Trem levando japoneses para São Paul0
MAIS DE 1500 SÚDITOS JAPONESES E ALEMÃES FORAM REMOVIDOS, ONTEM, PARA A CAPITAL.
PRATICAMENTE NÃO HÁ MAIS SÚDITOS DO JAPÃO E DA ALEMANHA EM NOSSA CIDADE – CENAS QUE A REPORTAGEM OBSERVOU DURANTE O EMBARQUE – VENDENDO TUDO A QUALQUER PREÇO
APELO DO DELEGADO AUXILIAR DE POLÍCIA
A medida adotada pelo major Vieira de Melo, superintendente da Ordem Pública e Social, quanto à imediata transferência de súditos japoneses e alemães para a capital e subseqüente distribuição para o interior do Estado, processa-se em nossa cidade com plena regularidade, esforçando-se a polícia para a perfeita execução dessa providência inédita no país e que não revela qualquer ato de punição, mas inspirada nos altos interesses de segurança nacional.
A remoção de japoneses e alemães, iniciada anteontem, continuou durante o dia de ontem, quando foram embarcados para a capital nada menos de 1549 pessoas daquelas nacionalidades, predominando, entretanto, o elemento amarelo.
Os alemães foram os primeiros a embarcar e muitos deles preferiram viajar espontaneamente e a expensas próprias.
Praticamente, não há mais alemães na cidade. E os japoneses, em número consideravelmente maior, também já foram expurgados, em sua maioria, havendo, entretanto, milhares deles residentes na larga faixa litorânea que ainda aguardam embarque nos seus centros domiciliares. Todos, porém, já foram notificados de maneira que dentro de poucas horas todo o litoral estará varrido dos súditos nipônicos.
ORDEM E DISCIPLINA
Todos os detalhes de transferência desses estrangeiros decorreram sem atropelo, em ambiente de tranqüilidade e de respeito, não se registrando qualquer incidente. Aliás, os investigadores encarregados do serviço agem ponderadamente, evitando qualquer constrangimento aos estrangeiros.
OS EMBARQUES DE ONTEM
As 10 horas de ontem, em composição especial da Inglesa, foram embarcados para a capital 775 súditos japoneses e alemães, aqueles em número extraordinariamente maior. Seus documentos de identidade são recolhidos pelas autoridades policiais encarregadas de sua custódia, recebendo-os posteriormente, depois do registro na Hospedaria de Imigração.
No período da tarde, nova composição especial conduziu para a capital 774 japoneses, fazendo-se muitos deles acompanhar de suas famílias.
O serviço de embarque decorreu em boa ordem.
QUASE TODOS QUEREM RESIDIR NA CAPITAL
A reportagem teve ocasião de abordar alguns súditos nipônicos um pouco antes do seu embarque. Mostravam-se conformados com a medida policial. Um ancião, antigo morador da Ponta da Praia, comentava, entristecido, que residia em Santos há 25 anos e durante todo esse tempo não havia se afastado da cidade. Atendeu prontamente á instrução para o embarque, conformando-se com a situação, mas receberia com angústia qualquer ordem de fixação de residência fora da capital do Estado.
Aliás, a maioria deles prefere residir em São Paulo.
VENDENDO TUDO A QUALQUER PREÇO
Colhidos de surpresa, pela medida da Ordem Política e Social, numerosos japoneses trataram de se desfazer dos seus bens. No Marapé, na Ponta da Praia, e em Santa Maria, houve verdadeira corrida para a venda de suínos, galináceos, muares, etc... Os japoneses – quase todos proprietários de chácaras – expuseram a venda quase tudo quanto possuíam. Vendiam a qualquer preço, pois não havia tempo para regateamento. Sabe-se de um deles que, para se desfazer de sua chácara em Santa Maria, vendeu três porcos, uma carroça e um muar pela quantia de mil cruzeiros. E galinhas? Essas foram vendidas a três e dois cruzeiros a cabeça.
NA HOSPEDARIA DA IMIGRAÇÃO
São Paulo, 9 (Da Sucursal) – Continuam a chegar a esta capital os súditos japoneses e alemães que residiam em Santos e na região do litoral sul e norte do Estado. Durante o dia de ontem, em dois trens especiais, chegaram ao edifício da Imigração 1549 nipônicos e alemães, aqueles em maior parte.
Após o competente registro, os estrangeiros são conduzidos aos alojamentos, onde há limpeza e conforto. A alimentação é farta e saborosa.
Há cerca de 4000 japoneses e alemães recolhidos à Imigração.
Esses estrangeiros, quando perguntados qual a cidade em que pretendem continuar suas atividades, optam impreterivelmente pela capital. Entretanto, o critério adotado parece ser dos mais justos, porquanto cada pessoa ou família é destinada a uma cidade apropriada para o desenvolvimento da profissão de seu chefe.
Os japoneses em sua maioria vieram acompanhados de suas famílias. Há muitas crianças na Hospedaria da Imigração.
Verificaram-se dois casos de moléstias: o de uma criança atacada de sarampo e de uma velhinha acometida de maleita. Os médicos providenciaram imediatamente o isolamento desses enfermos, os quais estão sendo cuidado com todo o carinho profissional.
REMESSA PARA O INTERIOR DO ESTADO
A remessa de nipônicos e alemães para o interior do Estado começou na noite de hoje. Não serão removidos para cidades onde exista quartel do Exército, sendo, porém, as demais localidades de livre escolha. As famílias que não dispõem de recursos serão encaminhadas aos prefeitos municipais e terão toda a assistência até normalizar a situação particular de cada um.
