sábado, 28 de fevereiro de 2009

Portugal - Revolução dos Cravos - Primeira Parte

Foto Jornal A Tribuna

CAETANO DEPOSTO, SPINOLA ASSUME
As Forças Armadas de Portugal em protesto contra as guerras que já duram 13 anos em suas colônias africanas e pela falta de liberdades democráticas, sublevaram-se ontem contra o governo do primeiro ministro Marcelo Caetano e, depois de um golpe sem derramamento de sangue, anunciaram que haviam triunfado.

Uma multidão calculada em vários milhares de pessoas assistiu ao último ato de insurreição que durou 12 horas, quando se anunciou pelos alto-falantes instalados no Palácio do Carmo, no centro da cidade, a rendição de Caetano e dos membros do governo. O palácio é um antigo mosteiro que foi convertido em posto de comando da Guarda Nacional Republicana que apoiava Caetano.

“Informamos ao país que o ex-primeiro-ministro Caetano e membros do seu governo se renderam. As Forças Armadas ocuparam o governo”, afirmou uma transmissão dos rebeldes, que anunciaram um programa de democratização e prometeram eleições livres, assegurando que uma Junta Militar governará o país até que se possam realizar eleições.

Porta-vozes oficiais indicaram pela manhã e nas primeiras horas da tarde que o governo estava tentando dominar a situação. Mas não se pode localizar nenhum informante oficial depois que os rebeldes anunciaram seu triunfo. Os rebeldes anunciaram que o presidente e homem forte do país, Américo Thomaz, de 79 anos, estava detido em posto de comando da Polícia Militar.

Os comunicados emitidos pelo movimento militar não indicavam quem dirigia a sublevação. Porém, quando Caetano rendeu-se, os rebeldes revelaram, por meio de alto-falantes, que o poder havia sido entregue ao general Antônio Spínola, o herói das guerras africanas de Portugal, que Caetano afastara-se de seu posto há dois meses, por afirmar que a vitória militar contra os movimentos guerrilheiros era impossível e por pedir reformas democráticas.

O general Spínola atravessou uma multidão de vários milhares de pessoas que o aclamavam para ingressar no Palácio do Carmo e aceitar a rendição de Caetano. A multidão gritava: “Vitória, vitória” e “Liberdade, ganhamos a liberdade”.

O afastamento de Spínola, que ostenta muitas condecorações e foi comandante militar da Guiné Portuguesa, provocou um fracassado golpe militar de jovens oficiais no dia 17 de março. Sua posição contra o governo ele explicou em um livro intitulado “Portugal e o Futuro”, o que o tornou o herói dos opositores ao regime de Caetano-Thomaz, embora Spínola tenha uma ideologia que dista muito de ser liberal no sentido ocidental.

A revolta de ontem começou às 4 horas da manhã, em Lisboa, quando tanques e outros blindados rumaram pela Avenida da Liberdade em direção ao terreiro do Paço, onde está localizada a maioria dos ministérios. Explosões e tiros foram ouvidos na parte central da cidade, quando os rebeldes começaram a eliminar bolsões de resistência das forças leais ao governo de Marcelo Caetano. Testemunhas disseram que diversas pessoas morreram ou foram feridas, mas não há, por ora, nenhuma informação oficial sobre baixas.

Caetano e outros altos funcionários do governo buscaram refúgio no Palácio do Carmo, desafiaram a inteligência rebelde da rendição e tentaram repelir os atacantes. Os revoltosos cercaram o prédio e abriram fogo com metralhadoras, um canhão leve e um tanque. O ataque foi imediatamente repelido.

Entretanto, os rebeldes ressaltaram que tinham dinamite para fazer voar o prédio e poucos minutos depois os funcionários ali refugiados começaram a sair para se render. Então, os alto-falantes colocados no edifício passaram a anunciar que Caetano, que permaneceu no interior do palácio, havia renunciado.

Os rebeldes informaram que estavam “satisfeitos por não ter sido usada a força no palácio”. A transmissão pediu à população que permanecesse em suas casas durante a noite, acrescentando que “esperamos que a situação esteja normalizada dentro de poucas horas”.

Logo após a deposição oficial do antigo governo português, dois homens deixavam o quartel. O general Spínola com a mesma postura de minutos antes, tomava seu carro, e Marcelo Caetano, acompanhado por oficiais rebeldes, era levado preso para outra unidade militar.

Marcelo Caetano e todos os integrantes destacados de seu governo concordaram que deveriam exilar-se incondicionalmente na Ilha da Madeira. A agência de notícias oficial – ANI – informou que o ex-primeiro-ministro e vários de seus auxiliares diretos partiram do aeroporto de Lisboa para Madeira ontem à noite. “Foram despedidos com todas as honras militares e entre os que compareceram no aeroporto para dizer-lhes adeus estava o general Spínola”, disse a agência.

Brasil na expectativa
O Governo brasileiro não adotara nenhuma posição relativa aos acontecimentos de Portugal antes de ter uma completa definição da situação gerada pelas forças rebeldes, já que até deixar o Palácio do Planalto, às 18 horas de ontem, os relatórios encaminhados pelo Itamarati ao presidente Ernesto Geisel, ainda não eram conclusivos.

A posição a ser adotada pelo Brasil, entretanto, será realista e pode tender para o rápido reconhecimento da nova situação em Lisboa, desde que um novo governo se constitua pelas forças rebeldes e exerça, de fato, sua autoridade política sobre Portugal. A situação no Palácio do Planalto durante todo o dia foi de apenas muita expectativa.

Fonte: A Tribuna - 26 de abril, 1975


Postado por Paulo Renato Alves

01 de março, 2009

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

2ª Guerra Mundial: A invasão da Polônia

datasnahistoria.blogspot.com
1939 - O exército alemão invade a Polónia sem declaração de guerra e conquista a cidade livre de Dantzig (Gdansk), dando início à Segunda Guerra Mundial.

COMEÇOU A CORRER SANGUE NA EUROPA
Na madrugada de ontem, as tropas alemãs atacaram a Polônia, por diversos pontos, encontrando resistência e sendo travados renhidos combates – Em todo o território polonês assinalaram-se bombardeios aéreos – Os alemães perderam, no decorrer do dia, quase duas dezenas de aviões e a Polônia apenas dois – A luta mais encarniçada desenrola-se na Alta Silésia, com a participação de carros de assaltos – A artilharia polonesa destruiu um trem blindado teutônico – Três ataques a Westerplatte foram repelidos com grandes perdas da parte dos alemães.

A França e a Inglaterra dirigiram um ultimatum ao Reich, exigindo a retirada das tropas germânicas da Polônia, caso contrário entrará em execução o tratado anglo-francês-polonês

ORGANIZAÇÃO DO GABINETE INGLÊS DE GUERRA
Londres, 1 – (H) – Segundo informa a “Press Association” o governo está tomando disposições para organizar o gabinete de Guerra para qual entrarão os srs. Winston Churchill, Anthony Eden, Arthur Greenwood e sir Archibald Sinclair.

CONSIDERADA APÓCRIFA A VERSÃO ALEMÃ SOBRE AS NEGOCIAÇÕES
Londres, 1 – (U.P.) – Urgente – Numa declaração autorizada, irradiada hoje pela “British Broadcasting Corporation” propalou-se que a versão alemã sobre as negociações é inteiramente apócrifa.

PELA 4ª VEZ AS SIRENES DE ALARMA TOCAM EM VARSÓVIA
Varsóvia, 1 – (U.P.) – As sirenes voltaram a soar pela 4ª vez, às 12h40, anunciando a aproximação de aviões inimigos. O público acorreu apressadamente, porém, com calma para os refúgios.

Dois minutos mais tarde, ouvia-se na direção do oeste, o tiroteio das baterias antiaéreas cuja ação foi bem sucedida, visto como os aparelhos atacantes não chegaram à capital.

Às 12h57 terminou o sinal de alarma e a vida voltou à normalidade, mostrando o povo estupenda serenidade a despeito da situação criada, em virtude das hostilidades alemãs.

ATRAVESSARAM A NADO O RENO PARA ENTREGAR-SE AOS SOLDADOS FRANCESES
Strasburg, 1 – (U.P.) – Dez soldados austríacos pertencentes ao Exército alemão atravessaram a nado o Reno, na frente de Huningue, entregando-se aos soldados franceses.

Entretanto, 4 dos referidos militares pereceram afogados.

A REINCORPORAÇÃO DE DANTZIG AO REICH
Pontos principais da lei promulgada pelo marechal Goering
Berlim, 1 – (U.P.) – O marechal Herman n Goering, ministro do Ar do Reich, promulgou, hoje, a lei de reincorporação de Dantzig ao Reich, que consta dos seguintes artigos:

1º - A lei de re-incorporação da Cidade de Dantzig, aprovada em Dantzig, converteu-se em lei do Reich, de conformidade com os seus respectivos artigos

2º - Os cidadãos de Dantzig são considerados cidadãos do Reich

3º - Com exceção do possa ferir a Constituição, continuarão em vigor, em Dantzig, todas as leis anteriores.

4º - Todas as leis alemãs entram em vigor em Dantzig, a partir de 1º janeiro de 1940.

5º - O ministro do Interior do Reich, fica habilitado a tornar efetiva a re-incorporação de Dantzig à Alemanha.
6º - Esta lei entrará em vigor a partir de hoje.

TODOS OS EDIFÍCIOS PÚBLICOS E ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS POLONESAS EM TERRITÓRIO DE DANTZIG FORAM OCUPADOS.
Berlim, 1 – (H) – Às primeira horas da manhã de hoje, todos os edifícios públicos, estações de estrada de ferro polonesas, em território de Dantzig, foram ocupadas.

A ação desenrola-se sem grandes dificuldades. Várias centenas de poloneses, que ainda permaneceram no território da Cidade Livre, retiraram-se. Um só ponto de resistência ainda não foi capturado. É um ponto polonês fortemente barricada e formidavelmente equipado com os mais modernos materiais de armamentos.

Conta-se capturar esta posição ainda esta manhã ou nas primeiras horas da tarde.

OS PREPARATIVOS DE GUERRA NA BÉLGICA OCASIONARAM UMA LAMENTÁVEL OCORRÊNCIA
Bruxelas, 1 – (U.P.) – Os preparativos de guerra, que o momento preocupa todos os dirigentes europeus, já ocasionaram na Bélgica as primeiras vítimas.

O ocorrido que é deveras lamentável, se deu de modo impressionante quando, uma ponte minada pelas autoridades, voou pelos ares ao ser a mina tocada por uma faísca elétrica, no momento em que um trem de passageiros passava sobre a referida ponte, resultando na morte de 10 pessoas e de cerca de 20 feridos.

Trata-se de uma ponte ferroviária do rio Valdenoit, em Liége, sob a qual havia sido colocada uma potente mina para fazê-la voar pelos ares, no caso de possíveis operações bélicas fizessem necessário cortar a passagem sobre esse rio. O trem acidentado é o expresso de Colônia, que caiu totalmente no rio, ao destruir-se a ponta, devido à explosão da mina provocada por uma faísca.

As primeiras informações recebidas de Liége diziam que o acidente havia causado oito mortes e dezesseis feridos, porém, informações posteriores indicam que o número de mortos eleva-se a dez.

