje, a morte de Ernesto “Che” Guevara, afirmando que lastimava “o desaparecimento da figura mais imaculada da juventude revolucionária do mundo”.

“Caramba” exclamou Siles Zuazo, quando a U.P.I. lhe deu a conhecer as últimas notícias, após o que pediu que lhe fossem lidas por várias vezes notícias recentes.

O ex-presidente boliviano parecia abatido e murmurava repetidamente “caramba”.

“A morte vem estremecendo a minha pátria há tempos”, declarou a seguir. Este não é o momento de analisar os fatores que afetam o dramático processo boliviano. O desaparecimento de Guevara é a desaparição da figura mais imaculada da juventude revolucionária do mundo”.

Siles Zuazo vive no Uruguai desde a queda do ex-presidente do seu país, Victor Paz Estensoro.

PAI NÃO ACREDITA
Buenos Aires, 10 – (U.I.P.) – O pai de Ernesto Guevara declarou hoje não crer ainda que seu filho morreu e que talvez vá a Bolívia para provar o que diz.

Falando com patente agitação, o arquiteto Ernesto Guevara, pai, disse:
“Tudo é uma patranha do governo da Bolívia para evitar que os membros desse país se unam a revolução”.

No que tange ao corpo apontado oficialmente como o de “Che” pelas autoridades bolivianas, seu pai exclamou:
“Não creio que esse homem seja meu filho”.

Guevara pai disse a U.P.I.:
“Meu filho Ernesto está vivo embora não conte para ninguém que se encontra na Bolívia”.
Disse também que à noite falaria com os seus demais filhos em Buenos Aires para estudar as notícias da Bolívia e acrescentou: “Se o governo boliviano insistir em sua versão, veremos a possibilidade de viajar á Bolívia para estarmos seguros.

A notícia da morte de Guevara foi motivo para manchetes tanto dos matutinos quanto dos vespertinos, “La Razon”, jornal de grande circulação, saiu depois do anúncio oficial, com manchete dizendo: “Comoção na América....anunciado oficialmente na Bolívia que “Che” Guevara morreu em combate”.

ÚLTIMAS PALAVRAS
Valle Grande, Bolívia, 10 – (U.P.I.) – “Sou o “Che” Guevara e fracassei”.

Estas foram as últimas palavras pronunciadas pelo famoso guerrilheiro argentino-cubano, ao tomar mortalmente ferido, domingo à tarde, segundo declarações feitas pelo próprio chefe das Forças Armadas bolivianas, general Alfredo Ovando Candia.

O general Ovando fez o relato da forma como morreu Guevara, quase defronte ao seu cadáver, estendido sobre um tanque, na lavanderia do Hospital do Senhor de Malta, nesta pequena localidade do oriente boliviano.

Com um sorriso tenuemente insinuado em seus pálidos lábios, num rito que não podia dizer que se era de ironia ou de cinismo, o cadáver semidesnudo estava coberto apenas por uma túnica verde oliva, uma calça remendada e sem meias.

As autoridades disseram que ontem se injetou formol no cadáver para preservá-lo, mas o inclemente clima tropical não respeitou esta medida e o corpo começava a exalar um forte cheiro odor que tornara ainda mais macabra a cena.

Outros dois cadáveres colocados em mesas improvisadas da mesma sala, pertenciam aos guerrilheiros apelidados de “El Moro” e “El Chino”, mas ninguém lhes dava atenção.

Todos os olhos estavam fixos em Guevara e até mesmo os raios de luz pareciam persegui-lo.
Era visível uma bala no tórax e outra na região inguinal.

SEPULTAMENTO
La Paz, 10 – (U.P.I.) – Informações de fontes chegadas ao Palácio Presidencial indicaram que o primeiro-mandatário, general Renê Barrientos, ordenou que o corpo do guerrilheiro cubano-argentino Ernesto “Che” Guevara seja enterrado em Valle Grande, e não trazido à La Paz, como se havia informado inicialmente.

Segundo os informantes, Barrientos considera que Guevara deve ter funeral como o de qualquer dos outros guerrilheiros que caíram na luta contra as Forças Armadas da Bolívia.

Informantes autorizados chegados ao Palácio Presidencial indicaram que a tarefa de identificação do corpo de Guevara foi realizada da maneira mais minuciosa e seguindo as mais modernas técnicas científicas.

Os mesmos informantes disseram ser possível que as autoridades e o Exército boliviano houvessem contado nesta tarefa com a ajuda de técnicos do Serviço Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA).

Informações anteriores indicavam que um grupo da CIA viajara ontem rumo a Valle Grande.

UMA CICATRIZ
Uma cicatriz na mão esquerda, produzida por um ferimento sofrido em Sierra Maestra, em Cuba, era outro dos pormenores característicos da figura de “Che” Guevara.

SILÊNCIO EM HAVANA
Havana, 10 – (A.F.P.) – A imprensa cubana não fez menção hoje á morte de Ernesto “Che” Guevara. Também em seus boletins locais as rádios nada noticiaram. Uma emissora referiu-se a morte do guerrilheiro num programa para a América Latina, ouvido em Miami.

A Rádio de Havana em suas emissões locais só mencionou uma batalha de seis horas na Bolívia, ao norte de Higueras e insistiu no fato de que o Exército boliviano reconheceu ter tido nove baixas.

DEBRAY NO DIÁRIO DE “CHE”
Valle Grande, 10 – (U.P.I.) – Um dos trechos do diário de “Che” Guevara, lido esta tarde aos jornalistas faz referência ao intelectual francês Regis Debray, que está sendo processado em Camiri, acusado de participação em atividades de guerrilheiras.

“Debray demonstra grande capacidade intelectual, mas é deficiente para a luta”, diz o parágrafo em referência.

Fonte Jornal A Tribuna - 11 de outubro, 1967.

Postado por Paulo Renato Alves
18 de outubro, 2009

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