quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Bela crônica de época

Santos Antiga
Biturcio

Nascido e criado em casa pequena de paredes de pau a pique, entaipadas no barro e coberta de telhas nacionaes, sem soalho e sem forro, erecta à borda do rio Peroupava, que deságua no Ribeira, em frente ao costão dos Engenhos, ali em Iguape, vindo para esta cidade aos 11 annos – em 1877 – não encontrei aqui outra coisa que me causasse espanto a não ser o facto de ver muitas casas juntas, visto que a cidade de Santos, já naquella época, era bem maior do que a de Iguape!

Pois as casas daqui constavam, na sua maior parte, de construcções antigas dos tempos coloniaes, com paredes de madeira barradas e pisos também de chão e quintaes divididos por cercas de varas – tal como lá!

As casas melhores (que orçaria em30% do total) eram também de iguaes typos (coloniaes) e inda assim muitas dellas apresentavam apenas salas de visitas e alcovas assoalhadas e forradas, sendo os demais compartimentos de chão e telha-vã!

A cidade, assim desprezada, ao léo dos tempos, era, entretanto, por um novo activo e trabalhador e principalmente digno de nota pela acolhida que sabia dispensar a todo aquelle que por aqui passasse ou viesse a estacionar, em distincção de cor, nem de nacionalidade, mas sempre a mesma fidalguia que é peculiar ao povo brasileiro!

Mas Santos que se comprimia dos armazéns da Inglesa até a Rua 7 de Setembro, e da orla dos morros da Penha, São Bento e Monte Serrate até o canal, de espraiados de lama luzidia e fétida – soffria com as suas 15.000 almas – de outros males que a tornava detestada e temível aos olhos do estrangeiro que aqui aportava fungido, tão sómente, pelo interesse de intercâmbio commercial de entreposto de São Paulo e do interior. Não fôra esse interesse dentre os quaes avultava para o Estado a exportação de café, o certo, estrangeiro algum chegaria ou se estabeleceria – tal a fama das malarias que Santos supportava periodicamente com suas maleitas, varíola e febre amarela, provindas sem dúvida das águas estagnadas, da falta de esgotos e até da falta de água!
Publicado no jornal A Tribuna em 02 de abril de 1939

Postado em 29 de outubro de 2009

Mas Santos, assim anêmica e doentia, estava fadada a ser alumiada por nova Estrella e aquecida por novos soes!...Clarins distantes vieram acordar Santos que dormia, e Santos, abrindo os olhos e fitando-os no horizonte, sentiu aflorar-lhe aos lábios um sorriso doce de esperança, na grandeza e fama do futuro!

Remédios foram applicados: água, luz, bondes, esgotos, canaes e cães (Companhia Docas) e mais uma estrada de ferro – Sorocabana!

São Paulo cresce, e Santos – sua noiva – se enfeita para o consórcio na vida do progresso! São Paulo é extenso e ondulado, e se Santos não tem por onde estender-se na órbita das construcções, nem por isso me entristecerá, por que também tem avenidas onde as ondulações do Mar avançam distancias por onde toda a grandeza transita num mesmo espírito de Fé e paz universal!

Santos é hoje feliz, por que é seqüestrada, mas... Santos é noiva de São Paulo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário