sábado, 31 de janeiro de 2009

O Samba e Trabalho em 1946

Da Colina de Anchieta

O Samba e o Trabalho
R. Tristão

São Paulo, 20 – Não há muito tempo, houve que acusasse no sambas cariocas a tendência para depreciar a mulher. A nossa doce companheira – deixem o passar o “doce” com um inefável eufemismo – é aí tratada com ironia e, não raro, com escárneo. Por que? Si investigarmos, veremos que as camadas mais rudes da população apresentam muitos traços de primitivismo social, e nas hordas primitivas a mulher sempre foi tratada como escrava. Que determinados núcleos humanos, conforme seu grau de instrução e educação, reproduzem os mais vários estádios históricos do mundo. Em certas aldeias bascas ainda subsiste a tradição do “covade”, isto é, o hábito do homem fingir que experimenta as dores e certos distúrbios da gravidez da esposa.

O fato é que os sambas, como de resto a música de outras proveniências – veja-se o fado e as canções dos “apaches” – tratam a mulher depreciativamente. Há exceções, é certo, mas para confirmar a regra. O homem, aí, em plena desordem dos instintos, vê no amor, que sempre nele se manifesta sob a forma brutal de paixão, uma tirania a que procura fugir; logo, a mulher que dá causa ao sofrimento passional só pode ser encarada como inimiga. Além do que, em meio das maiores privações em que vivem os homens nessas camadas, a mulher constitui o tormento de cada minuto, chamando o companheiro à realidade, com ele discutindo, com ele discutindo de manhã à note para que não se embriague, para que abandone o botequim e vá procurar trabalho.
E chegamos, com a palavra “trabalho”, ao ponto desejado. O Sr. Negrão de Lima, que já havia denunciado o pouco rendimento da produção, achando que a culpa cabe ao nosso operário deseducado, e portanto, desambicioso, entrou de implicar com o samba, porque com freqüência canta a boa pândega e a malandragem. Há com efeito, um samba que diz “Meu pai trabalhou tanto que eu já nasci cansado”*.

Mas, da mesma sorte que o ministro do Trabalho tomou o efeito pela causa, quando faz referências à queda de produção, achando que a culpa cai sobre os empregados, ao perceberem maiores salários, também nos casos dos sambas é com profunda mágua que não podemos concordar com s. excia.

A música é uma emanação do meio em que brota. Traz, portanto, a sua marca de origem. Não se pode exigir que os bardos do morro do Salgueiro, no Rio, componham letras tão delicadas e estimulantes dos sentimentos generosos, como os poetas que habitam Copacabana. Da mesma forma, uma valsa vienense expressa uma delicadeza de sentimentos que seria absurdo procurar no próprio tango argentino, a meu vêr muito mais degradante do que os nossos sambas. Na letra do tango argentino, como no fado outrora tão guerreado pela boa sociedade de Lisboa, há sempre uma prostituta ou um malandro a desabafar contra a ingrata que o abandonou.

O ministro do Trabalho acha que, modificando as letras dos sambas, está liquidada a calaçaria dos morros e os operários tomarão os caminhos da fábrica, em vez de dirigir-se ao botequim. Não pode haver maior engano. Si a música é a pura emanação do meio, só com a mudança das condições ambientes mudar-se-á a música que as exprime. O trabalho mal remunerado, o custo elevadíssimo das utilidades, em descorrelação com os salários, o abandono em que se vêem os habitantes dos morros, sem escolas para os filhos, sem postos de saúde onde receber conselhos de higiene e remédios para suas enfermidades, sem assistência de nenhuma espécie – tudo Esso gera o desespêro dessas populações, hoje classificadas de “marginais”, desespero que se exala na música. E esta música não pode conter os refinamentos que se encontram em peças de Mozart, compostas para os aristocratas da sua época.

Como detentor da pasta que deve estar em contato com os meios trabalhistas, auscultando-lhes as necessidades, perquirindo-lhes as angústias e deficiências, o Sr. Negrão de Lima nos parece um neófito em matéria de psicologia social. Pelo menos, tanto a sua famosa exposição sobre a queda de índices de trabalho, como o seu palpite sobre os sambas, ao ponto de instituir um concurso para melhorá-los, premiando as letras que cantem o trabalho, denunciam um primarismo lamentável. E é pena.
Publicado em 21 de maio, de 1946
Jornal A Tribuna
Mantida a grafia original do texto.

Nota do blog: Música Citada – Nasci Cansado (Wilson Batista e Henrique Alves)

Postado em 31/01/2009

Paulo Renato Alves

Otto Maria Carpeaux - Neo-realismo italiano e literatura norte-americana

AMÉRICA – ITÁLIA

Otto Maria Carpeaux

O neo-realismo italiano chegou-nos principalmente através do cinema, o que foi motivo de apreciações unilaterais. Chega-se, por exemplo, a afirmar que o neo-realismo seja pseudônimo do realismo socialista, imposto aos cineastas italianos por inspiradores russos. E cita-se, a respeito, o inconformismo social de certas daquelas fitas, como se o inconformismo fosse, por sua vez, sinônimo de comunismo. Mas, antes de tudo, não se fala na participação de numerosos não comunistas (De Sica e outros) e até de um ex-fascista (Blasetti) na onda. Tampouco se dá a importância ao fato de neo-realismo não constituir um bloco homogêneo: são notáveis as diferenças entre Moravia e Pavese, Brancati e Bernari, Berto e Vittorini, Pratolini e Arfelli, etc. Mas o pai comum de todos eles é Verga.

Verga foi o maior romancista italiano da segunda metade do século XIX. “I Malavoglia” é uma obra capital da literatura européia. Mas quando o romancista siciliano morreu, em 1922, estava meio esquecido. A época não foi propícia ao reconhecimento de sua arte. Durante o vintênio fascista dominava, como já antes, a “prosa d’arte”, o fragmento impressionista em estilo rebuscado, senão precioso. O romance passava por gênero inferior, por que anti-lírico. Mas se a Itália possui hoje uma grande literatura de ficção e se Verga é hoje considerado um mestre, deve-se a mudança - sim, a quem? A resposta é surpreendente: aos americanos.

Há nos Estados Unidos de hoje uma “italian vogue”. Verga ainda não é bastante conhecido. Mas além da importância que se dá, com justiça, a um romancista italiano de maneira antes tradicional, a Bachelli, nota-se a multidão de traduções de Moravia, Pratolini, Pavese, Vittorini, Berto. Algumas obras dela já saíram em “pocket books”, o que é sinal de sucesso popular. Mas as revistas culturais de elite também estão cheias de discussões sobre os italianos. Essa onda começou com a segunda guerra mundial quando os intelectuais americanos descobriram a Itália (assim como a primeira guerra os fez descobrir a França). O primeiro já fôra, antes Hemingway. Depois vieram os romancistas John Hersey (“A Bell for Adano”), Alfred Hays (“All thy Conquests”, “The girl on the Via Flaminia”), John Horne Burns (“The Gallery”), Harry Brown (“A Walk in the sun”). Todos esses romances são altamente inconformistas. Descrevem como realismo insubornável o choque das duas civilizações, na ocasião da entrada dos exércitos anglo-saxões na Itália. Como diz John W. Aldridge: “Verificaram, na Itália, a falha do americanismo”. Ignoravam que os italianos com quem se encontraram já tinham feito a verificação contrária. Pois à onda italiana nos Estados Unidos precedeu uma onda americana na Itália.