A EMOÇÃO CAUSADA EM PORTUGAL
Lisbaoa, 1 – (H) – As notícias que circularam hoje de manhã sobre o bombardeio de cidades polonesas sem declaração de guerra, causaram viva emoção à população, que não oculta o horror que lhe inspiram semelhante ato.
As ruas da cidade estão repletas de gente e os vendedores de jornais percorrem-nas aos grupos, tendo de parar para os compradores ávidos de notícias.

Os jornais da tarde, notadamente o “Diário de Lisboa” e o “República”, deram edições especiais.

O “Diário de Notícias” publicou um suplemento da edição da manhã, com um título de 10 cm ao alto: “Guerra!”.

No largo do Rócio, os jornais colocam em placar as últimas informações, diante das quais estacionam numerosa multidão. A comoção é grande.

Os grupos interpelam-se uns aos outros sobre o fato de só ontem à noite terem sido conhecidas as reivindicações germânicas de Dantzig e já hoje, algumas horas depois, terem sido bombardeadas as populações civis da Polônia.
O fato chegou à população, cuja indignação se revela nos comentários.

A AVIAÇÃO GERMÂNICA NÃO ESTÁ POUPANDO AS POPULAÇÕES CIVIS
Varsóvia, 1 – (U.P.) – Urgente – Um comunicado oficial acusa os alemães de violação do compromisso assumido pelo chanceler Hitler de poupar as populações civis e informa que os aviões germânicos bombardearam Varsóvia, Radom, Pulturk, Kobryn, Modlin e Cracóvia, matando e ferindo muitas pessoas, entre os quais mulheres e crianças, que se encontravam num trem de evacuação.

Acrescenta o comunicado que um trem blindado abateu e capturou três aparelhos alemães de bombardeio.

COMUNICADO POLONÊS SOBRE AS OPERAÇÕES MILITARES
Paris, 1 – (U.P.) – Informa o correspondente do jornal parisiense “Le Temps”, em Varsóvia, que os poloneses abateram um avião na localidade de Otwoch, a 18 milhas de Varsóvia.

Notícias de fonte francesa afirmaram que a cavalaria polonesa empreendeu um vigoroso ataque de flanco contra uma coluna alemã que avançava pela Alta Silésia.

HITLER NÃO NECESSITA DO AUXÍLIO DA ITÁLIA
Roma, 1 – (U.P.) – O chanceler Adolf Hitler enviou um telegrama ao chefe do governo italiano, sr. Benito Mussolini, comunicando que não necessita de auxílio da Itália, na presente crise, e, ao mesmo tempo, agradece ao Duce pelos seus recentes esforços políticos e diplomáticos, no sentido de evitar uma conflagração geral.

Fonte: Jornal A Tribuna, 02 de setembro, 1939.

Postado por Paulo Renato Alves
27 de fevereiro, 2009.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

BRASIL - Lampião: O Átila do Nordeste

Se alguém duvidava da morte de Lampião e de seu grupo, esta exposição percorreu algumas cidades nordestinas.

Anunciada mais uma vez a morte de “Lampeão”.
Num choque com a polícia, no interior de Alagoas, teriam sido abatidos 11 bandoleiros.

Maceió, 28 (H) – O diretor regional dos Correios e Telegraphos teve comunicação do agente de Piranha, informando ter sido recebido naquela cidade a notícia de que em combate travado com um destacamento policial, na fazenda de “Angicos”, distante 11 km de Piranha, foram mortos 11 bandoleiros.

Lampeão foi um dos mortos, segundo a referida notícia.


Fonte: Jornal A Tribuna - 29 de julho, 1938.

O FIM LÓGICO DE UMA VIDA DE BANDITISMO
Virgolino Ferreira, o famigerado “Lampeão” das caatingas do nordeste, acaba de cair sob as balas da polícia alagoana. Pelo menos, é o que telegramas de Maceió afirmam categoricamente, fazendo crer que não se trata de mais um dos muitos “bleffs” , a que já estávamos periodicamente habituados, respeitantes ao desaparecimento do temeroso facínora.

“Lampeão” morreu ou apagou-se, como queiram. Viveu e brilhou mais do que devia, talando, incendiando e assassinando ao seu bel prazer. Vinte anos durou esta sinistra marca de sangue e terror do Átila do cangaço, através das vilas e povoados do “hinterland” nordestino.

Vinte anos de sanha homicida, jamais aplacada nessa sombria figura do sertanejo paranóico, que alternava o manejo do fuzil com o das contas do rosário, entrosando absurdamente atitudes místicas com arrancadas carniceiras.

A lenda consagrou-o. Surgia, inopinadamente, como um ciclone e, onde surgia,ficava o estupro, a desolação, a morte. Mas, antes que o castigo chegasse, ele e seu bando se eclipsaram por caminhos misteriosos, rumo as furnas inacessíveis zombando dos perseguidores. Era sempre assim, era fatalmente assim.

Lenda, pura lenda, afinal. Nunca houve argumento capaz de convencer homens sensatos que semelhante jogo de cabra cega pudesse durar quatro lustros inteiros. Não há acidentes topográficos, por insuperáveis que pareçam, nem astúcia e estratégia do caboclo afeito às hostilidades naturais de sua gleba, que possam resistir por tanto tempo ao cerco constringente da tropa regular.

O cometimento pode ser árduo, e não duvida que o sucesso não sorri depois de revezes e sacrifícios. Mas o esmagamento do mais fraco pelo mais forte é lei eterna. E o mais forte é o poder público. Forte pelo número, pelo ouro, pelos recursos da técnica e da ciência.

Como explicar, então, que Virgolino Ferreira, miraculosamente, durante uma vintena de anos, pudesse arrasar e trucidar, escapando incólume aos pelotões de captura tantas vezes lançadas ao seu encalço?

Segundo as crônicas, a política tal como a compreende a mentalidade do campanário, sintetizado no clássico chefete do vilarejo teria sido a santa milagreira das famosas escápulas de “Lampeão”, solicitado à princípio, para intimidações e violências, necessárias ao triunfo eleitoral e à posse do bastão de mando, ei-lo, em pouco, chefe do cangaço, agindo por conta alheia, ainda, mas também, e, principalmente, por conta própria. Servido aos politiqueiros exigia-lhes em troca, pelo terror, fidelidade, e proteção, uma verdadeira túnica de Nessus de que já não havia fugir. Daí os inúmeros golpes em falso da tropa que o perseguia, ludibriada por pistas manhosamente inculcadas, ou, quando em caminho certo, vendo escapar-se-lhe o bandido, que um aviso a tempo notificara do perigo.

Mas o 10 de novembro, que tanta coisa mudou no país, haveria de ser a condenação à morte de Virgulino. É que desde então se extinguiram os partidos políticos; e os homens que tinham neles a impunidade garantida, mandando e desmandando discricionariamente nos seus feudos, sentiram-se subitamente desamparados e insignificantes.

O temor substituiu a arrogância e a tirania. “Lampeão”, desde aí, era-lhes inútil e comprometedor, não fosse a severidade do novo regime alcançá-los quando a salvadora bandeira de misericórdia da politicagem aldeã já não é mais que uma saudosa lembrança.

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A chaga, que vergonhosamente corroia nossos foros de povo civilizado, encontrará afina, o cautério infalível. E foi o que se viu.

Abandonado a si mesmo, alheio à psicologia criada pelo Estado Novo, “Lampeão” encontrou o fim que de há muito lhe estava reservado e muito se retardará.

Nada mais de fugas rocambolescas e de retiradas estratégicas. Nada de resistência feroz de um tigre acuado no derradeiro fojo, matando e morrendo bravamente, num epílogo grandiloqüente da vida lendária.

Apenas uma toca de caça, miúda, facilmente surpreendida e ingloriamente alvejada de morte...

Fonte: Jornal A Tribuna - 30 de julho, 1938












quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

2ª Guerra Mundial - Brasil - A saída dos japoneses e alemães de Santos

Trem levando japoneses para São Paul0

MAIS DE 1500 SÚDITOS JAPONESES E ALEMÃES FORAM REMOVIDOS, ONTEM, PARA A CAPITAL.
PRATICAMENTE NÃO HÁ MAIS SÚDITOS DO JAPÃO E DA ALEMANHA EM NOSSA CIDADE – CENAS QUE A REPORTAGEM OBSERVOU DURANTE O EMBARQUE – VENDENDO TUDO A QUALQUER PREÇO

APELO DO DELEGADO AUXILIAR DE POLÍCIA

A medida adotada pelo major Vieira de Melo, superintendente da Ordem Pública e Social, quanto à imediata transferência de súditos japoneses e alemães para a capital e subseqüente distribuição para o interior do Estado, processa-se em nossa cidade com plena regularidade, esforçando-se a polícia para a perfeita execução dessa providência inédita no país e que não revela qualquer ato de punição, mas inspirada nos altos interesses de segurança nacional.

A remoção de japoneses e alemães, iniciada anteontem, continuou durante o dia de ontem, quando foram embarcados para a capital nada menos de 1549 pessoas daquelas nacionalidades, predominando, entretanto, o elemento amarelo.

Os alemães foram os primeiros a embarcar e muitos deles preferiram viajar espontaneamente e a expensas próprias.

Praticamente, não há mais alemães na cidade. E os japoneses, em número consideravelmente maior, também já foram expurgados, em sua maioria, havendo, entretanto, milhares deles residentes na larga faixa litorânea que ainda aguardam embarque nos seus centros domiciliares. Todos, porém, já foram notificados de maneira que dentro de poucas horas todo o litoral estará varrido dos súditos nipônicos.

ORDEM E DISCIPLINA
Todos os detalhes de transferência desses estrangeiros decorreram sem atropelo, em ambiente de tranqüilidade e de respeito, não se registrando qualquer incidente. Aliás, os investigadores encarregados do serviço agem ponderadamente, evitando qualquer constrangimento aos estrangeiros.

OS EMBARQUES DE ONTEM
As 10 horas de ontem, em composição especial da Inglesa, foram embarcados para a capital 775 súditos japoneses e alemães, aqueles em número extraordinariamente maior. Seus documentos de identidade são recolhidos pelas autoridades policiais encarregadas de sua custódia, recebendo-os posteriormente, depois do registro na Hospedaria de Imigração.

No período da tarde, nova composição especial conduziu para a capital 774 japoneses, fazendo-se muitos deles acompanhar de suas famílias.

O serviço de embarque decorreu em boa ordem.

QUASE TODOS QUEREM RESIDIR NA CAPITAL
A reportagem teve ocasião de abordar alguns súditos nipônicos um pouco antes do seu embarque. Mostravam-se conformados com a medida policial. Um ancião, antigo morador da Ponta da Praia, comentava, entristecido, que residia em Santos há 25 anos e durante todo esse tempo não havia se afastado da cidade. Atendeu prontamente á instrução para o embarque, conformando-se com a situação, mas receberia com angústia qualquer ordem de fixação de residência fora da capital do Estado.

Aliás, a maioria deles prefere residir em São Paulo.

