Se alguém duvidava da morte de Lampião e de seu grupo, esta exposição percorreu algumas cidades nordestinas.
Anunciada mais uma vez a morte de “Lampeão”.
Num choque com a polícia, no interior de Alagoas, teriam sido abatidos 11 bandoleiros.
Maceió, 28 (H) – O diretor regional dos Correios e Telegraphos teve comunicação do agente de Piranha, informando ter sido recebido naquela cidade a notícia de que em combate travado com um destacamento policial, na fazenda de “Angicos”, distante 11 km de Piranha, foram mortos 11 bandoleiros.
Lampeão foi um dos mortos, segundo a referida notícia.
Num choque com a polícia, no interior de Alagoas, teriam sido abatidos 11 bandoleiros.
Maceió, 28 (H) – O diretor regional dos Correios e Telegraphos teve comunicação do agente de Piranha, informando ter sido recebido naquela cidade a notícia de que em combate travado com um destacamento policial, na fazenda de “Angicos”, distante 11 km de Piranha, foram mortos 11 bandoleiros.
Lampeão foi um dos mortos, segundo a referida notícia.
Fonte: Jornal A Tribuna - 29 de julho, 1938.
O FIM LÓGICO DE UMA VIDA DE BANDITISMO
Virgolino Ferreira, o famigerado “Lampeão” das caatingas do nordeste, acaba de cair sob as balas da polícia alagoana. Pelo menos, é o que telegramas de Maceió afirmam categoricamente, fazendo crer que não se trata de mais um dos muitos “bleffs” , a que já estávamos periodicamente habituados, respeitantes ao desaparecimento do temeroso facínora.
“Lampeão” morreu ou apagou-se, como queiram. Viveu e brilhou mais do que devia, talando, incendiando e assassinando ao seu bel prazer. Vinte anos durou esta sinistra marca de sangue e terror do Átila do cangaço, através das vilas e povoados do “hinterland” nordestino.
Vinte anos de sanha homicida, jamais aplacada nessa sombria figura do sertanejo paranóico, que alternava o manejo do fuzil com o das contas do rosário, entrosando absurdamente atitudes místicas com arrancadas carniceiras.
A lenda consagrou-o. Surgia, inopinadamente, como um ciclone e, onde surgia,ficava o estupro, a desolação, a morte. Mas, antes que o castigo chegasse, ele e seu bando se eclipsaram por caminhos misteriosos, rumo as furnas inacessíveis zombando dos perseguidores. Era sempre assim, era fatalmente assim.
Lenda, pura lenda, afinal. Nunca houve argumento capaz de convencer homens sensatos que semelhante jogo de cabra cega pudesse durar quatro lustros inteiros. Não há acidentes topográficos, por insuperáveis que pareçam, nem astúcia e estratégia do caboclo afeito às hostilidades naturais de sua gleba, que possam resistir por tanto tempo ao cerco constringente da tropa regular.
O FIM LÓGICO DE UMA VIDA DE BANDITISMO
Virgolino Ferreira, o famigerado “Lampeão” das caatingas do nordeste, acaba de cair sob as balas da polícia alagoana. Pelo menos, é o que telegramas de Maceió afirmam categoricamente, fazendo crer que não se trata de mais um dos muitos “bleffs” , a que já estávamos periodicamente habituados, respeitantes ao desaparecimento do temeroso facínora.
“Lampeão” morreu ou apagou-se, como queiram. Viveu e brilhou mais do que devia, talando, incendiando e assassinando ao seu bel prazer. Vinte anos durou esta sinistra marca de sangue e terror do Átila do cangaço, através das vilas e povoados do “hinterland” nordestino.
Vinte anos de sanha homicida, jamais aplacada nessa sombria figura do sertanejo paranóico, que alternava o manejo do fuzil com o das contas do rosário, entrosando absurdamente atitudes místicas com arrancadas carniceiras.
A lenda consagrou-o. Surgia, inopinadamente, como um ciclone e, onde surgia,ficava o estupro, a desolação, a morte. Mas, antes que o castigo chegasse, ele e seu bando se eclipsaram por caminhos misteriosos, rumo as furnas inacessíveis zombando dos perseguidores. Era sempre assim, era fatalmente assim.
Lenda, pura lenda, afinal. Nunca houve argumento capaz de convencer homens sensatos que semelhante jogo de cabra cega pudesse durar quatro lustros inteiros. Não há acidentes topográficos, por insuperáveis que pareçam, nem astúcia e estratégia do caboclo afeito às hostilidades naturais de sua gleba, que possam resistir por tanto tempo ao cerco constringente da tropa regular.
O cometimento pode ser árduo, e não duvida que o sucesso não sorri depois de revezes e sacrifícios. Mas o esmagamento do mais fraco pelo mais forte é lei eterna. E o mais forte é o poder público. Forte pelo número, pelo ouro, pelos recursos da técnica e da ciência.
Como explicar, então, que Virgolino Ferreira, miraculosamente, durante uma vintena de anos, pudesse arrasar e trucidar, escapando incólume aos pelotões de captura tantas vezes lançadas ao seu encalço?
Segundo as crônicas, a política tal como a compreende a mentalidade do campanário, sintetizado no clássico chefete do vilarejo teria sido a santa milagreira das famosas escápulas de “Lampeão”, solicitado à princípio, para intimidações e violências, necessárias ao triunfo eleitoral e à posse do bastão de mando, ei-lo, em pouco, chefe do cangaço, agindo por conta alheia, ainda, mas também, e, principalmente, por conta própria. Servido aos politiqueiros exigia-lhes em troca, pelo terror, fidelidade, e proteção, uma verdadeira túnica de Nessus de que já não havia fugir. Daí os inúmeros golpes em falso da tropa que o perseguia, ludibriada por pistas manhosamente inculcadas, ou, quando em caminho certo, vendo escapar-se-lhe o bandido, que um aviso a tempo notificara do perigo.
Mas o 10 de novembro, que tanta coisa mudou no país, haveria de ser a condenação à morte de Virgulino. É que desde então se extinguiram os partidos políticos; e os homens que tinham neles a impunidade garantida, mandando e desmandando discricionariamente nos seus feudos, sentiram-se subitamente desamparados e insignificantes.
O temor substituiu a arrogância e a tirania. “Lampeão”, desde aí, era-lhes inútil e comprometedor, não fosse a severidade do novo regime alcançá-los quando a salvadora bandeira de misericórdia da politicagem aldeã já não é mais que uma saudosa lembrança.
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A chaga, que vergonhosamente corroia nossos foros de povo civilizado, encontrará afina, o cautério infalível. E foi o que se viu.
Abandonado a si mesmo, alheio à psicologia criada pelo Estado Novo, “Lampeão” encontrou o fim que de há muito lhe estava reservado e muito se retardará.
Nada mais de fugas rocambolescas e de retiradas estratégicas. Nada de resistência feroz de um tigre acuado no derradeiro fojo, matando e morrendo bravamente, num epílogo grandiloqüente da vida lendária.
Apenas uma toca de caça, miúda, facilmente surpreendida e ingloriamente alvejada de morte...
Fonte: Jornal A Tribuna - 30 de julho, 1938
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