O primeiro contato deu-se por volta de 1930, quando o crítico Emílio Cechi voltou de uma viagem para os Estados Unidos com um livro “América Amarga”. Cechi, crítico finíssimo, escritor toscano de mentalidade mediterrânea, esteticista, representante dos melhores da “prosa del’arte”, ficou horrorizado nos Estados Unidos. A civilização americana afigurava-se-lhe Museu de Horrores. Uma democracia de escravos fugitivos, feia e brutal, de mau gosto. A sutileza das expressões não chegou a encobrir essa tendência do seu livro, muito parecida com o anti-americanismo dos intelectuais franceses de esquerda, de hoje. Aconteceu, porém, que o público italiano de 1930, não deu confiança a Cechi. Pois no horror do esteta de tradição clássica apenas acreditavam descobrir a aversão de um fascista contra a democracia e de um acadêmico contra o realismo. Mas os jovens intelectuais já pensavam de outra maneira.

Um escritor que seria, mais tarde, um dos maiores neo-realistas, Cesare Pavesi, iniciou sua carreira literária com traduções de obras americanas e ensaios críticos sobre elas: Melville, Whitman, Masters, Sinclair Lewis, Sherwood Anderson, Sandburg, Dos Passos, Faulkner. Lá onde Cechi, só percebera brutalidade e mau gosto, descobriu Pavese a frescura de um novo realismo, a sinceridade insubornável de forças moças, que lhe pareciam muito mais sadias que o esteticismo dos italianos, a poesia hermética, a neurótica “prosa d’arte”. Certa vez, falou da literatura americana como de “um grande côro, enquanto nós italianos ficamos presos em monólogos”. E assim também pensavam e se manifestavam um Vittorini e um Berto.

Em parêntese: é notável que há 25 anos atrás anti-americanismo passava por sinônimo de fascismo, e americanismo por sinônimo de inconformismo. Hoje acontece ao contrário. Direita e esquerda trocaram de posições. E ainda nos querem impor esta ou aquela atitude, como a única certa.

Um julgamento sincero sobre essa vira-volta encontra-se numa entrevista de Giuseppe Berto na revista “Galleria” (parcialmente transcrita na revista “Fiera Letteraria”, de 22 de maio de 1955). Diz o autor de “Il cielo é rosso” que “os americanos nos libertaram da estéril “prosa d’arte”; não nos ensinaram como escrever; e por isso um autor de segunda categoria como Steinbeck, que não é um grande romancista, podia exercer uma influência decisiva”.

Novamente em parêntese: a influência que um escritor exerce no estrangeiro, não se baseia fatalmente no seu valor intrínseco. Também contribuem para tanto outros fatores, às vezes dificilmente explicáveis. Nunca encontrei um livro de literatura americana em que se tenha dado a menor importância ao romancista Michael Gold; muitos nem lhe registram o nome. É, no entanto, um fato que seu romance “Judeus sem dinheiro”, traduzido para o português, exerceu no Brasil profunda influência, sobretudo no romance nordestino. Um dos fatores, no caso, era de natureza exterior: a revolução de 1930, que destruiu ou condenou ao ostracismo velhos hábitos mentais, impondo nova mentalidade social e literária. Na Itália, o fato correspondente foi a queda do fascismo, a derrota militar de 1949. Toda uma época e todas as suas manifestações viraram inúteis. Na Itália das “cidades abertas” e bombardeadas e dos “ladrões de bicicletas” não havia uso para a “prosa d’arte”. Foi preciso encarar a dura realidade.

A onda americana, na literatura italiana entre 1939 e 1940, fora uma forma de oposição contra o regime fascista e contra uma literatura alheia à vida. Através da literatura americana, os intelectuais italianos descobriram a realidade italiana. Nasceu o neo-realismo.

Mas não há realismo (ou naturalismo) que forneça apenas imagem da realidade. Também implica um julgamento dela. E este seria insincero, se fosse positivo. O neo-realismo é um protesto. É, por definição, inconformista. O primeiro romance de Moravia, ainda no tempo do fascismo, chamava-se “Os Indiferentes”. Depois vieram: “As ambições frustradas”, “A desobediência”, “O desprezo” e, enfim, “O conformista”.

A literatura norte-americana de hoje é conformista. Um Frederick Bueckner, um Truman Capote, uma Garson Mc Cullers cultivam “prosa d’arte”. Os americanos lêem a literatura italiana de hoje como se fosse o documento do recente passado literário americano. A literatura norte-americana já exerceu, há 20, há 30 anos, o mesmo papel muito sério da literatura russa do século XIX: uma grande literatura, inspirada por motivos morais. Hoje, os italianos lembram os americanos seu dever para com o mundo. Esperamos algo de útil, dessa colaboração Itália-América.

Domingo, 16 de setembro de 1956.
Jornal A Tribuna

Postado em 31 de janeiro de 2009.

Paulo Renato Alves

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Bela crônica de época

Santos Antiga
Biturcio

Nascido e criado em casa pequena de paredes de pau a pique, entaipadas no barro e coberta de telhas nacionaes, sem soalho e sem forro, erecta à borda do rio Peroupava, que deságua no Ribeira, em frente ao costão dos Engenhos, ali em Iguape, vindo para esta cidade aos 11 annos – em 1877 – não encontrei aqui outra coisa que me causasse espanto a não ser o facto de ver muitas casas juntas, visto que a cidade de Santos, já naquella época, era bem maior do que a de Iguape!

Pois as casas daqui constavam, na sua maior parte, de construcções antigas dos tempos coloniaes, com paredes de madeira barradas e pisos também de chão e quintaes divididos por cercas de varas – tal como lá!

As casas melhores (que orçaria em30% do total) eram também de iguaes typos (coloniaes) e inda assim muitas dellas apresentavam apenas salas de visitas e alcovas assoalhadas e forradas, sendo os demais compartimentos de chão e telha-vã!

A cidade, assim desprezada, ao léo dos tempos, era, entretanto, por um novo activo e trabalhador e principalmente digno de nota pela acolhida que sabia dispensar a todo aquelle que por aqui passasse ou viesse a estacionar, em distincção de cor, nem de nacionalidade, mas sempre a mesma fidalguia que é peculiar ao povo brasileiro!