VENDENDO TUDO A QUALQUER PREÇO
Colhidos de surpresa, pela medida da Ordem Política e Social, numerosos japoneses trataram de se desfazer dos seus bens. No Marapé, na Ponta da Praia, e em Santa Maria, houve verdadeira corrida para a venda de suínos, galináceos, muares, etc... Os japoneses – quase todos proprietários de chácaras – expuseram a venda quase tudo quanto possuíam. Vendiam a qualquer preço, pois não havia tempo para regateamento. Sabe-se de um deles que, para se desfazer de sua chácara em Santa Maria, vendeu três porcos, uma carroça e um muar pela quantia de mil cruzeiros. E galinhas? Essas foram vendidas a três e dois cruzeiros a cabeça.

NA HOSPEDARIA DA IMIGRAÇÃO
São Paulo, 9 (Da Sucursal) – Continuam a chegar a esta capital os súditos japoneses e alemães que residiam em Santos e na região do litoral sul e norte do Estado. Durante o dia de ontem, em dois trens especiais, chegaram ao edifício da Imigração 1549 nipônicos e alemães, aqueles em maior parte.

Após o competente registro, os estrangeiros são conduzidos aos alojamentos, onde há limpeza e conforto. A alimentação é farta e saborosa.

Há cerca de 4000 japoneses e alemães recolhidos à Imigração.

Esses estrangeiros, quando perguntados qual a cidade em que pretendem continuar suas atividades, optam impreterivelmente pela capital. Entretanto, o critério adotado parece ser dos mais justos, porquanto cada pessoa ou família é destinada a uma cidade apropriada para o desenvolvimento da profissão de seu chefe.

Os japoneses em sua maioria vieram acompanhados de suas famílias. Há muitas crianças na Hospedaria da Imigração.

Verificaram-se dois casos de moléstias: o de uma criança atacada de sarampo e de uma velhinha acometida de maleita. Os médicos providenciaram imediatamente o isolamento desses enfermos, os quais estão sendo cuidado com todo o carinho profissional.

REMESSA PARA O INTERIOR DO ESTADO
A remessa de nipônicos e alemães para o interior do Estado começou na noite de hoje. Não serão removidos para cidades onde exista quartel do Exército, sendo, porém, as demais localidades de livre escolha. As famílias que não dispõem de recursos serão encaminhadas aos prefeitos municipais e terão toda a assistência até normalizar a situação particular de cada um.

Fonte: Jornal A Tribuna - 10 de julho, 1943


Postado por Paulo Renato Alves

25 de fevereiro, 2009.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Getúlio Vargas: o julgamento de Gregório Fortunato

Gregório Fortunato, ouve de pé, cabisbaixo, e já sem a arrogância com que se mantivera durante o julgamento, a sentença de sua condenação a 25 anos de reclusão

GREGÓRIO FORTUNATO FOI CONDENADO ONTEM À 25 ANOS DE RECLUSÃO
Apresentando boa fisionomia, o “Anjo Negro” sorriu cinicamente quando ouviu a sentença – Terminou o julgamento às 5 horas.
Rio, 12 – (Asapress) – Era precisamente 4 horas da madrugada de hoje quando o presidente do 1º Tribunal do Júri, dr. Souza Neto, suspendeu os trabalhos do julgamento de Gregório Fortunato, conduzindo os jurados até a sala secreta para que fosse dado o seu “veredictum”. 55 minutos depois, iniciava o presidente do Tribunal a leitura da sentença, que foi ouvida pela grande assistência em meio à intensa expectativa.

Gregório Fortunato havia sido condenado à 25 anos de reclusão, sendo a pena assim distribuída: 11 anos pela participação no homicídio do major Rubens Florentino Vaz; 12 anos pela tentativa de homicídio contra Carlos Lacerda, e dois anos por lesão corporal ao guarda municipal Sálvio Romeiro.

O “Anjo Negro”, aparentando boa fisionomia, sorriu cinicamente quando ouviu a sentença, após o que apertou a mão do seu advogado, dr. Romeiro Neto, que teve uma defesa brilhante na defesa do principal acusado do crime da rua dos Toneleros.

O advogado Romeiro Neto, ao terminar sua oração, foi aplaudido por grande parte da assistência pela maneira como se conduziu e como situou o crime da rua dos Toneleros. Terminou pedindo para seu constituinte a pena somente por tentativa de homicídio contra o jornalista Carlos Lacerda, isentando-o de culpa na morte do major Rubens Vaz e no ferimento do guarda municipal Sálvio Romeiro. Entretanto, o corpo de jurados houve por bem classificar o réu como participante dos três crimes que condenaram Alcindo e Climério a 33 anos de prisão, apenas com uma diferença de 8 anos para menos.

ESPERADA UMA REAÇÃO DO GAL. MENDES DE MORAIS
Rio, 12 – (Asapress) – Os círculos políticos locais estão com sua atenção voltada para a parte do depoimento de Gregório Fortunato em que o general Ângelo Mendes de Morais e o falecido deputado Euvaldo Lodi foram fortemente acusados como principais mandantes do crime da rua dos Toneleros.

Disse Gregório que foi procurado pelo general Mendes de Morais, em Petrópolis, para que fizesse um “serviço” em Carlos Lacerda, pois ele precisava “calar a boca”. Disse mais Gregório que, a princípio, recusara a empreitada, porém, dada a insistência do general aceitou-a, tendo convidado para auxiliá-lo Climério Euribes de Almeira, que, por sua vez, contratou Alcino João do Nascimento.

Desse modo, espera-se, como é natural, uma reação do ex-prefeito carioca, que procurará se defender da acusação que lhe foi imputada pelo “Anjo Negro” do Catete perante um público numeroso e através de quase todas as emissoras do Brasil.

Assim como Mendes de Morais, também a família do extinto deputado Euvaldo Lodi deverá pronunciar-se sobre a declaração de Gregório.

SERÁ PEDIDA A ANULAÇÃO DO JULGAMENTO
Rio, 12 (Asapress) – O sr. Romeiro Neto, que, juntamente com o sr. Carlos de Araújo Lima, funcionou, no Tribunal do Júri, na defesa de Gregório Fortunato, declarou esta manhã a reportagem que vai pedir a anulação do julgamento. Eis, textualmente, o que nos disse s.s: “A tese de defesa foi vitoriosa no Tribunal do Júri, porquanto os jurados reconheceram o excesso de mandato relativo à morte do major Rubens Vaz. Entretanto, dada a redação do quesito referente a agravante da paga, o Júri reconheceu-a por 4 votos, na primeira série alusiva ao atentado contra o jornalista Carlos Lacerda. Apesar disso, o juiz Souza Neto exasperou com o exagero da pena aplicada, que não poderia ultrapassar, na sua totalidade a 20 anos de reclusão.

A deficiência da redação dos quesitos, contra o qual protestei, dará lugar à anulação do julgamento; dentro do prazo legal, interporei, por isso o competente recurso da decisão do Júri e estou certo de que levarei Gregório Fortunato a novo julgamento perante aquele Tribunal.

MANIFESTA-SE CARLOS LACERDA SOBRE A PENA
Rio, 12 (Asapress) – O deputado Carlos Lacerda, falando à reportagem a respeito do resultado do Júri que nesta madrugada condenou Gregório Fortunato a 25 anos de prisão, como autor intelectual do atentado da rua Toneleros, declarou: “Não tenho comentário a fazer, senão dizer o seguinte: o Júri tem demonstrado a sua prudência e firmeza. Há um fato demonstrativo, que decorre da lição que o povo está recebendo: as punições vão diminuindo à medida que sobem os escalões. Gregório menos que Alcino, e os superiores a Gregório, nada”.

“HABEAS CORPUS” PARA ALCINO
Rio, 12 (Especial) – O advogado Humberto Teles impetrou ordem de “habeas corpus” a favor de João Alcino do Nascimento.

Alega o impetrante a incompetência do Tribunal do Júri para julgar os crimes cometidos contra a vida, não repousando no simples evento da morte, pois pode haver esta e o fato de fugir á competência do Tribunal Popular. Argumenta que o “atentado da rua dos Toneleros, nada mais foi que um episódio da luta política. O deputado Carlos Lacerda, na época, desenvolveu campanha contra o governo Vargas, liderando um agrupamento político partidário, com violenta linguagem ao mesmo tempo em que tramava a própria destruição das instituições, arrastando a Nação à agitação e ao desatino, com risco de uma sangrenta convulsão social”. Diz que foi um crime político, negá-lo seria negar a sua própria evidência.

O promotor Araújo Jorge, a propósito do pedido de “habeas corpus” levado ao Tribunal de Justiça pelo advogado de Alcino, comentou: “Esta é uma atitude infantil do advogado, diante dos próprios fundamentos dos autos, pois crime é aquilo que não está escrito na lei penal”.

Sabedor do episódio, o sr. Humberto Teles, patrono de Alcino, declarou numa roda no júri: “O promotor é um tolo; o assunto é jurídico e não está ao seu alcance”.

Fonte: Jornal A Tribuna – 13 de outubro, 1956


Postado por Paulo Renato Alves

24 de fevereiro, 2009

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Revolução Cubana: A invasão da baía dos Porcos

Baía dos Porcos

FIDEL CASTRO ANUNCIA O EXTERMÍNIO DAS FORÇAS REBELDES E PREVÊ AMPLA REPERCUSSÃO DO FEITO NA AMÉRICA LATINA
Os anticastristas contradizem o governo cubano afirmando que a luta continuará na Serra de Escambray – O comunicado – Alusão à “Doutrina Fidelista” e ataques aos Estados Unidos – O Conselho Revolucionário Cubano admite que houve “perdas trágicas” – Será reiniciada a ação dos guerrilheiros – Emissões sucessivas da “Rádio de Escambray” – Jubilo à União Soviética.

Paris – 20 (AFP) – Os invasores de Cuba foram totalmente exterminados, segundo um comunicado oficial assinado por Fidel Castro e publicado às 2h30 da madrugada de hoje, informa um despacho em Havana, da agência “Prensa Latina”, cuja transmissão foi captada em Paris.

Paris – 20 (AFP) – O governo de Fidel Castro anunciou oficialmente que exterminou as forças rebeldes que invadiram o território cubano. A notícia foi captada em Paris, na emissão da agência cubana “Prensa Livre”.

Um comunicado oficial assinado por Fidel Castro foi publicado às 2h30 da madrugada de hoje, anunciou a referida agência.

O comunicado informou que “durante a tarde de ontem, os últimos restos do exército de invasão foram cercados na praia de Giron e alijados para o mar”.

“Uma parte dos mercenários, diz o comunicado, tentou reembarcar com destino ao estrangeiro, mas a força aérea rebelde (castrista) afundou todas as suas barcaças”.

“Alguns dos invasores, acrescenta, internaram-se numa região pantanosa, onde não tem nenhuma possibilidade de escapar”.

“Os invasores abandonaram grande quantidade de armamento e veículos, inclusive vários tanques “Sherman”, todos de fabricação norte-americana”, conclui o comunicado difundido pela agência “Prensa Latina”.

Alijados para o mar
Miami (Flórida), 20 – (AFP) – A rádio cubana anunciou a “vitória total das forças castristas sobre as tropas que invadiram Cuba há 72 horas”, numa emissão que foi captada pela manhã em Miami.

Segundo um comunicado assinado por Fidel Castro, que foi lido pela rádio Cubana, as forças governamentais capturaram várias toneladas de armamentos de fabricação norte-americana, inclusive tanques “Sherman”.

O comunicado precisou que as últimas posições dos anti-castristas foram destruídas ontem, às 23h30, GMT. Em seguida os invasores foram alijados para o mar e tentaram fugir, mas suas barcaças foram destruídas pela aviação castristas.

O comunicado
Paris – 20 (AFP) – “Os invasores foram totalmente exterminados”. Este comunicado oficial de Fidel Castro foi publicado nas primeiras horas da manhã.

“As últimas forças rebeldes – segundo o comunicado – foram confinadas, ontem, na praia de Giron e rechaçadas para o mar. Alguns dos homens fugiram para uma zona pantanosa da qual não poderão escapar. Os invasores abandonaram grande quantidade de armamento, numerosos tanques “Sherman” e outros veículos de fabricação norte-americana”. O comunicado acrescenta que “as tropas mercenárias de invasores passaram menos de 72 horas em território cubano e que suas últimas posições foram destruídas hoje, quinta-feira, às 3 horas (hora francesa), (23 horas, da quarta-feira, em São Paulo).

Esta derrota das forças anti-castristas que desembarcaram segunda-feira terá uma repercussão no mundo todo e, particularmente, na América Latina.

Com efeito, todos os países latino-americanos acompanharam com um interesse apaixonado a evolução deste assunto, que consideram no fundo, como uma prova decisiva.

A doutrina fidelista, que sai reforçada desta prova, representa, aos olhos de bom número de latino-americanos, uma experiência a sacudir a tutela norte-americana, embora tenha sido cometida com excessos.

Por outro lado, manifestações pro-castristas se desenrolaram na maioria dos países da América Latina. Às vezes, elementos pró-castristas enfrentaram outros anti-castristas, o que degenerou em contendas, como na Gautemala, onde houve três mortos e treze feridos. Com freqüência as forças policiais precisaram proteger a Embaixada dos Estados Unidos, para onde se dirigiam os manifestantes.

Em Quito, uma bomba de pequena potencia explodiu atrás da Embaixada dos Estados Unidos, provocando alguns danos materiais.

Em Santiago do Chile, vários milhares de simpatizantes castristas sitiaram a Embaixada norte-americana e a polícia teve de utilizar gases lacrimogêneos e jactos de água para dispersá-los.

Em Bogotá, organizaram-se, simultaneamente, duas manifestações: uma pró-castro e outra anticomunista. As forças policiais, apoiadas por tanques e carros blindados evitaram o choque dos grupos rivais.

No México, numerosas manifestações de estudantes a favor de Fidel Castro desenrolaram-se sem incidentes.

No Brasil, várias personalidades, entre eles o sociólogo Josué de Castro, foram recebidas pelo embaixador dos Estados Unidos, ao qual entregaram uma mensagem ao presidente Kennedy, expressando sua solidariedade para com o líder cubano e pedindo que os Estados Unidos deixassem de apoiar os contra-revolucionários.

Em Washington, existe inquietação pelo curso da situação e o presidente Kennedy convocou uma reunião de gabinete, mas o porta-voz do Governo negou-se a dizer se a reunião está diretamente relacionada com a situação de Cuba.

Perdas trágicas
Nova York, 20 – (AFP) – “Houve perdas trágicas durante o dia de hoje”, admite um comunicado publicado esta noite pelo conselho revolucionário cubano. O mesmo documento especifica que os recentes desembarques, foram erroneamente qualificados de invasões, mas que, na realidade, eram desembarques de material e de reforços para os patriotas que combatem em Cuba.

Pessimismo
Miami, 20 (AFP) – Os comandos anti-castristas que lutam contra as tropas de Fidel Castro desde segunda-feira passada pela manhã parecem que na noite de ontem realizavam os últimos combates antes do fim de sua epopéia.

O pessimismo que reinava anteontem entre os exilados cubanos de Miami foi dissipado na manhã de ontem pelo anúncio do estabelecimento do contato entre os elementos desembarcados na baía de Cochinos e os anti-castristas da Serra de Escambray. Além disso, o contato pela rádio entre as unidades desembarcadas e as organizações de coordenação do continente americano foi restabelecido depois de 36 horas de silêncio na tarde de ontem. Porém, parece que de todas as formas o fim da luta não está longe, pois segundo o porta-vozes oficiais dos exilados cubanos em Miami, a situação piorou durante o dia de hoje para os invasores na província de Matanzas, onde desde o começo do desembarque se desenvolveram os combates mais violentos.

Os outros desembarques executados em diversos pontos da ilha foram evidentemente operações de despistamento e, inclusive, se os referidos porta-vozes anunciam que a situação não é boa em Oriente e Pinar Del Rio parece ser que somente o fazem para se consolar.

Por parte dos anticastristas, não se nega que os comandos desembarcados se encontram submetidos a uma pressão muito potente efetuadas por milícias e tropas governamentais com o apoio de tanques e aviões de fabricação soviética.

Navios na costa
Pensa-se geralmente que certos grupos desembarcados poderiam reembarcar nos navios que os trouxeram, alguns dos quais se encontram ainda diante da costa cubana. Também não é impossível que numerosos dos desembarcados se unam aos maquis que há vários meses combatem em Escambray, no Centro de Cuba, e em Sierra Maestra.

Entretanto não se sabe se a reserva de armas e munições que foram desembarcadas puderam chegar até os guerrilheiros ou se caíram nas mãos dos castristas. Em todo o caso os milicanos castristas permaneceram leais ao primeiro-ministro cubano e a população não apoiou o movimentos segundo parece.

Em Escambray
Miami (Flórida), 20 – (AFP) – O grosso das forças anti-castristas não interveio nas últimas operações militares em Cuba, afirma-se esta manhã nos meios dos exilados cubanos em Miami. “Não somos tão loucos para comprometer todas nossas forças nestes combates”, declarou à agência “France Presse” uma personalidade cubana.

Simultaneamente, a emissora anti-castrista “Rádio Escambray”, que prossegue incansavelmente suas emissões, depois de informar que a emissora se encontra na serra, em meio das forças contrárias a Fidel Castro, declarou que novos elementos se unem sem cessar aos guerrilheiros.

Os meios exilados cubanos são extremamente prudentes no que se refere ao local onde se encontra atualmente Miro Cardona e os restantes dos membros do Conselho Revolucionário Cubano, que, chegado o momento, deve transformar-se, em solo cubano, em governo democrático provisório.

Não se confirmou oficialmente a notícia publicada por uma cadeia de jornais norte-americanos de que o Conselho Revolucionário já se encontra em território cubano.

Júbilo na União Soviética
Moscou, 20 – (AFP) – “Os soviéticos manifestam suas alegrias e mandas felicitações a seus amigos” – anuncia a Rádio de Moscou, acrescentando de que todas as regiões da URSS chegam telegramas e chamadas telefônicas à rádio, solicitando de que enviem mensagens de saudação aos castristas cubanos”.

“O telefone não deixa de soar em nossa redação” – declarou a Rádio de Moscou que concluiu, resumindo assim as mensagens recebidas das fábricas dos “kolkoses” e dos estabelecimentos científicos: “Os soviéticos saúdam o povo de Cuba depois da notável vitória obtida contra as forças de reação, os soviéticos não duvidaram um só momento de que o imperialismo seria derrotado. É impossível vencer a revolução”.

Posição do Iraque
Londres, 20 (AFP) – “O Iraque apóia o povo cubano e denuncia a intervenção armada em Cuba”, declarou esta noite um porta-voz do governo iraquiano.

Posição da Grã-Bretanha
Londres, 20 (AFP) – A Grã-Bretanha é partidária da aprovação da ONU da moção argentina referente a Cuba, especialmente porque menciona a organização dos Estados Americanos, declarou hoje nos Comuns o ministro britânico do Interior.

Asilo do Cardeal
Buenos Aires, 20 (AFP) – Ao que parece, o cardeal Arteaga e dois bispos, cujos nomes não foram revelados, solicitaram asilo na Embaixada Argentina em Havana, soube-se extra-oficialmente em Buenos Aires. A mesma versão explica que a Igreja Católica cubana solicitou também a referida Embaixada o resguardo de documentos e valores da Igreja.

Apesar de que na Chancelaria argentina não se tenha dado qualquer informação a respeito, sabe-se que a referida comunicação lhe foi transmitida pelo embaixador argentino junto ao governo de Cuba, Júlio Amoedo.

Fonte Jornal A Tribuna - 21 de abril, 1961



Postado em 21 de fevereiro


Paulo Renato Alves

Revolução Cubana - Protesto na ONU

RAUL ROA
Raul Roa responsabiliza os EE.UU pelo ataque a Cuba
Nações Unidas, 15 (A.F.P.) - A responsabilidade pelos “atos de vandalismo” cometidos hoje contra Cuba, recai plenamente contra os Estados Unidos – declarou hoje o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Raul Roa. O chanceler cubano falava perante a Comissão Política da ONU que começou às 20 horas (GMT) o exame da queixa cubana contra os Estados Unidos, em conseqüência dos bombardeios que sofreram hoje três pontos diferentes do território cubano.
Acrescentou o ministro que estes ataques de “covarde pirataria internacional” foram realizados pelos Estados Unidos com a ajuda de seus “satélites da América Latina” e dos “traidores cubanos emigrados”.

“Acuso os EE.UU.”
“Acuso os Estados Unidos ante a Comissão Política e a opinião pública mundial – disse – de recorrer à força para resolver suas divergências com um país membro das Nações Unidas”.

Raul Roa fez a leitura da declaração de Fidel Castro sobre os bombardeios desta manhã, declaração que decreta a mobilização geral e dá instruções à delegação cubana na ONU para responsabilizar diretamente os Estados Unidos por estes atos de agressão.

Assinalou que o primeiro ministro cubano lhe havia informado que os bombardeios haviam causado 7 mortes e que “peças de convicção” do ataque foram apresentadas ao corpo diplomático de Havana.

Manchas Solares
Raul Roa salientou também, que os ataques realizados na manhã de hoje, haviam coincidido com manchas solares que impediam as comunicações radiotelefônicas.

Destacou que tal coincidência era significativa pelo cuidado que põem os Serviços Secretos e os Serviços Metereológicos norte-americanos na preparação dos ataques.

Roa aduziu também como prova de cumplicidade dos Estados Unidos, o fato de que um dos chefes dos cubanos emigrados declarou em Nova York, que havia estado em contato com os “pilotos criminosos”.

Fala Stevenson
Depois dessa grave declaração, Adlai Stevenson tomou a palavra em nome dos Estados Unidos, para negar energicamente as acusações do ministro das Relações Exteriores de Cuba “que – disse – são totalmente infundadas”. Mostrou à Comissão uma fotografia de um dos bombardeiros na qual se viam claramente as insígnias da aviação cubana e salientou que os pilotos dos dois aparelhos que aterrissaram na América do Norte pertenciam à aviação cubana.

Recordou Stevenson que o governo dos Estados Unidos proclamou como política oficial sua intenção formal de não intervir militarmente em Cuba.

Em seguida, interveio o delegado da Guatemala para desmentir que as tropas destinadas á invasão de Cuba estivessem recebendo instruções na Guatemala.

Reafirmação
Raul Roa voltou novamente a falar para sustentar que as recentes declarações do presidente Kennedy de que a América do Norte não intervirá nos assuntos de Cuba “não tem nenhuma garantia” e que constitui em realidade “uma cortina de fumaça” atrás da qual os Estados Unidos preparam cabeças de ponte para uma agressão contra Cuba.

O ministro cubano fez uma crítica pessoal de Stevenson, na qual disse que havia convertido em um homem muito diferente do que era antes do advento do presidente Kennedy.

Apoio soviético
Valerian Zorin falou em seguida, em nome da URRS para destacar que os preparativos da agressão e da subversão contra o governo cubano foram feitos em solo dos Estados Unidos com pleno conhecimento das autoridades norte-americanas e que, depois desses preparativos, “as operações militares começaram agora de maneira efetiva”.

“Se a política dos Estados Unidos fosse verdadeiramente contrária à intervenção em Cuba – frisou – teria bastado uma palavra do presidente Kennedy aos contra-revolucionários cubanos, “essa sua escória prestes a vender seu país”, para que se detivessem em seu começo os preparativos de agressão”.

Ressaltou Zorin que “Cuba não está sozinha” e que a “URSS está pronta a prestar-lhe ajuda”.
Afirmou que as Nações Unidas “não devem se contentar com as declarações de Adlai Stevenson, mas que podem e devem adotar medidas para deter, ainda que seja no último minuto, a agressão contra Cuba”.

Depois de uma declaração do delegado do Marrocos, dr. El Mendi Benabud, que salientou a necessidade da unidade e da boa imediações da sede das Nações Unidas e são mantidos à disposição pela polícia montada. Os cubanos levam cartazes onde se lê: “Os Estados Unidos bombardearam nossas cidades” e “quando soldados norte-americanos vão morrer pela “United Fruit Company?”

Os guardas da ONU mantém uma rigorosa vigilância para evitar que alguns manifestantes penetrem na sala da comissão política, misturando-se com o público, vizinhança para preservação da paz e do respeito dos princípios das Nações Unidas, os debates sobre a queixa cubana foram adiados até a próxima segunda-feira, às 15h30 (GMT).

Fonte: Jornal A Tribuna - 16 de abril, 1961.


Postado por Paulo Renato Alves

21 de fevereiro, 2009.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A morte de Getúlio Vargas


Manifestação em São Paulo, após a informação da morte de Getúlio Vargas
Fonte A Tribuna

DEZENOVE DIAS QUE ABALARAM O BRASIL
Rio, 24 – (Especial) – Foram dezenove dias que abalaram o Brasil, criando um clima tremendamente perigoso. E quando o povo brasileiro começava a respirar aliviado, após 48 horas dramáticas, o gesto final do sr. Getúlio Vargas veio novamente sacudi-lo eemocioná-lo terrivelmente.

Da madrugada do dia 5, quando tombou sem vida o major Rubens Florentino Vaz, à madrugada do dia 24, quando se encontrou a solução pacífica e constitucional para a crise político-militar que se prolongava e cada vez mais se agravava, a Nação viveu dias de angustiosa expectativa, temerosa de que a intransigência de uma e o faccionismo de outros se sobrepusessem, ao bom senso e ao patriotismo dos responsáveis pela situação.

O próprio ritmo das atividades econômicas se perturbou, agravando, ainda mais, as dificuldades que vinham assustando o país.

O atentado da rua Toneleros revestiu-se, desde o primeiro instante, de feição nitidamente política. O visado era um jornalista de oposição, excessivo algumas vezes no tom de sua campanha, mas imbuído de inegável objetivo renovador e que, durante meses, vinha zurzindo, com o látego da sua crítica implacável, pessoas da família presidencial e altas figuras da administração. Quis o destino que tombasse morto o major Vaz, herói da FAB, homem bom e homem puro, alheio às lutas políticas, embora solidário, pelo dever do patriotismo, com a luta saneadora desenvolvida pelo diretor de “Tribuna da Imprensa”.

A quem poderia interessar o atentado?

A quem poderia lucrar o silêncio do sr. Carlos Lacerda?

Desde o primeiro instante voltaram-se as atenções para algumas figuras da intimidade do sr. Getúlio Vargas.

Apesar disso, não se chegava a admitir que o crime tivesse sido tramado dentro do próprio Catete e que entre os seus próprios executores se contassem elementos da guarda pessoal do presidente da República.

A morte do major Vaz, no entanto, levantara uma impetuosa onda de revolta entre os seus companheiros de farda.

O Governo, fraco e sem autoridade, cedeu, entregando a orientação das diligências a uma comissão de oficiais da FAB. Suprindo com entusiasmo e dedicação o que lhe faltava em técnica policial, esse grupo de oficiais, auxiliado por centenas de outros que espontaneamente ofereceram a sua colaboração, conseguiu rapidamente descobrir a trama do crime, desde o início do seu preparo à sua execução, pretendendo todos os implicados diretos, e conhecer indícios veementes dos mandantes.

E, à medida que os fatos iam sendo apurados, toda uma torrente de acontecimentos, os mais graves, estarreciam a opinião pública.

A crise política agravou-se consideravelmente à medida as intimidades do Catete eram postas a olho nu; que a influência do famigerado Gregório Fortunato se estadeava para espanto geral; que a Nação tomava conhecimento das curvaturas de certos áulicos ao guarda-costas todo poderoso.

De toda a parte, das colunas da imprensa, da Tribuna da Câmara e do Senado, através do pronunciamento da vida pública, a opinião pública se manifestou de maneira inequívoca pela renúncia do presidente, solução constitucional, que nenhum abalo traria ao funcionamento normal das instituições.

O sr. Getúlio Vargas, porém, manifestou-se irredutível, já, certamente, com a trágica resolução de matar-se, formalizada em seu espírito. Não renunciaria, estava disposto a cumprir o mandato popular que lhe fora outorgado a 3 de outubro de 1950.

Todas as fórmulas que lhe foram sugeridas não encontraram sua acolhida. Enquanto isso, crescia a tensão nas Classes Armadas e se tornava viável, papável o perigo da indisciplina, pela sofreguidão dos elementos jovens, desejosos de uma solução imediata.

O sr. Getúlio Vargas se apegava à aparência do Poder, intransigente na defesa de um princípio de autoridade que lhe escapara desde o dia em que a Polícia fora posta de lado uma função da sua exclusiva competência; desde o momento em que os responsáveis pelo atentado foram buscados dentro do próprio Catete.

O sr. Getúlio Vargas, de ordinário tão lúcido e perspicaz, não quis ver a situação que, no entanto, a todos se apresentava meridianamente clara.

Crendo-se vítima da sanha dos seus adversários, quando foi muito mais de seus próprios erros e dos desmandos de sua camarilha, o presidente da República negou-se até o último instante a aceitar a solução indicada pelos acontecimentos e aconselhada pelos elementos mais responsáveis. Veio, afinal, depois de algumas horas de intensa dramaticidade, o licenciamento do chefe do Governo, solução aceita pelos chefes militares e, três ou quatro horas depois, o gesto trágico de s. excia., inteiramente inesperado e em contradição flagrante com o seu temperamento frio, com a sua comprovada capacidade de dominar as emoções.

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No transcurso desses trágicos 19 dias, que abalaram o Brasil, cumpre destacar o papel patriótico das Forças Armadas, que através de seus chefes naturais, tudo fizeram em prol de uma solução legal, dentro do estrito respeito à Constituição.

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Nas suas sucessivas reuniões, nos seus repetidos comunicados, os chefes do Exército, da Aeronáutica, e da Marinha deixaram sempre patente o firme propósito de levar até o fim as investigações, de punir os culpados, fosse qual fosse a sua categoria, e de ao mesmo tempo, resguardar o regime legal. E cumpriram a sua promessa.

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A respeito do gesto trágico do sr. Getúlio Vargas, é cedo ainda para um pronunciamento. O certo é que seu suicídio traumatizou terrivelmente a opinião pública, envolvendo no mesmo abalo amigos e adversários.

Fonte: Jornal A Tribuna - 25 de agosto, 1954.













Postado por Paulo Renato Alves









20 de fevereiro, 2009.

A criação do Estado de Israel


A Bandeira de Israel foi estabelecida como símbolo em 28 de outubro, de 1948.

PROCLAMADO O ESTADO JUDAICO NA PALESTINA

David Ben-Gurion tornou-se ontem, o chefe do novo governo que, como primeira medida revogou o Livro Branco Britânico de 1939, limitando a imigração de judeus á Terra Santa – Os Estados Unidos reconheceram o Estado de Israel – Ferozes combates entre judeus e árabes irromperam ao sul de Jerusalém – As tropas egípcias receberam ordens para invadir a Palestina.
Tel-Aviv, 14 (R) - Foi proclamado o Estado Judeu na Palestina.

DAVID BEN-GURION É O CHEFE DO NOVO ESTADO JUDEU
Tel-Aviv, 14 (R) – o SR. David Bem-Gurion tornou-se, hoje, o chefe do governo do novo Estado Judeu, hoje proclamado na Palestina, e que terá o nome de “Estado de Israel”.
A proclamação do novo Estado semita foi feito no último dia de vigência do mandato britânico sobre a Palestina.

TEXTO DA PROCLAMAÇÃO
Tel-Aviv, 14 – (A.F.P.) – É o seguinte o texto da proclamação do Conselho Nacional, sobre o estabelecimento do Estado Judeu da Palestina:

“Nós membros do Conselho Nacional, representando o povo judaico da Palestina e o movimento sionista mundial, reunidos em assembléia solene, hoje, data do fim do mandato britânico, proclamamos o Estado Judaico da Palestina, sob o nome de Estado de Israel.

A proclamação do Estado Judaico é feito em virtude dos direitos naturais e históricos do povo judeu e da resolução da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, datada de 29 de novembro, de 1947.

Declaramos que, depois da noite de hoje e até que os organismos constitucionais, cuja eleição deverá ser efetuada antes de outubro de 1948, entrem em função, o Conselho Nacional agirá como Assembléia Provisória do Estado, estando a partir de hoje a Administração Nacional assegurado pelo governo provisório judaico do Estado de Israel.

O Estado de Israel está aberto á imigração dos judeus dispersados em todos os países. Ele garantirá o desenvolvimento do país, para o benefício de todos os seus habitantes.

O regime do novo Estado será fundado sobre a liberdade, a justiça e a paz, de acordo com o ensinamento dos profetas judeus. Nele, os cidadãos desfrutaram de todos os direitos, sem distinção de raça, origem ou sexo.

A salvaguarda dos lugares santos e santuários de todas as religiões será garantida conforme a Carta das Nações Unidas. O Estado de Israel está pronta para colaborar com a O.N.U. na aplicação da resolução de novembro último, e para a realização da união econômica de toda a Palestina.

Pedimos às Nações Unidas que auxiliem o Estado de Israel a obter seu lugar na família de todas as nações e povos. Precisamente no momento em que a sua agressão se desenvolve, fazemos um apelo aos árabes, em nome do Estado de Israel, para que voltem ao caminho da paz, garantindo-lhes que terão direitos iguais aos dos cidadãos judeus e que serão representados em todos os corpos constituídos. Oferecemos, assim, a paz de todos os Estados vizinhos.

Seis milhões de judeus foram perseguidos, exterminados e dispersados pelos nazistas e, em nome do novo Estado, reclamamos para os sobreviventes o direito de se virem se instalar no nosso país, ao qual permaneceram fielmente ligados, depois de milhares de anos de um longo e amargurado exílio.

Diante de Deus, todo poderoso, juramos sobre esta declaração, feita no dia de hoje, na cidade de Tel-Aviv, como mandatários do Estado de Israel”.

Fonte: Jornal A Tribuna - 15 de maio, 1948

Postado em 20 de fevereiro, 2009.

Paulo Renato Alves

A.L. - Nicarágua - A morte de Sandino

Vê-se na fotografia acima, o general Sandino (à direita), sentado ao lado do presidente da Nicarágua, Dr. Juan B. Sacasa, o qual, por ocasião da terminação de um período de guerrilhas que perdurou por cinco ano, deu garantias de vida ao célebre caudilho e seus partidários.
Foto e Texto: Jornal A Tribuna

O REVOLUCIONÁRIO SANDINO FOI MORTO

JUNTAMENTE COM O GENERAL NICARAGUENSE, FORAM ABATIDOS UM SEU IRMÃO E DOIS AMIGOS
A notícia foi comunicada à Associated Press
Nova York – 22 – Comunicam de Manágua a Associated Press que o revolucionário Sandino foi morto, nas proximidades daquela capital, pela Guarda Nacional, juntamente com seu irmão e seus dois amigos. – H.

O presidente da Nicarágua reprova a morte de Sandino
Manágua – 22 – O revolucionário Sandino, seu irmão e dois amigos , foram mortos por membros da Guarda Nacional, perto desta Capital. A este propósito, o presidente fez publicar um comunicado, em que declara, que reprova a morte do General, contrariamente às suas instruções, porque tinha garantido a vida de Sandino e seus partidários durante a sua permanência em Manágua.

O presidente ordenou a abertura imediata de um inquérito para apurar as responsabilidades e reuniu o Congresso, para lhe pedir a concessão de poderes necessários para manter a ordem.
Foi estabelecida a censura. H.

Alguns antecedentes sobre o crime – Os acordos concluídos entre o general Sandino e o presidente Sacasa.
Manágua 22 – Noticia-se que o general Sandino foi morto, no momento em que se encontrava em companhia do seu irmão Sócrates e do general Estrada.

Sandino viera, na semana passada, para combinar definitivamente com o governo as condições de desarmamento de seus partidários.

Acredita-se, geralmente, que uma declaração recentemente feita à imprensa pelo general sobre a inconstitucionalidade da Guarda Nacional, tenha sido a origem do atentado a que sucumbiu.
De acordo com os termos dos acordos ultimamente concluídos entre o presidente Sacasa e Sandino, este era autorizado a guardar sem partidários, durante um ano, para explorar uma propriedade cooperativa no rio Coco.

À noite de ontem, os jornais publicaram uma carta, em que o general Sandino pedia ao presidente da República que fornecesse garantias a si próprio e aos seus homens, bem como perguntava que providências o governo contava tomar para dar estatuto constitucional à Guarda Nacional.

O sr. Sacasa respondera que a Guarda seria reorganizada de acordo com os preceitos constitucionais dentro de 6 meses, e que um delegado seria enviado ao departamento do Norte para proteger a vida de Sandino e dos seus partidários, ao mesmo tempo arrecadar as armas destes.

Reinava de longa data o ódio entre Sandino e os guardas nacionais que haviam sido instruídos pelos fuzileiros navais norte-americanos e se haviam distinguido na guerra impiedosa movida pelos rebeldes.

É interessante recordar que Sandino estivera a princípio ligado por vivos laços de amizade ao presidente Sacasa. Ambos haviam organizado o levante de 1927 e 1928 contra o poder despótico do presidente Alfonso Diaz e, derrubando este, colocaram no poder o presidente Mucada, que os Estados Unidos se recusaram a reconhecer visto se tratar de um governo revolucionário.

Posteriormente a administração de Washington, realizadas as eleições protegidas pelos marinheiros norte-americanos e escolhido para presidente o mesmo Mucada, havia reconhecido o governo nicaragüense.

Sandino, entretanto, sob o regime de Mucada e Sacasa, que sucedeu a este, continuou à frente de seus partidários a lutar contra as tropas estrangeiras que ocupavam o seu país.

Perseguidos pelos marinheiros norte-americanos e pela Guarda Nacional, o general revolucionário acabara por aceitar uma rendição honrosa, a qual se resignara, segundo se afirma, mais vencido pelo pesar da morte da sua mulher do que pela força.

Sandino, extremamente orgulhoso do seu sangue indiano, era considerado uma figura típica de herói em vários países da América Latina, onde o seu nome servia de bandeira a todas as demonstrações contra os Estados Unidos.

Assim que foi conhecida a notícia de sua morte, o governo resolvera aplicar a censura em todo o país.

Foi publicado ao mesmo tempo comunicado oficial que declara que o presidente Sacasa ao contrário das notícias correntes havia prometido garantir a vida de Sandino durante a sua permanência em Manágua.

Confirma-se, ademais, que Sandino assinara com o presidente Sacasa a declaração pela qual reconhecia este o direito de reorganizar a Guarda Nacional e aceitava depor as armas desde que fosse resolvida esta reorganização. – H.

O massacre de Sandino e seus companheiros – Também o pai do caudilho foi morto.
Manágua – 22 – Anuncia-se que Sandino e seus companheiros foram massacrados, porque se recusaram a receber à intimação de se renderem que lhes faziam os guardas nacionais. O pai de Sandino foi igualmente morto. – H.

Fonte: Jornal A Tribuna - 23 de fevereiro, 1934.


Postado por Paulo Renato Alves

20 de fevereiro, 2009.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

2ª Guerra Mundial - A Morte de Mussolini

Várias são as versões sobre a morte de Mussolini. Na versão oficial sobre sua morte, executado por um companheiro de partido quando fugia com as forças aliadas, até hoje são questionadas. A neta de Mussolini, Alessandra Mussolini, recentemente se candidatou a uma cadeira no Parlamento Europeu. Pois é....


FUZILADO EM MILÃO O EX-DITADOR ITALIANO MUSSOLINI
Passados pelas armas 17 chefes fascistas, cujos corpos foram expostos em praça pública. Executados pelos patriotas italianos diversos outros líderes em Varese – Foram feitas mais de três mil prisões – Suicidou-se o general Renato Ricci – A viúva de Benito Mussolini e seus dois filhos menores foram presos.
Roma, 30 (R) – O ex-ditador italiano, Benito Mussolini, foi executado em Milão – informa a rádio local.

Roma, 30 (R) – Anuncia a rádio de Milão que se patriotas italianos fizeram justiças por suas próprias mãos, executando Mussolini e outros líderes fascistas naquela cidade.

Roma, 30 (R) – A rádio de Milão informa que os corpos de Mussolini e de outros altos líderes fascistas, executados pelos patriotas, estão expostos na praça de Loreto naquela cidade.

Roma, 30 (R) – Além de Mussolini foram fuzilados em Milão pelos patriotas italianos, Alessandro Pavolini, secretário do Partido Republicano Fascista, e a amante do “duce”, Clara Petacci.

Roma, 30 (R) – O ditador todo-poderoso da Itália de outros tempos, Benito Mussolini, é hoje um simples cadáver exposto à irritação popular ao que informam em Milão, através da emissora local.

Essa notícia confirma que o corpo de Mussolini, logo após a execução pelos patriotas, foi exposto na praça Loreto.

Os corpos de outros companheiros da sinistra aventura de Mussolini, no regime fascista, foram expostos ao lado de seu chefe e inspirador.

Os cadáveres dos famosos líderes do fascismo constituem um lúgubre espetáculo para os milaneses, mas o júbilo é geral em Milão, porque os patriotas fizeram com que os chefes fascistas retratassem agora todos os seus erros e todos os seus crimes.

Q.G. Aliado na Itália – 30 (R) – Dois correspondentes de guerra britânicos junto ao 5º Exército, que entraram em Milão informam que 17 líderes fascistas haviam sido fuzilados.

Informaram esses correspondentes que viram pessoalmente o corpo de Mussolini, diante do qual desfilavam cidadãos de Milão.

Roma, 30 (R) – A emissora de Milão, controlada por patriotas informou que uma mulher disparou cinco tiros contra o corpo de Benito Mussolini, exposto em Milão, dizendo ao praticar esse gesto: “Cinco tiros, pelos meus cinco filhos assassinados”.

Outras pessoas cuspiram no corpo do ex-“Duce”.

Londres – 30 (R) – Enorme multidão encheu completamente a Plazza Loreto, em Milão, onde se achava em exposição o cadáver de Benito Mussolini, que 23 anos fora ditador da Itália e que conduzira o seu país a mais desastrosa de todas as suas guerras.

Mussolini não estava só. Ao seu lado jaziam os cadáveres de 17 outros fascistas, no mesmo local onde haviam sido fuzilados recentemente 14 patriotas.

Anteriormente, o cadáver do ex-“duce” foi exibido na praça principal da cidade de Como, nas proximidades da fronteira Suiça – segundo revelou a rádio de Berna.

Telegrafando de Roma, o corresponde especial da Reuters declarou que à notícia da execução do ditador italiano seguiu-se uma onda de exaltação na capital da Itália, o que tinha reforçado o sentimento italiano de independência.

A notícia da execução – acrescenta o correspondente – seguiu de perto a mensagem do vice-primeiro ministro Togliatti, comunista, de que não havia necessidade de julgamento para os fascistas de alto coturno, além do estabelecimento de sua identidade. “Eles devem pagar com suas vidas”.

O mundo político italiano espera ver se a política de Togliatti, inspirada por Moscou, guiará e controlará o grande movimento popular do norte da Itália.

Fonte: Jornal A Tribuna – 01 de maio, 1945.
Postado por Paulo Renato Alves
20 de fevereiro, 2009.

2ª Guerra Mundial - A Captura de Mussolini

Fim da 2ª Guerra Mundial - Mussolini preso.


FARINACCI FUZILADO
Mussolini, preso disfarçado de soldado alemão, foi entregue ao Tribunal Popular de Milão. – O adjunto do alto comissário para a punição dos crimes fascistas lavrou mandato de prisão contra o ex-“dulce”.

Roma, 28 – (R) – A emissora livre de Milão anunciou esta noite que Roberto Farinacci, representante de Mussolini junto ao alto comando alemão na Itália e antigo secretário geral do Partido Fascista, aprisionado em Nesso, distrito ao lado de Como, juntamente com o Duce, já foi julgado e fuzilado.

Roma, 28 – (R) – Urgente – A emissora de Berna em irradiações captadas hoje nesta capital informou que o sr. Farinacci, que foi secretário geral do Partido Fascista, foi julgado por uma corte popular numa cidade do norte da Itália e foi executado perante uma multidão em plena praça pública. A emissora de Berna não informou o nome da cidade.