Fonte: Jornal A Tribuna - 10 de julho, 1943
PRATICAMENTE NÃO HÁ MAIS SÚDITOS DO JAPÃO E DA ALEMANHA EM NOSSA CIDADE – CENAS QUE A REPORTAGEM OBSERVOU DURANTE O EMBARQUE – VENDENDO TUDO A QUALQUER PREÇO
APELO DO DELEGADO AUXILIAR DE POLÍCIA
A medida adotada pelo major Vieira de Melo, superintendente da Ordem Pública e Social, quanto à imediata transferência de súditos japoneses e alemães para a capital e subseqüente distribuição para o interior do Estado, processa-se em nossa cidade com plena regularidade, esforçando-se a polícia para a perfeita execução dessa providência inédita no país e que não revela qualquer ato de punição, mas inspirada nos altos interesses de segurança nacional.
A remoção de japoneses e alemães, iniciada anteontem, continuou durante o dia de ontem, quando foram embarcados para a capital nada menos de 1549 pessoas daquelas nacionalidades, predominando, entretanto, o elemento amarelo.
Os alemães foram os primeiros a embarcar e muitos deles preferiram viajar espontaneamente e a expensas próprias.
Praticamente, não há mais alemães na cidade. E os japoneses, em número consideravelmente maior, também já foram expurgados, em sua maioria, havendo, entretanto, milhares deles residentes na larga faixa litorânea que ainda aguardam embarque nos seus centros domiciliares. Todos, porém, já foram notificados de maneira que dentro de poucas horas todo o litoral estará varrido dos súditos nipônicos.
ORDEM E DISCIPLINA
Todos os detalhes de transferência desses estrangeiros decorreram sem atropelo, em ambiente de tranqüilidade e de respeito, não se registrando qualquer incidente. Aliás, os investigadores encarregados do serviço agem ponderadamente, evitando qualquer constrangimento aos estrangeiros.
OS EMBARQUES DE ONTEM
As 10 horas de ontem, em composição especial da Inglesa, foram embarcados para a capital 775 súditos japoneses e alemães, aqueles em número extraordinariamente maior. Seus documentos de identidade são recolhidos pelas autoridades policiais encarregadas de sua custódia, recebendo-os posteriormente, depois do registro na Hospedaria de Imigração.
No período da tarde, nova composição especial conduziu para a capital 774 japoneses, fazendo-se muitos deles acompanhar de suas famílias.
O serviço de embarque decorreu em boa ordem.
QUASE TODOS QUEREM RESIDIR NA CAPITAL
A reportagem teve ocasião de abordar alguns súditos nipônicos um pouco antes do seu embarque. Mostravam-se conformados com a medida policial. Um ancião, antigo morador da Ponta da Praia, comentava, entristecido, que residia em Santos há 25 anos e durante todo esse tempo não havia se afastado da cidade. Atendeu prontamente á instrução para o embarque, conformando-se com a situação, mas receberia com angústia qualquer ordem de fixação de residência fora da capital do Estado.
Aliás, a maioria deles prefere residir em São Paulo.
VENDENDO TUDO A QUALQUER PREÇO
Colhidos de surpresa, pela medida da Ordem Política e Social, numerosos japoneses trataram de se desfazer dos seus bens. No Marapé, na Ponta da Praia, e em Santa Maria, houve verdadeira corrida para a venda de suínos, galináceos, muares, etc... Os japoneses – quase todos proprietários de chácaras – expuseram a venda quase tudo quanto possuíam. Vendiam a qualquer preço, pois não havia tempo para regateamento. Sabe-se de um deles que, para se desfazer de sua chácara em Santa Maria, vendeu três porcos, uma carroça e um muar pela quantia de mil cruzeiros. E galinhas? Essas foram vendidas a três e dois cruzeiros a cabeça.
NA HOSPEDARIA DA IMIGRAÇÃO
São Paulo, 9 (Da Sucursal) – Continuam a chegar a esta capital os súditos japoneses e alemães que residiam em Santos e na região do litoral sul e norte do Estado. Durante o dia de ontem, em dois trens especiais, chegaram ao edifício da Imigração 1549 nipônicos e alemães, aqueles em maior parte.
Após o competente registro, os estrangeiros são conduzidos aos alojamentos, onde há limpeza e conforto. A alimentação é farta e saborosa.
Há cerca de 4000 japoneses e alemães recolhidos à Imigração.
Esses estrangeiros, quando perguntados qual a cidade em que pretendem continuar suas atividades, optam impreterivelmente pela capital. Entretanto, o critério adotado parece ser dos mais justos, porquanto cada pessoa ou família é destinada a uma cidade apropriada para o desenvolvimento da profissão de seu chefe.
Os japoneses em sua maioria vieram acompanhados de suas famílias. Há muitas crianças na Hospedaria da Imigração.
Verificaram-se dois casos de moléstias: o de uma criança atacada de sarampo e de uma velhinha acometida de maleita. Os médicos providenciaram imediatamente o isolamento desses enfermos, os quais estão sendo cuidado com todo o carinho profissional.
REMESSA PARA O INTERIOR DO ESTADO
A remessa de nipônicos e alemães para o interior do Estado começou na noite de hoje. Não serão removidos para cidades onde exista quartel do Exército, sendo, porém, as demais localidades de livre escolha. As famílias que não dispõem de recursos serão encaminhadas aos prefeitos municipais e terão toda a assistência até normalizar a situação particular de cada um.
Fonte: Jornal A Tribuna - 10 de julho, 1943
Postado por Paulo Renato Alves
25 de fevereiro, 2009.
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