Mas Santos que se comprimia dos armazéns da Inglesa até a Rua 7 de Setembro, e da orla dos morros da Penha, São Bento e Monte Serrate até o canal, de espraiados de lama luzidia e fétida – soffria com as suas 15.000 almas – de outros males que a tornava detestada e temível aos olhos do estrangeiro que aqui aportava fungido, tão sómente, pelo interesse de intercâmbio commercial de entreposto de São Paulo e do interior. Não fôra esse interesse dentre os quaes avultava para o Estado a exportação de café, o certo, estrangeiro algum chegaria ou se estabeleceria – tal a fama das malarias que Santos supportava periodicamente com suas maleitas, varíola e febre amarela, provindas sem dúvida das águas estagnadas, da falta de esgotos e até da falta de água!
Publicado no jornal A Tribuna em 02 de abril de 1939

Postado em 29 de outubro de 2009

Mas Santos, assim anêmica e doentia, estava fadada a ser alumiada por nova Estrella e aquecida por novos soes!...Clarins distantes vieram acordar Santos que dormia, e Santos, abrindo os olhos e fitando-os no horizonte, sentiu aflorar-lhe aos lábios um sorriso doce de esperança, na grandeza e fama do futuro!

Remédios foram applicados: água, luz, bondes, esgotos, canaes e cães (Companhia Docas) e mais uma estrada de ferro – Sorocabana!

São Paulo cresce, e Santos – sua noiva – se enfeita para o consórcio na vida do progresso! São Paulo é extenso e ondulado, e se Santos não tem por onde estender-se na órbita das construcções, nem por isso me entristecerá, por que também tem avenidas onde as ondulações do Mar avançam distancias por onde toda a grandeza transita num mesmo espírito de Fé e paz universal!

Santos é hoje feliz, por que é seqüestrada, mas... Santos é noiva de São Paulo!

A estréia de Pelé

FUNCIONOU FORA DE SANTOS A “ARTILHARIA” DO CAMPEÃO
No amistoso de anteontem em Santo André o alvi-negro “goleou” o Corintians local por 7 a 1 --- Alfredinho (2), Del Vechio (2), Pelé, Álvaro e Jair, autores dos tentos santistas, marcando Vilmar para os vencidos – Boa arbitragem de Abílio Ramos

Correu tudo bem para o Santos F. Clube no amistoso de anteontem em Santo André, contra o Corintians, local. A equipe campeão do ano passado, desobrigou-se do compromisso com uma “goleada” espetacular, recebeu apreciável compensação financeira – oitenta mil cruzeiros livres – e ainda utilizou o valente quadro santo-andreense como sparring para um treino preparatório, com vista à partida do turno de classificação, hoje em Jaú. E neste particular, foi o alvi-negro melhor sucedido do que na rodada de terça-feira à noite no Maracanã, de vez que colocou em ação todos os titulares em condição de jogo, introduziu várias modificações no decorrer do prélio e, não teve nenhum de seus jogadores contundido. Tudo azul portanto, para o clube da Vila Belmiro, afastando, sobretudo, as preocupações dos aficionados que encaravam com certo receio, a efetivação desse amistoso à véspera da peleja contra o XV de Novembro, jauense.

Contra o Corintians, de Santo André, deixou o Santos, desde os primeiros instantes, estabelecida a sua maior categoria através indiscutível supremacia técnica e enorme superioridade de classe, já que o seu antagonista em nenhum momento logrou evidência que lhe permitisse crescer de produção. Quadro de poucas possibilidades, contando, com apenas um ou outro valor de predicados regulares, mesmo jogando em seus domínios, gramado duro, cheios de saliências e imperfeições baqueou inapelavelmente diante do “onze” santista. A par do elevado número de tentos que obteve, impôs-se o conjunto praiano pela esplêndida exibição, talvez aquela que seus simpatizantes tanto desejavam assistir.

O Santos, como se disse, demonstrou predomínio técnico acentuado, desde os primeiros movimentos, mas só veio a abrir a contagem ao 30 minutos. Depois seguiram-se mais três tentos na primeira fase, do que resultou o placar parcial de 4 a zero. Na segunda etapa, após estender essa vantagem a seis, o alvi-negro permitiu a marcação do único tento corintiano, e por fim rematou o triunfo com o sétimo gol, de autoria de Jair, à cobrança de falta nas proximidades da meta adversária. Vitória fácil, portanto, obtida sem maior empenho, tranquilamente.

Foram estes os quadros com as substituições introduzidas, todas na segunda etapa:
Santos – Manga; Hélvio e Ivan (Cássio); Ramiro (Fioti), Urubatão e Zito (Feijó); Alfredinho (Dorval), Álvaro (Raimundinho), Del Vechio (Pelé), Jair e Tite.
Corintians – Antoninho (Zaluar); Bugre e Chicão (Talmar); Mendes, Zico e Chanca; Vilmar, Cica, Teleco (Baiano), Rubens e Dore.

Na equipe do Santos, na realidade, não há nome a destacar. Tanto os elementos que iniciaram a disputa quanto os suplentes que entraram em ação no período complementar deram boa conta de sua missão. Cabe, todavia, ressaltar que o retôrno de Del Vechio, autor de dois bonitos tentos, se afigurou auspicioso, não demonstrando esse jogador ressentir-se da contusão que o afastara da equipe principal.

O Corintians se fez notar pelo entusiasmo e espírito de luta pouco realizando a sua ofensiva nas poucas jogadas de contra-ataque. Individualmente merecem referência o zagueiro Chicão, o médio Zico e os avantes Rubens e Vilmar, este autor do único tento do seu quadro. Os dois arqueiros que estiveram em atividade, Antoninho, vencido quatro vezes, e Zaluar, praticaram algumas defesas mas também tiveram falhas.

Os tentos assinalados na seguinte ordem:

1. do Santos – 30 mins. – (Alfredinho) – Num lançamento de Jair para Del Vechio o centroavante invadiu a área, atirando à meta. O arqueiro Antoninho rebateu o chute, propiciando a Del Vechio nova tentativa. Ainda uma vez o guardião interveio sem firmeza e a bola rodopiando em cima da linha foi, afinal, impulsionada às malhas por Alfredinho em rápida entrada.

2. do Santos – 32 mins – (Del Vechio) – Tiro longo de Ivan para a área servindo a Del Vechio. Correu este pela esquerda e após superar o zagueiro Bugre, apontou cruzado, rasteiro no ângulo esquerdo.

3. do Santos – 36 mins. – (Álvaro) – Del Vechio coloca a mação Tite que, da extrema lançou centro alto, sob medida. Álvaro, bem colocado, superou os defensores do clube de Santo André e com certeira “testada” sem chances para o arqueiro.

4. do Santos – 41 mins. (Alfredinho) – Manobra de Jair e Del Vechio envolvendo completamente a zaga, com passe oportuno a Alfredinho. Partiu o tiro do ponteiro a poucos passos do gol, e estava estabelecido o placar do primeiro tempo.