Roma, 28 (R) – A rádio de Milão anuncia que Mussolini estava disfarçado como soldado alemão, quando foi capturado pelos guardas da alfândega, em Lecce, perto de Como.
Mussolini – acrescentou à emissora – viajava sozinho num carro, misturado a uma coluna de cerca de 30 veículos alemães.

Roma, 28 – (R) – Anuncia-se que o adjunto do alto comissário para a punição dos crimes fascistas lavrou mandato de prisão contra Mussolini.

Londres – 28 (UP) – A “Exchange Telegraph” informou de Roma que segundo a emissora dos guerrilheiros, Mussolini foi entregue ao Tribunal Popular de Milão.

Fonte: Jornal A Tribuna - 29 de abril, de 1945

Postado por Paulo Renato Alves
20 de fevereiro, 2009

REVOLUÇÃO CUBANA - A VITÓRIA DO MOVIMENTO 26 DE JULHO - 2ª PARTE

PROIBIDA A VENDA DE ÁLCOOL, HONTEM EM HAVANA
Havana 8 – (AFP) – Em virtude da chegada do chefe rebelde Fidel Castro a capital cubana, foi proibida hoje a venda de álcool em Havana.

Por outro lado, segundo informações obtidas, estão nos cárceres de Havana cêrca de 800 prisioneiros acusados de terem participado dos abusos cometidos pelo governo de Batista.

PRONTOS OS ESTADOS UNIDOS PARA AJUDAR O NOVO GOVERNO CUBANO
Washington – 8 – (AFP) – Os Estados Unidos estão prontos para ajudar o novo governo cubano a reparar os prejuízos causados pela guerra civil, principalmente no domínio dos transportes.
O porta-voz do Departamento de Estado declarou hoje, no curso de sua entrevista à imprensa, que qualquer pedido de ajuda que possa ser enviado a Washington pelo novo governo de Havana seria objeto de um sério exame. Acrescentou que, até o presente, o governo cubano não formulara nenhum pedido de assistência junto ao governo dos Estados Unidos.

O sr. Earl Smith, embaixador dos Estados Unidos em Havana, que viera em consulta a Washington, terça feira e que voltou depois ao seu posto, recomendou ao Departamento de Estado a concessão de uma ajuda técnica dos Estados Unidos ao governo cubano. As recomendações do sr. Smith estão atualmente em estudo. Deduz-se das observações feitas no curso de sua entrevista à imprensa pelo porta-voz do sr. Dulles que o embargo imposto em Washington de envio de armas a Cuba continua em vigor pelo menos no momento.

Mostra-se nos meios norte-americanos oficiais a maior reserva sobre a situação atual da ilha. Interrogado a respeito das informações segundo as quais uma onda de prisões e condenações existia através do país, o porta-voz do Departamento de Estado respondeu que o governo norte-americano não tinha outras informações a esse propósito, a não ser as que foram divulgadas pela imprensa.

De outra parte, acrescentou que não tinha nenhuma informação a respeito das intenções atribuídas por certos órgãos de imprensa ao novo governo cubano de pedir a retirada do embaixador dos Estados Unidos, sr Smith, ao qual as novas autoridades, segundo os referidos despachos, censuraram o fato de ter mantido ligações muito estreitas com o antigo governo Batista.

APREENDIDOS 112 MIL DÓLARES EM BARCOS COM SEUS PROPRIETÁRIOS NOS ESTADOS UNIDOS
Washington 8 – (AFP) – O serviço de imigração dos Estados Unidos anunciou hoje que uma soma de 112 mil dólares havia sido encontrados em dois iates que conduziram de Cuba a Key West um grupo de trinta altas personalidades que pertenceram à administração do ex-presidente Fulgêncio Batista.

Essas pessoas tendo declarado que se tratava de seu dinheiro pessoal, foram autorizadas a conservá-lo – declarou um porta-voz do serviço de imigração.

Este acrescentou que uma soma “insignificante” apenas havia sido encontrada em poder do sr. Rolandi Masferrer, ex- senador e amigo pessoal do presidente Batista, proprietário do jornal “El Tiempo”.

O novo governo de Cuba teria a intenção de pedir aos Estados Unidos a extradição do sr. Masferrer.

Dos 112 mil dólares encontrados pelo serviço de imigração, 85 mil estavam em poder do almirante Arturo Carbonell Fell.

O serviço de imigração precisou que 312 refugiados cubanos haviam chegado aos Estados Unidos desde a queda do governo Batista, 229 deles foram admitidos como visitantes e 83 a título provisório, sob reserva ou inquérito.

MAIS PAÍSES QUE RECONHECERAM O GOVERNO DE CUBA
Havana 8 – (AFP) – Acaba de ser reconhecido aqui que, além dos já divulgados, mais os seguintes países reconheceram o novo governo de Cuba: Guatemala, República Árabe Unida, Holanda, Israel, Alemanha Ocidental, Bélgica, Noruega, Itália, Canadá, Paraguai.

PARTIDÁRIOS DE BATISTA ASILADOS NA EMBAIXADA DO PANAMÁ
Panamá 8 – (AFP) – A “Rádio Aeropuerto” do Panamá anunciou que novos asilados, partidários de Batista, encontram-se na embaixada panamenha, em Cuba: Bernardo Carames, ex-ministro da Justiça; Ciero Almaceda, ex-ministro de Governo; Luiz Gilberto Viana, Orestes Ferrer, e outros.

Anuncia-se, por outro lado, que um avião cubano, que está fazendo coleta de sangue para as vítimas da revolução, chegou a San José da Costa Rica.

Publicado no jornal A Tribuna
09 de janeiro, de 1959.

Postado por Paulo Renato Alves
20 de fevereiro, 2009.

REVOLUÇÃO CUBANA - A VITÓRIA DO MOVIMENTO 26 DE JULHO - 1ª PARTE


FIDEL CASTRO, CHEFE REVOLUCIONÁRIO DE CUBA, ENTROU TRIUNFALMENTE EM HAVANA
Delirantemente aclamado pela população à sua passagem – Falou ao povo da sacada do Palácio Presidencial – Prontos os Estados Unidos a ajudar o novo governo
.
Havana – 8 (AFP) – O chefe vitorioso do movimento insurrecional de 26 de julho, Fidel Castro fez hoje a tarde uma entrada triunfal em Havana.

Após ter atravessado à testa de suas tropas de este a oeste a ilha de Cuba, em toda a sua extensão, o homem cuja ação contra a ditadura de Fulgêncio Batista havia começado em 1953, recebeu hoje, à sua entrada na capital cubana, uma acolhida delirante da parte de centenas de milhares de pessoas, ao longo do caminho que o levou ao Campo Colúmbia.

Foi de pé, em um jipe que Fidel Castro penetrou na cidade. A seu lado se encontrava um de seus principais lugares-tenentes. Camilo Cienfuegos, que desde a vitória do Movimento de 26 de Julho assumiu o comando da praça de Havana.

Caminhões sobre os quais se vêem os soldados barbudos de Fidel Castro seguem o jipe do chefe vencedor.

Parece que toda a população de Havana, se postou no percurso de Fidel Castro seguia com seu exército. A progressão do desfile é extremamente lenta.

No momento mesmo que Fidel Castro penetrava em Havana a fragata “Antônio Maceo”, ancorada na baía da Capital, saudava o líder do movimento insurrecional, que acaba de libertar Cuba, com 21 tiros de canhão, saudação reservada geralmente aos chefes de Estado.

Essa fragata, cuja base é em Santiago de Cuba, havia recentemente se juntado ao movimento de Fidel.

FIDEL CASTRO FALA AO POVO CUBANO
Havana 8 – (AFP) – Fidel Castro, o herói da revolução cubana, retardou de 40 minutos hoje, a marcha vitoriosa de sua caravana, para ir pessoalmente ao Palácio Presidencial e saudar o presidente Manuel Urrubia.

Antes de entrar no edifício, em cujas proximidades estacionavam milhares de pessoas, Fidel Castro decidiu falar a multidão, do terraço do palácio. O chefe do movimento rebelde cubano declarou que se ele decidira penetrar no palácio, do qual jamais gostara, do qual, sem dúvida, nenhuma outra pessoa gosta, disse ele, foi unicamente porque o presidente Urrubia ali estava instalado e porque desejava apresentar-lhe seus cumprimentos. Fidel Castro acrescentou que ia visitar um outro edifício, que não gostava também, (a residência que era utilizada pelo ex-presidente Batista, no Campo Columbia), no qual ele nunca mais viverá.

Terminando seu discurso, Castro declarou que havia sido informado de que seriam necessários mais de mil soldados para abrir-lhe caminho para o seu jipe. Provarei que isso não é necessário, disse ele, e dirigindo-se a multidão pediu-lhe que voluntariamente abrisse uma passagem para que ele pudesse ir sozinho até seu jipe. A multidão afastou-se então, para deixá-lo passar. O chefe rebelde tomou o veículo acompanhado de seu adjunto Camilo Cienfuegos, da esposa do presidente Urribia e do filho deste, enquanto a multidão gritava: “Fidel Castro, Fidel Castro”. Depois em seu jipe, o chefe rebelde retomou a frente de sua coluna motorizada em direção ao Campo Columbia. Ao longo de todo o caminho Fidel Castro foi aclamado por grupos dominicanos que carregavam cartazes reclamando liberdade para seu país.

CASTRO E SUAS TROPAS REPOUSARAM ALGUMAS HORAS EM MATANZA
Havana 8 (AFP) – Fidel Castro e suas tropas vitoriosas, felizes mas fatigadas, famintas e caindo de fome, puderam repousar algumas horas ontem à noite, em Matanzas, antes de sua entrada em Havana.

O correspondente do France Press entrou em Matanzas, quarta-feira, junto com os homens de Fidel Castro, após 30 quilômetros de estrada desde Cólon, que se encontra igualmente na província de Matanzas, onde houve uma demonstração de massa.

Na cidade de Matanzas, a multidão entregou-se a um entusiasmo incontrolado, quando, cerca das 22 horas, a caravana de viaturas das virtudes que trazia as forças rebeldes para diante da antiga prefeitura da cidade colonial, onde pelo menos 6000 pessoas tinham se concentrado.

Fidel Castro foi recebido por longas ovações, que se transformaram em vibrantes aclamações, quando Fidel Castro sorridente, saudou a multidão com a mão, sentado em seu jipe e cercado por sua guarda.

Quando o chefe rebelde subiu ao balcão da Prefeitura, pelo menos cem pombos foram libertados e voaram sobre a multidão.

Durante meia hora o animador da revolução falou sobre as virtudes dessa revolução e reafirmou seu desejo de estabelecer uma “República moderna”.

Antes de seu discurso, Fidel Castro encontrou tempo para conceder uma entrevista exclusiva e importante ao correspondente da “France Presse” no curso do qual ele declarou novamente que não era comunista.

ADVERTÊNCIA A TRUJILLO
Fidel Castro reafirmou, igualmente, no curso dessa entrevista a sua resolução de combater todas as ditaduras e pontuou suas observações com uma advertência ao general Rafael Trujillo, da República Dominicana: “Quando a barba de vosso vizinho queima, é preciso que coloque a vossa de molho”, disse ele espiritualmente.