5. do Santos – 16 mins. (Del Vechio) – Escalada de Del Vechio pelo centro perseguido pelo zagueiro Bugre, que, entretanto, não conseguiu a ação do avante santista. Del Vechio invadiu a área, chegou diante de Zaluar, arqueiro suplente e desviou a bola calmamente para o fundo da meta.

6.do Santos - 36 mins. - (Pelé) - Ação Raimundinho-Tite com lançamento já na área a Pelé, que entrara em ação substituindo Del Vecchio. Em meio a vários defensores contrários, atirou Pelé com sucesso, passando a pelota sob o corpo do guardião Zaluar.

1. do Corintians – 41 mins. (Vilmar) – Contra-ataque dos santo-andreenses pela direita, cabendo a Baiano lançar centro alto. A zaga santista vacilou e Vilmar, deslocado para o centro, cabeceou para as redes, encobrindo o goleiro Manga. O autor do tento festejou com tal entusiasmo o feito, que a impressão era a de que os locais haviam igualado o marcador.

7.do Santos – 44 mins. – (Jair) – Zico praticou falta em Pelé, nas proximidades da área, no momento em que o avante santista se preparava para armar o chute, Jair cobrou a infração com um dos seus clássicos tiros, superando a barreira e vencendo, sem remissão, o arqueiro.

Coube a direção do cotejo ao árbitro Abílio Ramos que se houve com segurança e correção, facilitado pela cordialidade entre os jogadores. Não teve erros sérios, acompanhando de perto a disputa que se desenvolveu quase que praticamente no meio-campo do Corintians.

A renda anunciado pelos dirigentes do grêmio de Santo André dói de CR$ 39.910,00, tendo sido pago ao Santos a cota fixa de 80 mil cruzeiros, mas as despesas de viagem. A diferença, segundo informações, teria sido coberta pela municipalidade por estar a partida incluída nos festejos da data da Independência.

Houve duas preliminares entre juvenis. Na primeira o Santos F. Clube, de Santo André, venceu o Príncipe de Gales E. C. por 2 a 1 e, em outra, o C. A. Pirelli superou os juvenis do Corintians, também local, por 4 a 1. - A.F.

Postado em 29/01/2009

Original publicado no jornal A Tribuna em 09 de setembro de 1956.
Observação: Manteve-se a grafia do texto original publicado, salvo os erros de digitação que foram corrigidos e o acréscimo de Del Vechio na escalação do Santos F. Clube.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Professor Setembrino: O Visionário do Petróleo na Bacia de Santos

Foto: www.mundogeo.com.br
Publicado no jornal A Tribuna em 03 de março de 1975
Página 07

Perspectivas de petróleo em Santos
AJB e Serviço Local

São Paulo – A Petrobras recebeu carta do Governo do Estado, informando que pesquisas preliminares realizada pelo Instituto de Geologia da Universidade de São Paulo indicam a possibilidade da existência de uma província petrolífera na Bacia de Santos, com a vantagem de ser 6 vezes maior do que a de Campos.

A equipe de geólogos do Instituto de Geologia da USP foi a mesma que comandou as pesquisas na plataforma continental do Espírito Santo e Foz do Rio Doce, também naquele Estado, e sobre os quais o diretor do Instituto, professor Setembrino Petri, declarou: “A plataforma continental do Espírito Santo te possibilidades que considero ótimas tratando-se da existência de petróleo, melhores mesmo do que os da região de São Mateus, onde a Petrobras já retira quase sete mil barris diários”.

De acordo com o documento recebido pela Petrobras, salienta o governador Laudo Natel: “Em contatos mantidos anteriormente com a alta direção da Petrobras, tive a oportunidade de mostrar a convicção de muitos paulistas a respeito da possibilidade de existência de lençóis petrolíferos em nosso Estado, sobretudo na Bacia de Santos”.

“Essa convicção cresceu ainda mais depois dos magníficos resultados obtidos pela Petrobras na Bacia de Campos, com a qual a Bacia de Campos tem grande semelhança geológica, apesar de separadas pelo arco de Cabo Frio. As bacias têm a mesma estrutura geológica, inclusive no que se refere à presença de domos salinos, mas com a vantagem de a nossa ser aproximadamente seis vezes maior em área”.

Pesquisa importante
Segundo o professor Setembrino Petri, a equipe de geólogos da Universidade de São Paulo acaba de dar o maior exemplo da importância deste tipo de atividade profissional no desenvolvimento das pesquisas de recursos minerais no Brasil, tendo entregue à Petrobras todo o levantamento do solo da área da foz do Rio Doce, no Espírito Santo, e da plataforma continental daquele Estado, chegando à conclusão de que existem possibilidades da existência de importantes jazidas petrolíferas na região.

É praticamente ilimitado os que os geólogos poderão fazer daqui para a frente em favor do desenvolvimento nacional. Por isso, é preciso proteger o geógrafo brasileiro, evitando-se que prematuramente venham a ser instalados cursos de graduação nos diversos campos da Geologia, como a Geofísica, Hidrogeologia, Mineralogia, Petrologia, Mineração, Geologia Aplicada em Petróleo, em detrimento da formação de um geólogo polivalente, da máxima importância para a Nação”, conclui Setembrino Petri.

O Prefeito
A perspectiva da existência de petróleo na Bacia de Santos, para o prefeito Antônio Manoel de Carvalho, é uma notícia alvissareira: “Faço votos pela sua integral confirmação. Pode significar a redenção do município, mas ainda é cedo para se pensar no assunto”.

O chefe do Executivo, em companhia do coronel Ney Luiz Guerra, recebeu a imprensa em sua residência, na tarde de ontem, e salientou inicialmente que desconhecia quaisquer pesquisas do Instituto de Geologia da USP na Baixada, bem como os resultados. “Entretanto, amanhã (hoje) vou manter contato telefônico com o governador Laudo Natel, para obter a confirmação do noticiário e, se possível, trazer para Santos uma cópia do relatório dos geólogos da USP. Agora é praticamente impossível um contato com o Governo do Estado, mesmo porque não sei se o governador está na Capital. Mas prometo que se o resultado das pesquisas chegar às minhas mãos vou divulga-lo”.

Postado por Paulo Renato Alves


Em 19 de janeiro de 2009

domingo, 18 de janeiro de 2009

Mick Jagger e Keith Richards presos por tráfico?


Publicado no Jornal A Tribuna – 09/07/1967

1º Caderno – Página 07

Com certeza, não era um fã da Banda.

TRAFICANTES
Londres – Aí estão dois maconheiros que se intitulam famosos integrantes da “nova geração”. À esquerda Mick Jagger e seu companheiro do conjunto “Rolling Stones” Keith Richards, ambos condenado pelo uso de entorpecentes e aliciamento de menores. Foram soltos por fiança, mas certamente a apelação os meterá na cadeia para exemplo da juventude.

Postado em 18 de janeiro, de 2009

Paulo Renato Alves


Nazismo em Santos? - Um filme noir em nossa história.


Matéria publicada em 28 de março de 1942, no jornal A Tribuna. Confira!


DESARTICULADA UMA VASTA REDE DE ESPIONAGEM NAZISTA

O CENTRO DAS ATIVIDADES ANTI-NACIONAIS ESTAVA INSTALADO NO RIO DE JANEIRO, COM RAMIFICAÇÕES IMPORTANTES EM SANTOS E EM SÃO PAULO.

Uma estação clandestina fora montada em nosso porto para transmitir informações detalhadas sobre o movimento de navios, sua e seus passageiros - O indivíduo Nels Cristian Cristensen, chefe da espionagem alemã no Brasil, agiu tamvém em Santos e São Vicente, auxiliado por um grupo de nazistas, entre os quais o filho do consul da Alemanha nesta cidade - A diligência da polícia paulista é considerada como a maior até agora executada na América do Sul

São Paulo, 28 (Agência Nacional)
- Acaba a polícia de São Paulo de lavrar um tento brilhante, que veio, inicialmente, colocar o Estado e o Brasil inteiro ao abrigo de uma situação que já se desenhava entre nós com características de suma gravidade. O perigo era iminente e tudo indicava que nos encontrava à beira de um abismo, para o que muito concorreu a índole pacífica de nosso povo, sempre de braços abertos para o primeiro estrangeiro que aporte ao nosso País, como à benignidade das leis brasileiras, que regulam a permanência do imigrante no Brasil. Povo amigo e acolhedor, o brasileiro não se apercebia do trabalho subterrâneo e criminoso daqueles que deixaram suas terras longínquas para, aparentemente, procurar em nossa terra um refúgio capaz de satistazer-lhes as ambições ou, pelo menos, proporcionar-lhes os meios indispensáveis para sua manutenção e de sua família, tudo no ambiente de paz, tranquilidade e trabalho.

O Presidente Getúlio Vargas
Para nossa felicidade, porém, na Presidência da República se encontra um homem que vela, com dedicação extraordinária, sobre o destino do Brasil: o presidente Getúlio Vargas.

Mal surgiram no horizonte as primeiras nuvens denunciadoras, ei-lo de pé, preparado para a ação pronta, imediata, enérgica. Sem vacilações compreendendo a gravidade da hora presente, o presidente Vargas ditou suas ordens, que viriam, como vieram, colocar-nos a coberto de maiores males.

Em São Paulo
Em São Paulo, coube ao interventor Fernando Costa executar a tarefa delicada de executar as ordens do chefe da nação. Com a precisão que se fazia necessária, o interventor paulista pôs mãos à obra e, para sua execução fiel, não poupou esforços ou sacríficios de qualquer natureza. Ao seu lado, entre outros auxiliares, está o sr. Acácio Nogueira, secretário de Segurança Pública, o qual, por sua vez, conta com o auxílio precioso de um outro elemento de projeção, o major Olinto de França, superintendente da Segurança Política e Social. Do trabalho harmonioso e patriótico que veem realizando está a nossa população perfeitamente ao par e ja compreendeu que estamos preparados e aparelhados para enfrentar qualquer situação que, mesmo remotamente, constitua uma ameaça.

A maior diligência realizada na América do Sul
A prova do que afirmamos temo-la no êxito sem par que a nossa polícia acaba de obter, com a realização de uma diligência sensacional, que bem pode ser considerada a maior até hoje realizada na América do Sul, desde quando se esboçou a presente situação política mundial.

Trata-se, nada mais, nada menos, do que a desarticulação total de uma rede de espionagem, instalada no Rio de Janeiro, com ramificações importantes nesta capital e em Santos.

Seguindo instruções do major Olinto de França, o delegado de Ordem Política, sr. Ribeiro da Cruz, ao par do que se tramava, do que já se executava, decidiu-se ao trabalho de investigação. Homem arguto e perpicaz, conscia da responsabilidade que tinha sobre os hombros, a referida autoridade, si, por um lado providenciou amobilização quasi integral dos inspetores da Ordem Pública, por outro, nada mais fez, para o êxito imediato das diligências, do que escolher o auxiliar um seu auxiliar de confiança, muito integrante e capaz, o sr. Elpídio Realie, para a chefia pessoal das investigações.

Trabalho penoso
O trabalho da polícia, como é perfeitamente compreensível, em se tratando de um assunto de suma transcendência, foi assás penoso. Inúmeras foram as dificuldades a vencer e houve mesmo momentos em que certos obstáculos, inesperadamente surgidos, davam a impressão de que todo esfôrço seria nulo. Mas a perseverança do secretário da Segurança e do superintendente da Segurança Política, dava novo alento e os delegados Ribeiro da Cruz e Elpídio Reale, logo encontraram elementos para insistir na porfiada luta, luta terrível, sem tréguas, contra um inimigo extremamente poderoso e - o que agrava mais ainda a situação - durante algum tempo absolutamente oculto.

A pista - as primeiras investigações
Em dezembro do ano findo, o sr. Juvenal Salão, socio proprietário de uma casa de acessórios de rádio, levou ao conhecimento da Superintendência de Ordem Política e Social, o seguinte fato: - fõra procurado em seu estabelecimento por um indivíduo suspeito que expressando-se em inglês, lhe encomendara um ondometro (aparelho complementar de estações clandestinas). Esse indivíduo falava o inglês com sotaque de alemão, o que determinou profunda suspeitas ao sr. Salão. Ao terminar a encomenda, o sr. Salão solicitou-lhe o nome e o endereço. Disse, então, o personagens misterioso chamar-se O. Mendes e residir em Santos no Hotel Santos.

A autoridade policial determinou então severa vigilância em torno dessa firma, para, caso aparecesse o personagem, fosse acompanhado por investigadores e detido , depois de apuradas as suas suspeitas. No entanto, passaram-se os dias e o personagem não voltou a procurar o aparêlho que havia encomendado com a nota de urgente. Feita uma verificação pela polícia nos hotéis de Santos, também não foi verificada a presença de nenhuma pessoa com esse nome. Ficou, então, combinado, entre a autoridade que recebeu a denúncia, o sr. Elpídio Reale, e o sr. Salão, para, caso futuramente aparecesse alguém interessado no aparêlho, que fosse feita a entrega depois de identificada a pessoa. Assim sendo, em meados de fevereiro do corrente ano a firma Salão notificada a polícia de que a firma Sgarzi, desta capital, estabelecida à av. São João, havia solicitado a entrega do ondometro. Foi determinado então que se procedesse a entrega.

Aguardou a polícia ainda alguns dias afim de que se a encomenda chegasse ao seu destino, pois a firma Salão informava mais que Sgarzi, no mês de agosto havia recebido também um aparelho transmissor. Apurou-se também que a Sgarzi era muito ligado a firma Teodor Wille.