O chefe rebelde aproveitou para expressar, mais uma vez, o descontentamento que tinha causado a venda de armas à Batista, pela Grã-Bretanha, mas acrescentou: “Como depois, nós capturamos a maior parte dessas armas, sem dar tempo à Batista servir-se delas, estou menos descontente agora do que o estava antes”.

Fidel Castro recusou-se a comentar de um ou outro modo, a notícia segundo a qual pretenderia pedir à Inglaterra chamar de volta o seu embaixador em Havana, Sr, Alfred Fordham. Trata-se de uma questão sobre a qual cabe ao ministro das Relações Exteriores e ao gabinete de decidir”, disse ele.

Do outro lado, Castro afirmou que procuraria ir à Venezuela para expressar seus respeitos ao povo venezuelano, mas não pôde precisar a data dessa eventual viagem.

Em Matanzas, Fidel Castro encontrou a sua irmã Lydia, da qual estava separado há 5 anos. Irmão e irmã se abraçaram no meio da emoção geral.

Outros acontecimentos foram menos alegres. Dois homens foram presos no meio da multidão e conduzidos, com os braços levantados, ao Q.G. dos rebeldes, acusados pelos homens de Castro de “inimigos da revolução”. (a) Buck Canel, enviado especial da “France Presse”.

Matéria Publicada no jornal A Tribuna - 09 de janeiro, de 1959.


Postado por Paulo Renato Alves

19 de fevereiro, de 2009

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Revolução Cubana

Voltando do México, revolucionários cubanos são derrotados no desembarque em Niquero. Parte do grupo conseguiu fugir para Sierra Maestra onde dariam início à Revolução Cubana.



RENDIÇÃO DE LÍDER REBELDE CUBANO – Em Niquero, com sua mãe, que o segura pelo braço, e sua irmã, que caminha do outro lado, Manuel Achavvarria, um dos líderes da revolução cubana contra o govêrno de Fulgêncio Batista, foi fotografado após a rendição, já escoltado por um militar legalista. Achavvarria veste o uniforme dos rebeldes e calça sapatos esporte. (International News Photo)

Publicado no jornal A Tribuna, em 23 de dezembro de 1956.

Postado em 16 de fevereiro, de 2009.

Paulo Renato Alves

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O dia em que Hitler morreu.

HITLER DECLARADO ONTEM OFICIALMENTE MORTO

Berlim, 29 (U P) – Adolf Hitler morreu, por fim, hoje, oficialmente. As certidões de óbito números 29.049 e 29.050 foram as últimas registradas este ano nos livros do Escritório Central de Registro Civil da Alemanha Ocidental.

A de número 29.049 pertence a Eva Braum, amante de Hitler durante vários anos e sua esposa nas últimas horas de vida. A de 29.050 é a do ex-“fuehrer”.

O registro do falecimento de Hitler e Eva Braum demorou quase 12 anos, pois os corpos nunca foram encontrados. Sobreviventes dos últimos dias do III Reich declararam anteriormente que os dois corpos foram cremados depois que Hitler e Eva se suicidaram no refúgio subterrâneo da Chancelaria.

Postado em 16 de fevereiro, 2009

Paulo Renato Alves

Fonte: Jornal A Tribuna

Dia - 30 de dezembro, de 1956.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Um filme noir na história de nossa Cidade - Segunda Parte

Quem é o Dr. Nils Christian Christensen
Nasceu o dr. Nils Christian Christensen na Estônia, sendo filho de pai dinamarquês e mãe alemã. Em 1926 formou-se em engenharia mecânica, pela Universidade de Hamburgo e Hanover, naturalizando-se alemão, visto ser sua mãe alemã, passando desde essa data a trabalhar para a Marinha da Alemanha, sendo técnico em construções navais. Era desde 1928 conselheiro de Construções Navais da Marinha do Reich. Em 1940 foi encarregado de organizar o Serviço de Localização das estações transmissoras clandestinas da Alemanha. Em janeiro de 1941 foi desligado da Marinha e recebeu a incumbência da construção, nos maiores portos da América do Sul e nos Estados Unidos da América do Norte, de estações emissoras para transmissão de notícias ao Almirantado sobre movimento de vapores e suas respectivas cargas. Antes de embarcar, fez um rápido curso de transmissões telegráficas, sistema Morse, aprendendo também a compulsar os códigos secretos. Em fins de fevereiro recebeu ordem do Almirantado germânico para transportar-se para Bordéos, na França ocupada, onde deveria procurar o almirante que comandava a base naval dêsse porto. Ali, foi obrigado a assumir um compromisso de honra, perante o comandante daquela base naval, de que enquanto estivesse fora da Alemanha, não se corresponderia com pessoa alguma de sua pátria, mesmo com sua família.

Até esse momento não sabia o seu destino. Recebeu ordem para embarcar no vapor mercante alemão “Hermes”, cujo comandante era a única pessoa que tinha conhecimento de que viajava em missão secreta. Seu nome figurava na tripulação como comissário de bordo. Em alto mar, recebeu das mãos do comandante do “Hermes” um envelope lacrado no qual se encontravam as instruções sobre a missão que deveria cumprir. Só então é que teve conhecimento da natureza do trabalho que lhe fora destinado. Recebeu também do comandante do “Hermes” a importância de 600 contos de réis, em dinheiro brasileiro. No envelope lacrado recebeu também uma falsa folha de serviços, que atestava ser ele um oficial dinamarquês a serviço da Marinha alemã, afim de exibir essa qualidade , caso o vapor fosse aprisionado, devendo, então, inutilizar as instuções secretas que trazia. Todavia, o “Hermes” conseguiu romper o bloqueio, aportando no Rio de Janeiro, no mês de abril.

Depois de três dias de ancorado, o vapor, desceu o Dr. Christensen, hospedando-se no Itajubá Hotel. Depois de se ligar a diversas pessoas da rede indicadas, veio para São Paulo e daqui para Santos, onde passou a estudar a cidade, em companhia Ulrich Uebele, filho do cônsul alemão em Santos, que o auxiliou na montagem da estação aprendida naquela cidade, em 5 de março. Ali deu instruções para que se organizasse o corpo de agentes que deveriam ser alemães e pessoas de absoluta confiança. Na escolha procurou excluir os elementos muito conhecidos pela Polícia como nazistas, afim de não prejudicar a sua missão. A estação de Santos foi instalada no mês de agosto e desmontada no mês de setembro, em virtude da Polícia santista encontrar-se nessa época, a campo, tentando a sua apreensão. Deixou como encarregado da estação transmissora de Santos, o rádio-telegrafista Gerard Schroeder, sendo encarregado das informações Ulrich Uebele e Henrich Bleerouth, que eram auxiliados por outras pessoas. De Santos regressou para o Rio de Janeiro, onde instalou o seu transmissor na residência em que foi preso, à rua Campos de Carvalho, no Leblon, tendo nessa cidade organizado diretamente o serviço de informações. Achava-se o Dr. Christensen a procura de uma pessoa de absoluta confiança que deveria dirigir esta estação afim de seguir para os Estados Unidos e ali completar a sua missão, instalando uma transmissora na cidade que mais conviesse, e, si possível, em Nova York.

Como durante a sua permanência de abril de 1941 até a data em que foi preso tivesse gasto os seiscentos contos de réis, estava à espera de mais mil contos de réis que deveria receber de um portador no Rio de Janeiro, no fim dêste mês.

Sábado, 28 de março de 1942.
A Tribuna – Santos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A breve passagem de "Cidadão Kane" por Santos

Muitos foram os adjetivos publicados no anúncio do filme “Cidadão Kane” por ocasião de seu lançamento no Brasil. Em Santos, o filme permaneceria em cartaz apenas uma semana, estreando no Cine Cassino, um dos principais exibidores da época, no dia 30 de outubro. Contudo, permaneceria nesta sala somente até o dia 2 de novembro, passando a ser exibido no dia seguinte, no Cine Astor, onde encerraria sua temporada no dia 05 de novembro. Mas não foi apenas o público cinematográfico santista que se assustou com a ousadia cinematográfica de Welles, a Academia de Hollywood também. Indicado para 9 prêmios, levou apenas o Oscar de melhor roteiro. Pouco, muito pouco para a genialidade do filme e de seu diretor. Confira, abaixo, os textos publicados no anúncio do filme “Cidadão Kane”, em Santos.

Cine Cassino

A Tribuna – 30 de outubro de 1941.

Eis a película notável que está revolucionando a arte cinematográfica! Um filme que avança pelo menos 10 anos de sua época! Não pode ser explicado! É preciso vê-lo para sentir toda a sua grandiosidade, toda a sua imponência artística! Estejam certos que não viram outro igual! É um verdadeiro desafio à inteligência humana!

É empolgante!

“Glorioso - é o único adjetivo que encontro para o próximo fim de semana. Glorioso porque nos vai dar o filme mais diferente de todos os tempos: êsse “Cidadão Kane” (Citizen Kane), 100% Orson Welles porque Orson Welles o escreveu, produziu, dirigiu e interpretou. Não caberia nunca nos limites rasteiros dêste rodapé um resumo siquer das longas e inumeráveis críticas que, nos Estados Unidos, êste filme sugeriu unânimes todas em conferir-lhe as mais altas, excepcionais cotações. Indicando-o mesmo, desde já, para todos os prêmios da Academia: o de melhor argumento, o de melhor produção, e o de melhor interpretação, isto é, indicando Orson Welles como a criatura Orson Welles como a criatura excepcional que terá conseguido de um só golpe, levantar para si mesmo os quatro prêmios anuais, levar para casa quatro “Oscars” de uma vez!”

“Preview” da semana de “O Estado de São Paulo”.

“A fita mais discutida depois de “O nascimento de uma nação”. É a muito esperada e muito falada aventura cinematográfica em que se empenhou esse jovem gênio do rádio e do teatro, que se chama Orson Welles, e que, com a sua grandiosidade, confunde os críticos. Ele conta a vida de um jornalista famoso que descobriu e usou, na sua profissão, uma técnica inteiramente nova e radical. Com uma fartíssima provisão de fascinantes “novidades” em matéria de idéia e técnica cinematográfica. “Cidadão Kane” descortina um novo campo para o futuro do cinema. Orson Welles é o Homem do Momento. Êle gritou: “Desperta, Hollywood!”, e Hollywood foi obrigado a aceitar o desafio”.

Delight Evans – “Screenland”

De outro observador: - “A maior fita do ano. E – o que é mais interessante – escrita, produzida, dirigida, e representada por um só homem: Orson Welles, um gênio, sem dúvida. “Cidadão Kane” revolucionou o cinema. Sente-se que, depois dessa produção, as coisas teem que mudar. Hollywood não pode deixar de seguir, sem restrições, a fórmula de Orson Welles, que introduz na arte cinematográfica uma nova técnica, não só na direção, como também no diálogo, na atuação, na iluminação, na fotografia. Tudo quanto pode existir numa fita é feito de uma maneira “diferente e melhor” em “Cidadão Kane”.

Postado em 10 de fevereiro, de 2009.
Paulo Renato Alves

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