Diligências, prisões e apreensão da estação
No dia 5 do corrente, o delegado Elpídio Reale, deteve Domingos Sgarzi e, interrogado sôbre o destino do transmissor e do ondometro, confessou o seu recebimento e a entrega de ambos ao sr. Ulrich Uebele, filho do agente-geral da Teodor Wille no Brasil e consul alemão em Santos. Detido imediatamente Ulrich Uebele, êste apresentou o ondometro que se encontrava depositado em seu escritório e infomou à polícia que o transmissor fõra por êle transportado para Santos, onde entregára, no m~es de agosto, ao rádio-telegrafista da agência de navegação Teodor Wille, de nome Gerard Schroeder, o qual era o encarregado da estação montada no porto de Santos e destinada a fornecer informações detalhadas sôbre o movimento de vapores e sua cargam naquele pôrto. Seguindo naquela mesma noite para Santos, a autoridade policial deteve Gerard Schroeder, â rua Ipiranga, 13, em São Vicente, onde estivera montada a estaç~so, até o mês de dezembro, época em que foi desmontada e removida para a residência do empregado da Prefeitura de Santos, Euclides de Albuquerque. Aprendida a estação transmissora nessa residência, a polícia deteve mais os seguintes indivíduos, envolvidos na organização da espionagem: Henrich Bleinroth, segundo secretário do consulado alemão em Santos e encarregado de colher as informações sobre os navios surtos no pôrto; Erland Adolf Waisted, empregado da agência de navegãção Johansen, e os integralsitas Antônio Gonçalves da Cunha, Joaquim Pinto de Oliveira e José Faustino Cabral de Melo, os quais auxiliam Heinrich Bleinroth na colheita de informações do cais. Essas informações eram cifradas em código e transmitidas por telegrafia, pelo sistema Morse, para a sede da organização no Rio de Janeiro, donde eram retransmitidas por uma estação potentíssima ao Almirantado alemão que, por sua vez, da exatidão e da importância das informações determinava ordens às diferentes bases submarinas existentes no Atlântico.

Ausência do personagem principal entre as pessoas detidas em Santos
Transportada para São Paulo a estação transmissora e os presos, a autoridade chamou à Delegacia o sr. Juvenal Salão, afim de ver si o mesmo reconhecia entre os presos a figura do inglês com sotaque alemão, que em dezembro lhe havia encomendado o ondometro. Foi então que se verificou a ausência da figura principal. Interrogados os presos, êstes manifestaram um interêsse invulgar em esconder a figura principal. Como, porém, o ondometro tivesse sido encomendado por O. Mendes e a sua retirada sido providenciada por Ulrich Uebele, filho do consul alemão em Santos, êste deveria reconhecer e identificar essa pessoa. Como se negasse terminantemente a apontar o nome, limitando-se a informar que se tratava de um engenheiro alemão, vindo recentemente da Alemanha para organizar o serviço de espionagem nos pôrtos da América, resolveu a polícia proceder a uma busca no escritório de Ulrich, na sede da firma Theodor Will, em Santos, e ali na correspondência apreendida, o endereço do engenheiro alemão, dr. Nils Crinstian Cristiensen, residente à rua Campos Carvalho n. 318, no Leblon, na Capital Federal. Interrogado novamente Ulrich, êste, à vista da correspondência apreendida, acabou por confessar ser Cristiensen a pessoa misteriosa que a polícia procurava. Determinou, então, o Superintendente de Segurança Política e Social, major Olinto de França, que o delegado Reale, que vinha efetuando as diligências, embarcasse pelo primeiro avião para o Rio de Janeiro e ali, conjuntamente com o chefe de Polícia da Capital Federal, providenciasse a detenção de Nils Cristian Cristiensen.

Prisão do chefe da espionagem na Capital Federal
Na Capital Federal, no dia 10 de março, às 3 horas da manhã, em companhia de dois investigadores da Polícia Federal e so sr. Juvenal Salão, a autoridade detinha Nils Cristian Cristiensen, apreendendo na busca procedida um aparelho transmissor móvel, que alcançava a distância de 15 mil quilometros em suas transmissões, dois aparelhos receptores, um ampliador de fotografias, uma bússola, um microscópio, uma pistola "Mauser" carregada e um laboratório químico contendo drogas, uma máquina de filmar, uma máquina fotográfica e outras peças acessórias no valor aproximado de duzentos contos de réis.

Prosseguindo-se na busca, a autoridade apanhou a prova material da espionagem consistente em diversas informações sôbre navios americanos e ingleses que haviam passado no pôrto do Rio de Janeiro. as quais traziam a tonelagem do vapor, a natureza de armamentos, o número de tripulantes, o transporte de tropas, a natureza da carga, a velocidade desenvolvida e outras informações detalhadas, as quais, depois de cifradas em código, eram transmitidas por telegrafia ao Almirantado alemão. A autoridade apreendeu também o código bem como as instruções ministradas pela marinha alemã aos seus agentes de espionagem. Foram apreendidas ainda diversas micro-fotografias, do tamanho de uma unha, as quais, ampliadas no microscópio, traziam as instruções sobre a missão que deveria ser desempenhada pelo agente na América do Sul e na América do Norte.

A última informação transmitida por essa estação transmissora era a referente ao vapor "Queen Mary", que havia entrado no pôrto do Rio de Janeiro no dia 6 de março, tendo saído no dia 8, às 17 horas. Como se vê pela fotografia da informação, na véspera da prisão do sr. Cristiensen, êste havia transmitido ao Almirantado alemão, em Berlim, as informações mais pormenorizadas, sobre a rota seguida por aquele vapor e o transporte de tropas canadenses para a Austrália.

À vista da prova material colhida pela polícia, o agente de espionagem alemã, confessou na polícia em São Paulo, para onde foi removido, com todos os detalhes a sua missão na América do Norte, para onde deveria seguir, de acôrdo com as ordens recebidas.

Postado em 18 de janeiro, 2009

Paulo Renato Alves

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Economia Criativa: Um gigante Adormecido

“A Grã-Bretanha é uma das nações mais criativas do mundo. (...) Seria todo esse talento uma coincidência ou haveria algo fazendo dos britânicos pessoas particularmente criativas? É válido colocar-nos essa questão, porque alguma das causas de nossa criatividade podem estar abertas à influência do governo – para melhor ou para pior.”
(James Purrel, ministro das Indústrias Criativas do Reino Unido)

O impacto das atividades criativas com o objetivo de contribuir para a revitalização e o desenvolvimento auto-sustentável de áreas urbanas, tem sido objeto de políticas públicas específicas em diversas cidades do mundo. Se nos países desenvolvidos essas políticas têm principalmente a função de incrementar suas indústrias criativas, nos países emergentes incorporam-se a esse preceito as possibilidades de requalificação humana e de inclusão social.

Dados da UNESCO apontam que 8% da riqueza produzida no mundo têm origem no que por convenção recebeu o nome de economia criativa. Em sua abrangência, o conceito apresenta representações em iniciativas nas áreas de arquitetura, publicidade, audiovisual, moda, tecnologia, artesanato, artes plásticas, música, designer, turismo, gastronomia, e todas as demais atividades que tenham como elemento essencial a criatividade e o conhecimento.

Na Baixada Santista o assunto ainda não conquistou o merecido espaço na agenda política dos governantes e parlamentares, e embora alguns projetos e ações realizadas se fundamentem em seu conceito, não observamos qualquer movimento para a construção de políticas públicas direcionadas para esse setor econômico.

É evidente, que poderíamos levantar o argumento que parte significativa da economia criativa se encontra representada na atuação das Secretarias de Cultura. Contudo, não poderíamos também deixar de observar que tais Secretarias pouco participam dos debates sobre o desenvolvimento sócio-econômico de seus municípios.

Em Santos, por exemplo, se a Secretaria de Cultura tem seu representante no Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano, encontra-se ausente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico, que tem entre suas prerrogativas a participação na formulação de políticas para o desenvolvimento econômico e social e na elaboração do Plano Estratégico da Cidade.

Há falta de Indicadores também não nos permite ter uma dimensão aproximada do número de postos de trabalho gerados através de atividades artístico-culturais e criativas, nem o quanto isso significa para a economia da região. Sendo mais claro: ainda que as Secretarias de Cultura em muito contribuam para a geração de empregos e renda, muito mais poderiam contribuir se integradas às políticas econômicas de seus municípios.

Os gargalos existentes na produção, distribuição e consumo de bens e serviços culturais e criativos precisam ser superados. O Fundo Municipal de Cultura e a Escola Profissionalizante de Teatro a serem implantados em Santos, são duas boas iniciativas nesse sentido. No entanto, muito ainda pode e deve ser feito, sobretudo na criação de políticas públicas para que a produção artística e criativa das cidades ultrapasse as fronteiras regionais. Salvo raras e honrosas exceções, isso não acontece. Quem sabe, a articulação para a criação de Arranjo Produtivo Local para segmentos da Economia Criativa possa ser um caminho a ser construído. Afinal, em tempos de revisão do Plano Diretor da Cidade é preciso ter muita criatividade, mas muita criatividade.

Reinaldo Lopes Martins e Paulo Renato Alves

Postado em 16 de janeiro de 2009

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Parques Tecnológicos: entre o discurso e a prática

Incluído tardiamente no discurso do poder público local, a área de inovação e tecnologia vem suscitando a atenção dos meios de comunicação da cidade e certamente ocupará um lugar privilegiado no debate eleitoral desse ano. Recentemente, vimos o prefeito João Paulo Tavares Papa solicitar ao governador a instalação de um parque tecnológico em Santos. Em que pese, sem dúvida, a importância dessa iniciativa, mostra-se inevitável fazer algumas ponderações sobre o assunto.

Considerada uma estratégia importante para o desenvolvimento econômico do país, a área tecnológica tem demandado políticas vigorosas e permanentes no âmbito federal e estadual. Em sua ação mais recente, o governo federal lançou um grande pacote objetivando o aumento da produção das empresas incluindo ainda nessa proposta, a renúncia fiscal para empresas que desenvolvam pesquisas no campo da inovação e da tecnologia, além de ampliar linhas de crédito através do BNDES. No caso do governo estadual, o projeto Parques Tecnológicos foram inicialmente previstos para as cidades de São Paulo, Campinas, São José dos Campos, Piracicaba, São Carlos, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, ficando Santos e a Baixada Santista à margem de tais iniciativas.

Por outro lado, Santos tampouco fez até o momento a sua lição de casa, na medida em que até o momento não dispõe de mecanismos jurídicos e organizacionais. Recentemente, o Secretário de Governo, Márcio Lara, anunciou que seria criado o Alegra Tec, um programa específico para o desenvolvimento tecnológico da cidade, acrescentando corretamente em seu discurso que os parques tecnológicos deveriam se adequar a realidade de nossa cidade.

Esperamos que o Alegra Tec se torne realidade em breve, assim como sejam criados um conselho e um fundo municipal próprio. Quanto a esfera jurídica, esse novo programa terá a urgência de elaborar uma legislação que permita as Oscips estabelecerem termos de parceria com a Prefeitura de Santos e regulamentar no município a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas (MPPEs). Será preciso ainda desenvolver ações permanentes no campo da educação e promover eventos para intercâmbio tecnológico e científico. Afinal, tão importante quanto adequar os parques tecnológicos a realidade da cidade é adequar a cidade para a implantação de um centro de excelência tecnológico.

Um parque tecnológico instalado na região central da cidade poderia em muito poderia contribuir para o projeto de revitalização do Centro de Santos, para a geração de empregos qualificados, para o fortalecimento das diversas micro e pequenas empresas e também das universidades locais que investem em inovação e pesquisa. Certamente, teríamos um campo fértil para inovações tecnológicas nas áreas portuárias, turísticas, ambientais, por exemplo.

Tivemos até hoje apenas algumas poucas e boas iniciativas nessa área, como as Incubadoras de Empresas em Santos e o Arranjo Produtivo Local (APL) de Tecnologia e Informação. Contudo, sabemos que as raízes históricas desse atraso são muitas. Da vinda apenas recentemente de uma universidade pública ou mesmo a falta de uma política municipal ao longo de décadas, encontraríamos ainda diversos outros fatores para justificar nosso modesto desempenho quando tratamos de ciência e tecnologia.

Estimular a cultura da pesquisa e da inovação será um dos grandes desafios a serem superados ao longo dos próximos anos. Ao prefeito caberá o papel de maestro nessa orquestra, ao reger os diferentes agentes envolvidos, obtendo um resultado sinérgico com seus movimentos. Portanto, faz-se necessária a participação efetiva de cada um dos atores desse processo, das universidades ao porto, do poder público aos micro e pequenos empresários, passando ainda pelas grandes e médias indústrias, Sebrae, Fiesp e Associação Comercial de Santos. Hoje, no entanto, muito se faria se fossem criados os suportes legais e administrativos, bem como o planejamento de políticas públicas de curto, médio e longo prazo, com recursos previstos no orçamento do município e em outras fontes de fomento e financiamento existentes.

Ao mesmo tempo em que é importante estabelecer parcerias diversas, é também preciso dar condições técnicas e legais, fortalecer as iniciativas do APL, além de estudar formas possíveis de incentivos para a atração de novos investimentos. Esses talvez sejam os primeiros passos dessa longa caminhada. Merece também atenção a necessidade do poder público local participar de fato dos diversos eventos, audiências, seminários e reuniões promovidas pelo governo estadual e federal e por instituições civis. Será que isso ocorre? Não seria também o momento, por ocasião do Centenário da Imigração Japonesa de se tentar estabelecer um convênio científico tecnológico com nossos irmãos orientais? Teríamos concretamente um prefeito empreendedor capaz de levar adiante essas e outras iniciativas?

Paulo Renato Alves

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Artigo Publicado no blogspot pensandosantos em 11 de junho de 2008

Gestão Cultural

Cultura e Desenvolvimento
Assim, observamos uma certa passividade no setor, a falta de criatividade para superar as dificuldades econômicas. Uma mudança de mentalidade se faz necessária para uma abordagem da questão cultural, se vocês me permitem: uma nova cultura organizativa, uma nova forma de cultura.
Alfons Martinell
Professor e Gestor Cultural de Barcelona

I– Novos Desafios: A cultura como estratégia de desenvolvimento.
Cada vez mais, as políticas públicas na área de cultura adquirem um papel fundamental para a formação de um país mais democrático e plural. Espaço privilegiado para a construção da cidadania e da inclusão social, a ação cultural deve sempre ir além das necessidades imediatas do poder público e de sua eterna escassez de recursos.

Neste sentido, os mecanismos de financiamento à cultura podem contribuir de forma essencial para a realização de projetos capazes de fomentar e estimular o desenvolvimento cultural, turístico e econômico de uma cidade ou região, bem como promover a inclusão social através da formação cultural, da capacitação profissional, da geração de renda e de empregos.

A combinação cultura/lazer/economia deve assim ocupar um papel importante nesta difícil tarefa para a superação das desigualdades sociais e de seu principal produto urbano, a violência. Neste quadro não muito alvissareiro, cultura, lazer e economia impõem-se como premissas para a melhoria das condições de vida em nossas cidades, gerando perspectivas para o presente e esperanças para o futuro.

Para o gestor público surge a imperiosa necessidade de pensar a cidade em todos os seus aspectos, do concreto ao simbólico, do econômico ao social; exigindo em sua atuação não apenas a habilidade técnica e política para promover ações integradas e transversais, como também o conhecimento de novas metodologias derivadas das ciências econômicas, indispensáveis para o melhor gerenciamento dos recursos públicos e para um conhecimento mais detalhado de cada segmento artístico/cultural.

Dentro de tal contexto ficam as perguntas: Quais os paradigmas que balizam as atuais políticas públicas de cultura na região? Qual a eficácia e a eficiência dos projetos e ações realizadas? Há integração e sinergia nas ações promovidas pelas Secretarias de Cultura? Haveria a necessidade de se realizar um levantamento sobre indicadores culturais em nossa região? Existe sintonia entre o Executivo e o Legislativo para a criação de leis que estimulem a produção, a distribuição e a fruição de bens culturais? Quais estratégias poderiam ser adotadas para dar visibilidade à produção cultural da região? Que parcerias poderiam ser feitas com o governo estadual e federal? Quanto as ONGs, empresas locais, e outras instituições culturais da região como o Sesc e o Sesi, que tipo de relação é estabelecida? Por fim, quais os benefícios diretos e indiretos que teriam nossos atores culturais?Se no Brasil, o poder público dá seus primeiros passos para a implantação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento, seja através do incremento ao turismo, da inclusão cultural e digital, da geração de empregos e renda através da formação e capacitação cultural, o que esperar da Baixada Santista onde ainda é incipiente a reflexão sobre gestão cultural? O que fazer para articular programas e ações que tenham como prioridade o desenvolvimento?

Ao menos, uma coisa é certa. Precisamos profissionalizar a gestão cultural em nossa região para não corrermos o risco de investir dinheiro público equivocadamente. Muito se tem por fazer e muito se pode esperar para os próximos anos.

Paulo Renato Alves
Texto originalmente publicado no dia 09 de novembro de 2008.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Em Busca do Tempo Perdido

Muito louvável a iniciativa do prefeito João Paulo Tavares Papa de debutar seu segundo mandato sancionando a lei que cria a Fundação de Tecnologia e Conhecimento de Santos. Tal fato, além de denotar que o assunto conquistou merecido espaço no debate político da Cidade, mostra também a urgência com que está sendo tratado. Nada mais adequado, já que Santos ingressa com certo atraso no conjunto dos parques tecnológicos brasileiros.

Segundo dados da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), o País conta com um total de 25 parques tecnológicos em funcionamento, 17 em estágio de implantação e 33, entre os quais Santos, em fase de projeto. Um breve histórico sobre as políticas públicas de ciência e tecnologia apontaria diversas ações realizadas com o objetivo de promover a interface tecnologia/desenvolvimento.

No âmbito estadual, por exemplo, desde 2002, temos aprovada uma lei de autoria da ex-deputada Mariângela Duarte que dispõe sobre a implantação de um Parque Tecnológico na Baixada. Por falta de articulação política, a lei até hoje não foi sancionada. Em fevereiro de 2006, o governo estadual instituiu o Sistema Paulista de Parques Tecnológicos. Para o referido projeto foram escolhidas diversas cidades do Estado, ficando a Baixada Santista à margem das estratégias e investimentos iniciais previstos.

Em maio de 2008, caberia à deputada Maria Lúcia Prandi ingressar com projeto de lei visando a criação de um parque tecnológico na Cidade. O projeto encontra-se atualmente em tramitação na Assembleia Legislativa. Resta saber se, depois de aprovado, será sancionado pelo governador. Na Câmara Municipal, o então vereador Reinaldo Martins também apresentou trabalhos legislativos sobre o assunto, indicando ao prefeito a criação de um órgão gestor para ciência e tecnologia, um conselho e um fundo municipal, além de cobrar a regulamentação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, em vigor desde 2006, e a instalação do Poupatempo do Empreendedor.

É certo que a vinda de uma Unidade de Negócios da Petrobras para o Valongo em muito contribuiu para despertar o interesse do poder público pela instalação de um Parque Tecnológico; afinal, foi anunciada como uma das empresas âncoras do projeto. Vale lembrar que a implantação de uma unidade da Petrobras em Santos há muito poderia ter acontecido. Se levarmos em consideração a matéria publicada em A Tribuna em 3 de março de 1975, observaremos que já naquela época o Instituto de Geologia da USP apontava evidências de petróleo e gás na Bacia de Santos. Somente 25 anos depois o assunto retomaria espaço na imprensa local, quando, em campanha para a Prefeitura, a atual vereadora Telma de Souza o incluiu em seu programa de governo.
Contudo, não se pretende aqui "chorar o leite derramado", mas sim alertar aos prefeitos e parlamentares da região que, nos próximos anos, terão as difíceis missões de tornar realidade diversos projetos importantes para o nosso desenvolvimento econômico e social. A implantação e consolidação do Parque Tecnológico, a criação do Aeroporto Civil Metropolitano, a Zona de Processamento de Exportação, o Veículo Leve sobre Trilhos e a revitalização de grande número de áreas degradadas são alguns deles. Penso que o momento exige diálogo, articulação política e cooperação entre os prefeitos e deputados da região, sob pena de comemorarmos grandes feitos tardiamente. Boa sorte a todos.

Paulo Renato Alves

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